SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto as tropas de Vladimir Putin provocam o que o Exército ucraniano chamou de "situação extremamente tensa" no leste do país, alarmes falsos e uma série de ataques com drones levaram o gosto da guerra para o território russo nesta terça (28).

Em uma ação de escopo inédito, hackers invadiram servidores de rádios e TVs de cerca de uma dúzia de cidades e divulgaram uma mensagem de ataque com míssil iminente pela manhã (madrugada no Brasil).

"Atenção, atenção. Um alerta aéreo foi emitido. Todos devem ir a abrigos agora. Atenção, atenção. Ameaça de míssil", dizia uma voz feminina com sirenes ao fundo em diversos vídeos captados nas redes sociais -em locais diversos, como a Crimeia e Ufa, nos Urais.

Na península anexada da Ucrânia em 2014, uma TV regional mostrou o símbolo de um homem correndo e a mensagem "Todos para o abrigo agora". Não houve registro de pânico, contudo.

Segundo a mídia estatal russa, os ucranianos são os culpados. O coletivo de hackers Anonymous reivindicou a autoria do ataque em nome do país invadido, mas há poucos detalhes sobre como foi atingido tal nível de sofisticação.

Já na vida real, houve uma interrupção do tráfego aéreo pela manhã em um raio de 200 km em torno do aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo. A agência de notícias RIA-Novosti, citando uma fonte anônima, afirmou que o motivo foi o avistamento de um objeto não identificado, talvez um drone, e que caças foram enviados para tentar elucidar o caso -sem sucesso.

Mais tarde, o Ministério da Defesa afirmou que tudo não passou de um exercício de defesa aérea coordenado com a agência civil de aviação do país. Mesmo que essa versão seja verdadeira, causou espanto tal medida drástica ser tomada sem aviso prévio aos passageiros.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin foi informado sobre a disrupção sobre São Petersburgo, cidade natal e berço político do presidente. A interrupção durou uma hora e acabou por volta das 12h (6h em Brasília), com diversos voos tendo dado meia-volta segundo sites de monitoramento aéreo.

O episódio, que ecoa a recente crise dos óvnis devido à interceptação de um balão chinês sobre os Estados Unidos, coloca em perspectiva a percepção russa da guerra. O Kremlin busca de todas as maneiras, na mídia estatal que controla, pintar um quadro controlado de uma "operação militar especial".

Nas ruas de Moscou, há pouquíssimos sinais do conflito a cerca de 500 km dali. Um isolado Z, símbolo da invasão que completou um ano na sexta (24), na frente do parque Górki, alguns cartazes de rua homenageando os soldados mortos -"heróis da Rússia".

Houve, de todo modo, ataques em território russo desde o começo da guerra. Belgorodo é uma região que registra explosões ocasionais e bases aéreas bastante distantes das fronteiras ucranianas foram atingidas por drones de longo alcance de origem soviética.

Foi novamente o caso nesta terça. Um depósito de combustível em Tuapse, a distantes 700 km da Ucrânia, foi atingido segundo as autoridades locais por drones. O incêndio continuava ao longo do dia. Não está clara a natureza do ataque, que não foi reivindicado por ninguém -nunca é possível descartar a ação de infiltrados dentro da Rússia ou de opositores do governo.

Segundo a RIA-Novosti, houve também dois ataques com drones frustrados nas regiões de Krasnodar e Adiguésia, mas não está claro se estão relacionados com o incidente em Tuapse, que fica no primeiro território. A agência também citou a queda de um aparelho do tipo perto da rede de distribuição de gás em Kolomna, meros 110 km a sudeste de Moscou.

Na noite de domingo (26), na ditadura aliada de Belarus, guerrilheiros contrários ao governo local e à Rússia atacaram uma base aérea e, segundo relatos que não foram negados pelo Kremlin, danificaram ou destruíram 1 dos 10 aviões-radar usados por Moscou.


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