SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após cair em uma elaborada armadilha das autoridades, um ex-guarda britânico que trabalhava na embaixada do Reino Unido em Berlim foi condenado a 13 anos e dois meses de prisão nesta sexta-feira (17) por espionar para a Rússia.
O escocês David Ballantyne Smith, 58, trabalhou por cinco anos na embaixada e coletou informações confidenciais por mais de três deles, segundo a Justiça britânica -incluindo um documento com nomes, endereços e números de telefone dos funcionários da delegação britânica e uma carta de ministros para o então premiê Boris Johnson.
O juiz Mark Wall disse que Smith colocou seus colegas "em risco máximo" e agiu por suas opiniões anti-britânicas e pró-russas. "Estou certo de que você cometeu esses crimes com a intenção de ajudar a Rússia. Seu motivo para ajudá-los foi prejudicar os interesses britânicos", disse Wall.
O ex-guarda se declarou culpado de oito acusações de ações entre 2020 e 2021, mas alega que não quis causar nenhum dano intencionalmente. Ele disse ao tribunal que tinha vergonha do que havia feito e que filmou documentos depois de beber sete litros de cerveja. O juiz disse que suas "atividades subversivas" começaram dois anos antes e que rejeita insinuações de que ele estaria arrependido. "Seus arrependimentos não passam de autopiedade", afirmou.
Ele deve cumprir efetivamente metade da sentença, se optar por ficar no Reino Unido, ou dois terços, se quiser ir para a Alemanha.
Smith foi pego após uma carta sua ao militar russo Sergey Chukhrov ser interceptada por uma investigação conjunta entre as autoridades britânicas e alemãs. Para confirmar a suspeita, um oficial do serviço de inteligência britânico se passou por Dmitry, um cidadão russo que prestava assistência ao Reino Unido e o levou documentos, em uma encenação. Smith caiu na armadilha e fotografou os papéis e o imagens do circuito interno de segurança da embaixada.
Em seguida, ele foi abordado por Irina, outra personagem da equipe de investigação. Ela foi convocada para mostrar fotos de pessoas que, desconfiava, eram suspeitas de espionagem na embaixada russa. "Vou conversar com alguém e, assim que essa pessoa confirmar, volto a falar com você. Não confio nos desgraçados para quem trabalho. Você confiaria no MI5 (serviço de inteligência britânico)? Até onde sei, você pode estar trabalhando para eles", afirmou.
A frase, segundo o juiz, faz referência a alguém na embaixada russa, com quem ele verificaria se Irina existia -isso, diz Wall, seria uma evidência de que Smith tinha contato contínuo lá. Um dia depois do encontro com a agente disfarçada, ele foi preso.
Segundo o jornal britânico The Guardian, a polícia alemã descobriu que havia uma caricatura do presidente Vladimir Putin dentro de seu armário na embaixada. No desenho, o mandatário segura o pescoço da ex-premiê Angela Merkel, que veste um uniforme nazista. Na caricatura se lê a frase: "Rússia, por favor, liberte-nos mais uma vez".
Smith não sacava dinheiro de sua conta corrente desde 2021, e durante busca e apreensão na sua casa foram encontrados 800 euros, de acordo com o The Guardian. Embora não haja documentação que comprove a quantia que ele teria recebido, o juiz afirmou que houve pagamento pela espionagem. "Considero esses pagamentos um fator significativo para agravar a culpa por suas ações."
Seus advogados negam que ele tenha recebido dinheiro e dizem que seu objetivo era apenas causar constrangimento à embaixada, por não se sentir bem tratado.
Nick Price, chefe da Divisão Especial de Crimes do Reino Unido, disse que Smith foi motivado por "ganância e ódio" ao Reino Unido. "Esse ódio era palpável e o levou a se envolver em um comportamento realmente desprezível", disse.
O ministro da Segurança, Tom Tugendhat, descreveu Smith como um traidor. "Ele traiu a todos nós e colocou nossa embaixada e nosso país em risco", afirmou no Twitter. "Sou grato ao MI5 e seus incríveis oficiais, à polícia e aos nossos parceiros alemães."
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