SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça da Nicarágua tirou a nacionalidade de mais 94 críticos a Daniel Ortega, estratégia que parece ser o novo padrão de tratamento do regime centro-americano para reprimir opositores. A decisão foi lida pelo magistrado do Tribunal de Apelações de Manágua, Ernesto Rodríguez, nesta quarta-feira (15).
A prática ganhou força na última quinta (9), quando 222 presos políticos foram expulsos e enviados para os EUA. Na ocasião, a Assembleia Nacional nicaraguense, dominada por apoiadores de Ortega, aprovou em um só dia uma reforma constitucional para permitir a retirada de nacionalidade de seus cidadãos ?algo até então vetado pela Carta Magna.
Eles são considerados "traidores da pátria" pelo regime, título dado àqueles que "firam os interesses supremos da nação" ou "aplaudam a imposição de sanções contra o Estado da Nicarágua", por exemplo.
Na prática, a lei que determina esses delitos é usada contra críticos do regime. Além de perder a cidadania, seus direitos políticos de concorrer em eleições e exercer cargos públicos também foram suprimidos de forma perpétua, e os réus foram considerados fugitivos. Imóveis e empresas que tenham no país ?a maioria está no exílio, especialmente na vizinha Costa Rica? serão confiscados pelo Estado.
Na lista mais recente de nicaraguenses que perderam a cidadania há figuras como defensores de direitos humanos, jornalistas independentes e escritores.
São nomes como Carlos Fernando Chamorro, jornalista e fundador do Confidencial, um dos principais jornais do país; Vilma Núñez, presidente do Centro de Direitos Humanos; Sergio Ramírez, ex-vice-presidente e vencedor do prêmio Cervantes, Wilfredo Miranda, jornalista e colaborador do El País e Arturo McFields, diplomata e ex-embaixador na Organização de Estados Americanos (OEA).
"Dou graças a Deus", afirmou McFields em um vídeo divulgado em suas redes sociais. "Isso significa que estamos fazendo uma luta ?não com ódio, mas com amor? para que a Nicarágua volte à democracia."
Na lista está também a poetisa Gioconda Belli. Nascida em Manágua, ela integrou a Frente Sandinista de Libertação Nacional, contra a ditadura de Anastasio Somoza e, em razão da militância, teve de se exilar até o movimento revolucionário tomar o poder em 1979. Com a escalada autoritária de Ortega, que também integrou a Frente Sandinista, teve de se exilar novamente, desta vez em Madri, na Espanha
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