BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em uma operação sigilosa realizada entre o final de 2022 e as primeiras semanas deste ano, a Polícia Federal (PF) transferiu Serguei Vladimirovitch Tcherkasov, apontado pelo governo da Holanda como um espião russo, para a Penitenciária Federal de Brasília, presídio de segurança máxima na capital.

Ele foi preso em abril passado, ao desembarcar no Brasil após tentar se infiltrar no TPI (Tribunal Penal Internacional), em Haia. Ele se passava por Victor Muller Ferreira e utilizava documentos brasileiros falsos.

A transferência foi feita após a embaixada da Rússia no Brasil pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal), em agosto, a extradição de Tcherkasov. Antes, ele estava detido na carceragem da PF em São Paulo.

O suposto espião, segundo informações amealhadas em investigações no Brasil e no exterior, seria um integrante do GRU, unidade de inteligência militar da Defesa russa, e estaria no país de forma ilegal.

Em geral, esses agentes são recrutados ainda jovens, treinados e enviados a diferentes nações para coletar informações para Moscou. No Brasil, Tcherkasov já foi condenado a 15 anos de prisão pela Justiça Federal em São Paulo por uso de documento falso. Ele ainda é investigado num inquérito por espionagem.

apuração ainda está em andamento e pretende revelar como teria ocorrido a atuação do suspeito no Brasil. Nesse caso, a PF quer descobrir se ele espionou algum cidadão, autoridade ou instituição brasileira ou se o país era apenas sua base para atuar em favor do governo russo em outras localidades.

Para tal, a PF tem analisado o material apreendido com ele e em locais que serviriam para recebimento e entrega de informações. Outras frentes de investigação se dão em torno da forma como o suposto espião se mantinha no país e da origem do dinheiro utilizado por ele. Nessa seara, o objetivo é descobrir se os russos se valeram de transações financeiras disfarçadas para bancá-lo.

A PF tem tratado o caso com sigilo, uma vez que informações coletadas apontam para o envolvimento de Tcherkasov em missões sensíveis para os russos. As suspeitas dos policiais aumentaram após a embaixada da Rússia pedir sua extradição e foram reforçadas depois de o próprio suspeito declarar em audiência na Justiça, em novembro, o interesse de retornar ao seu país de origem.

O pedido acendeu de vez o alerta da polícia porque a Rússia afirma que Tcherkasov é acusado no país de traficar drogas. Lá, esse tipo de crime tem punição mais severa que no Brasil.

Quando a Holanda deportou o russo para o Brasil, foram divulgadas informações apresentadas por ele para sustentar a tese de que era brasileiro. À época, disse ter sido abandonado pelo pai e criado pela mãe.

Também afirmou ter passado por uma crise financeira em 2001, o que teria agravado a situação de sua suposta família. Sobre o Brasil, Tcherkasov disse se lembrar da ponte Presidente Costa e Silva, conhecida como Rio-Niterói. O local teria feito com que ele desenvolvesse uma aversão ao cheiro de peixe. Declarou ainda ter obtido um bacharelado em ciências humanas e cogitado trabalhar como jornalista.

"Se o oficial de inteligência tivesse tido êxito e obtido acesso como estagiário no TPI [Tribunal Penal Internacional], ele teria sido capaz de reunir informações e procurar (ou recrutar) fontes; além de trabalhar para ter acesso aos sistemas digitais do TPI", diz um trecho do comunicado do governo holandês.

"Assim, ele teria meios de dar uma significativa contribuição à inteligência que o GRU está buscando. Ele também poderia ser capaz de influenciar processos criminais do TPI."

A agência da Holanda também destaca que, por se apresentarem como estrangeiros, esses agentes têm acesso a dados que seriam inacessíveis a cidadãos russos. Segundo a PF, Tcherkasov entrou no Brasil em 2010 e assumiu a falsa identidade de brasileiro, com a qual viveu por anos na Irlanda e nos EUA.


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