SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio ao acirramento das ofensivas russas contra o leste da Ucrânia, líderes ocidentais defenderam o aumento do apoio militar a Kiev e o rearmamento da Europa, enquanto o presidente do país invadido há quase um ano, Volodimir Zelenski, disse que Vladimir Putin não irá parar se derrotar Kiev.

O palco do debate foi o primeiro dia da Conferência de Segurança de Munique, principal fórum de discussão mundial de segurança, que ocorre na cidade alemã desde 1963.

Em sua fala, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o Ocidente precisa se preparar para um longo confronto com a Rússia e "investir maciçamente em defesa e na indústria bélica". "A Rússia deve fracassar" para que sejam possíveis negociações de paz, disse.

Cerca de 40 chefes de Estado e de governo estão reunidos na cidade alemã, que recebe também 60 autoridades diplomáticas e políticas -não apenas alinhados à coalizão ocidental contrária aos russos, mas também aliados do Kremlin como o chanceler chinês, Wang Yi, e defensores da neutralidade pragmática, como o ministro brasileiro Mauro Vieira (Relações Exteriores).

Macron retomou o batido tema da necessidade de uma nova governança global, música para o Itamaraty, defendendo uma reforma do Conselho de Segurança da ONU e ressaltando a falta de apoio à coalizão ocidental em diversos países. "Estou muito impressionado como estamos perdendo a confiança do Sul Global", disse, usando o jargão para países como Índia e Brasil.

O tom geral, contudo, é de defesa da unidade em torno de Kiev. Falando por vídeo no início do evento, Zelenski, repassou sua retórica de pedir mais apoio militar, sob pena da degradação da segurança europeia como um todo. "É óbvio que a Ucrânia não será sua última parada [de Putin]. Ele continuará seu movimento, incluindo todos os outros Estados que um dia foram parte do bloco soviético", afirmou.

Desde que Putin enunciou na mesma conferência em 2007 as bases de sua crítica à hegemonia americana no pós-Guerra, ele promoveu dois conflitos para evitar a absorção de países ex-soviéticos pela Otan (aliança militar ocidental), a Geórgia em 2008 e a Ucrânia, de 2014 até a invasão de 2022.

Mas a fala de Zelenski se dirigia aos nervosos membros do Leste Europeu da aliança, Polônia e Estados Bálticos. "Não deve haver tabu", disse, sobre a entrega ocidental de armas, de olho no cumprimento da promessa de entrega ocidental de tanques de guerra e sonhando com caças avançados -hoje ainda vistos como uma provocação excessiva aos russos, por serem armas potencialmente ofensivas.

O ucraniano comparou seu país ao Davi bíblico, enfrentado o poderoso Golias com uma funda. "Precisamos reforçar nossa funda, precisamos de rapidez de decisões para limitar o potencial russo", afirmou.

A guerra irá completar um ano no dia 24, com um incremento dos ataques russos no Donbass (leste russófono) e a sequência de ataques à infraestrutura energética ucraniana com mísseis.

Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://arte.folha.uol.com.br/mundo/2023/01/25/tanques-eua-alemanha-enviados-para-ucrania/ ***

Em seu discurso, o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, pediu que "quem puder, forneça rapidamente" os tanques de fabricação germânica Leopard-2 --ele mesmo prometeu fornecer ao menos 14 unidades e Berlim já está treinando 1.200 ucranianos a operá-los, mas os números são tímidos e o processo, lento.

Scholz reforçou justamente o tabu citado por Zelenski, dizendo que a Alemanha seguirá sendo a maior apoiadora de Kiev, mas que quer evitar o risco de uma "escalada desnecessária" entre Otan e Rússia. Em outras palavras, uma Terceira Guerra Mundial.

O pedido de Macron por mais gasto militar, algo já apontado por 20 nações europeias desde o início da guerra, é visto em Moscou como prova do envolvimento do Ocidente numa guerra por procuração contra a Rússia. A conferência vai até domingo (19), e no sábado (17) falarão a vice-presidente americana, Kamala Harris, o premiê britânico, Rishi Sunak, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o chanceler Wang, entre outros.

Obviamente não convidado ao evento, Putin reuniu-se com um dos únicos aliados que tem publicamente, o ditador belarusso Aleksandr Lukachenko, que na véspera havia dito que só participaria ativamente da guerra se fosse atacado. Belarus é base para forças russas, e Zelenski afirmou no discurso que considera baixa a chance de o país entrar no conflito.


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