SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de mortes causadas pelo naufrágio de um navio de migrantes perto de Crotone, no sudoeste da Itália, subiu a 63 nesta segunda-feira (27) ?um dia depois que a embarcação, superlotada, colidiu com rochas próximas à costa durante uma tempestade na região da Calábria.

Autoridades dizem que cerca de 80 pessoas sobreviveram ao desastre, e ao menos 30 seguem desaparecidas, levando em conta o número aproximado de passageiros que embarcaram no navio quando ele partiu de Izmir, na Turquia, na semana passada, oriundos de Afeganistão, Irã, Paquistão e Síria.

A polícia italiana deteve três pessoas e as acusou de traficar migrantes sem documentos. Um quarto suspeito segue foragido. A tragédia ocorre dias após o Parlamento italiano aprovar leis que limitam resgates feitos por organizações humanitárias no mar. De acordo com as novas regras, apoiadas pelo governo de ultradireita da primeira-ministra Giorgia Meloni, navios humanitários podem fazer apenas um resgate por saída e estão sujeitos a multas de até ? 50 mil (R$ 259 mil) caso desobedeçam as medidas.

Críticos afirmam que a nova legislação aumenta o risco de mortes dos migrantes, uma vez que essas embarcações humanitárias costumavam navegar por dias a fio, concluindo vários resgates em seu curso.

Para representantes da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF), em declaração nesta segunda, a tragédia em Crotone foi uma consequência direta das novas leis. O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, retrucou afirmando que "o desespero nunca deveria justificar condições de viagem que põem em risco vidas de crianças". Ele fazia referência ao fato de que muitos dos passageiros da embarcação eram menores de idade ?14 crianças morreram, incluindo um recém-nascido, e várias outras continuam desaparecidas.

Aquelas que sobreviveram, mas perderam os pais, tiveram suas guardas assumidas por ONGs como a Save the Children ou a própria MSF. Sergio di Dato, coordenador dos psicólogos da organização enviados ao local, citou um afegão de 12 anos que perdeu nove parentes, incluindo a mãe, o pai e os quatro irmãos.

As buscas continuavam no dia seguinte à tragédia, com bombeiros da cidade vizinha de Cutro juntos a policiais de Crotone. Enquanto isso, dezenas de caixões aguardavam corpos em um ginásio esportivo do povoado. Moradores do local deixaram flores e velas na grade do ginásio em homenagem às vítimas.

A declaração de Piantedosi, alçada a destaque de várias reportagens na imprensa italiana, ecoava uma fala de Meloni na véspera. Na ocasião, ela afirmou que era "desumano trocar a vida de homens, mulheres e crianças pelo preço de uma passagem paga com a falsa perspectiva de uma viagem segura". O combate à migração irregular foi uma das bandeiras da coalizão à direita que a levou ao poder.

Nesta segunda, Meloni enviou uma carta aos líderes da União Europeia pedindo ação imediata do bloco para interromper as viagens irregulares de barcos ao continente.

A Itália é uma grande porta de entrada da Europa para requerentes de asilo que vêm do norte da África ?mais de cem mil pessoas chegaram ao território de barco em 2022. O país se queixa, porém, que outros membros da União Europeia não dividem a responsabilidade de acolher esses indivíduos, mesmo que boa parte deles não permaneça na península e tente chegar a nações mais ricas por meio de contrabandistas.

Em novembro, a recusa da Itália em receber um navio com imigrantes a bordo provocou uma rusga diplomática com a França, porque a embarcação, que levava mais de 200 pessoas resgatadas por uma ONG, acabou rumando para o porto militar de Toulon depois de ficar dias à deriva na costa italiana. A atitude de Roma foi classificada de "egoísta" e "incompreensível" por Paris. De acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM), braço da ONU para o tema, mais de 20 mil migrantes morreram ou desapareceram no Mediterrâneo central desde 2014.


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