SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo opositor da ditadura de Belarus atacou com drones uma base aérea usada por forças russas perto de Minsk, capital do país aliado de Moscou. Os ativistas dizem ter destruído um avião-radar, o que se confirmado terá sido a maior perda da Força Aérea de Vladimir Putin na Guerra da Ucrânia.

Segundo a Bypol, a organização guerrilheira em questão, foi danificado de forma irreversível "1 dos 9 aviões de alerta aéreo antecipado e controle da Rússia, que custa US$ 330 milhões (R$ 1,7 bilhão)".

Trata-se do modelo Beriev A-50, do qual Moscou dispõe na realidade de dez, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres). De todo modo, é o maior e mais caro avião russo destruído na guerra, caso o relato esteja correto.

O A-50 funciona como posto de comando aéreo, orientando outras aeronaves e detectando alvos a até 650 km de distância. É uma peça central para operações coordenadas e, se foi destruído, é uma perda simbólica ainda maior do que a do cruzador Moskva, afundado pelos ucranianos em 2022 -até porque o navio não era central para o esforço de guerra como esses aviões são.

Segundo blogueiros militares russos e um analista ouvido pela Folha, tudo indica que o A-50 foi no mínimo avariado. Mas as Forças Armadas russas ainda não se manifestaram sobre o episódio, que deverá gerar ainda mais pressão sobre o governo de Belarus.

Em 2020, mais uma eleição fraudada em favor do ditador Aleksandr Lukachenko levou a uma série inédita de protestos, que foram abafados com uma repressão dura e o apoio de Putin, que desde os anos 2000 namora a ideia de fundir Belarus à Rússia -ambos os países participam de uma entidade vaga chamado Estado da União.

O líder local, no poder desde 1994, sempre buscou ambiguidade na relação para manter independência, mas desde as revoltas sua relação com o Kremlin tornou-se mais submissa. Ele não participou, contudo, da invasão da vizinha Ucrânia, que completou um ano na sexta (24).

Lukachenko, contudo, cedeu seu território para a Rússia operar. O cerco fracassado a Kiev partiu de solo belarusso. Sistemas antiaéreos e aeronaves também ficam baseados lá, e desde a virada do ano há um temor constante entre ucranianos de que a ditadura enfim entre no conflito.

O ataque deste domingo (26) à noite se encaixa nesse contexto. "Foram drones. Os participantes dessa operação são belarussos, [obtiveram] vitória e agora estão a salvo fora do país", afirmou o comunicado do Bypol. "A parte frontal e a seção central do avião foram danificados, assim como a sua antena de radar. Ele não vai voar a lugar algum."

"Guerrilheiros confirmaram uma bem-sucedida operação especial para explodir um avião russo raro no aeródromo de Matchulischi, perto de Minsk", tuitou Franak Viacorda, o principal assessor da líder oposicionista Svetlana Tsikhanovsakia, derrotada na eleição fraudulenta de 2020, hoje exilada na Lituânia.

Em Moscou, o Kremlin não comentou o caso. Seu porta-voz, Dmitri Peskov, falou sobre o plano chinês de paz, apresentado na sexta.

"Estamos dando bastante atenção ao plano de nossos amigos chineses. Naturalmente, os detalhes têm de ser analisados meticulosamente, levando em conta os interesses de todos os lados. Esse é um processo muito longo e intenso", afirmou.

Em outra palavras, Peskov acenou aos aliados em Pequim, mas apontou a inviabilidade atual da proposta chinesa -que pede o fim das hostilidades, o respeito às fronteiras reconhecidas, embora não fale em retirada russa, e a cessação do regime de sanções ocidentais contra Moscou.

Nenhuma das partes se deu por satisfeita. Os EUA criticaram a ideia, a Otan (aliança militar ocidental liderada por Washington) disse que a China não era confiável por ter lado na disputa e a Ucrânia agradeceu, mas disse que apenas "partes" do plano (as que lhe interessam) eram exequíveis.

Rivais geopolíticos da China, os EUA têm divulgado desde a semana passada que Pequim estaria prestes a enviar armas para a Rússia, como munição e drones. O governo chinês diz que isso é mentira, e o debate irá dominar a reunião de chanceleres do G20 (grupo das 20 principais economias do mundo) em Nova Déli, na Índia, a partir de quarta (1º).

Nesta segunda, a chancelaria chinesa disse novamente que seu objetivo é promover a paz no conflito europeu, e que sanções aplicadas a firmas do país asiático devido a ligações com o grupo mercenário russo Wagner são injustificáveis.


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