SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma operação militar de Israel no norte da Cisjordânia ocupada deixou pelo menos dez palestinos mortos nesta quarta-feira (22) em Nablus, de acordo com o Ministério de Saúde palestino. As vítimas tinham entre 14 e 72 anos, e há ainda mais de cem feridos, seis dos quais em estado grave.

O episódio é mais um na crise regional que se acirra desde o começo do ano. Em janeiro, sete pessoas foram assassinadas em frente a uma sinagoga em Jerusalém, ataque ocorrido depois de dez palestinos serem mortos em uma ação do Exército de Israel em Jenin, também na Cisjordânia.

O jornalista Mohammed Al Khatib, da Palestine TV, está entre os feridos, segundo um repórter do canal. Nenhum militar israelense se feriu.

Após a operação, a polícia de Israel disse que elevaria o nível de alerta para ataques, antecipando uma eventual resposta às mortes. A prevenção inclui aumentar a proteção na Cisjordânia, em Jerusalém e em cidades centrais.

Israel afirmou que a operação ?a mais sangrenta na Cisjordânia ao menos desde 2005, de acordo com levantamento da agência de notícias AFP? foi uma reação de suas tropas ao serem atacadas enquanto tentavam deter suspeitos de planejar ataques. Em entrevista coletiva, um alto oficial militar israelense disse que a operação durou cerca de quatro horas e as tropas enfrentaram fogo pesado vindo de telhados e homens armados em motos.

Um jornalista da AFP viu soldados israelenses lançando bombas de gás lacrimogêneo no centro de Nablus na direção de jovens palestinos que atiravam pedras contra blindados e queimavam pneus.

Segundo o jornal Times of Israel, o confronto se deu após tropas israelenses cercarem uma casa em que estavam três membros do grupo terrorista Lion's Den, o que atraiu outros homens armados. No confronto, o Exército disparou um míssil contra a construção, e o embate se expandiu para outras partes da cidade.

Um dos suspeitos, segundo os militares, teria participado do ataque a tiros que matou o sargento Ido Baruch em outubro. Outro suspeito pertenceria à Jihad Islâmica ?grupo que concordou em agosto com a interrupção de ataques que atingiam a Faixa de Gaza. À época, um porta-voz da facção afirmou que o compromisso envolveria a libertação de duas lideranças do grupo: Bassam Saad e Khalil Awaedeh.

Nos últimos meses, tropas israelenses ampliaram ações apresentadas como "antiterroristas" para procurar suspeitos no norte do território ?em particular em Jenin e Nablus, redutos de grupos armados. A última grande operação israelense em Nablus havia sido em outubro, quando cinco palestinos morreram.

Desde o início do ano, o conflito palestino-israelense matou mais de 50 palestinos, além de nove israelenses, de acordo com um balanço da AFP com base em fontes oficiais de ambos os lados. No ano passado, 171 palestinos foram mortos, segundo o Times of Israel.

Em dezembro o israelense Binyamin Netanyahu voltou ao poder na maior guinada à direita da história do país, com uma aliança que conta com partidos ultranacionalistas e membros de extrema direita. O premiê prometeu expandir colônias judaicas na Cisjordânia ocupada, em meio ao impasse de quase uma década nas negociações para a criação de um Estado palestino. Do outro lado, o Hamas e o Jihad Islâmica, que se negam a reconhecer a existência de Israel, vêm ganhando apoio.

"É urgente impedir mais violência", disse na segunda Tor Wennesland, mediador da ONU para o Oriente Médio. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, criticou as forças israelenses. "Condenamos a operação e pedimos o fim dos ataques contra nosso povo."

O Hamas, facção que controla a Faixa de Gaza, insinuou possíveis represálias. "A resistência em Gaza está monitorando a escalada de crimes cometidos pelo inimigo contra o nosso povo na Cisjordânia ocupada e está ficando sem paciência", disse Abu Ubaida, porta-voz do braço armado do grupo, no app Telegram.

Em um comunicado, a Arábia Saudita criticou o ataque, e o Ministério das Relações Exteriores do Egito, frequente intermediário entre Israel e Hamas, expressou "extrema preocupação" com a escalada. O conflito, afirma a pasta, pode "minar os esforços para alcançar a calma entre palestinos e israelenses".

Após a operação, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, exigiu o fim dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados e condenou ataques de organizações terroristas. "Qualquer atividade de assentamento é ilegal, segundo o direito internacional. Deve acabar", afirmou ele em um comitê da ONU. "A incitação à violência é um beco sem saída. Nada justifica o terrorismo."


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