SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo opositor da ditadura de Belarus e da Rússia passou a segunda-feira (27) celebrando nas redes sociais a destruição ou incapacitação do mais valioso avião russo a ser atingido no contexto da Guerra da Ucrânia. Aparentemente, não foi bem assim.
Em mais uma evidência do grau de desinformação de lado a lado no conflito, a análise de uma imagem de satélite da empresa americana Planet Labs, feita pelo site The War Zone, mostra o Beriev A-50 baseado em Matchulischi (Belarus) numa posição semelhante àquela registrada em fotografias anteriores da base próxima de Minsk.
A aeronave não tem sinais aparentes de dano, o que foi confirmado em uma imagem posterior divulgada pela empresa americana Maxar. Isso não significa que o ataque não ocorreu, claro, mas sugere que se ele aconteceu, não provocou estrago na proporção que havia sido divulgada.
A ação havia sido divulgada pelo grupo Bipol, grupo que recorre a ações guerrilheiras e sabotagem contra a ditadura de Aleksandr Lukachenko, aliado próximo de Vladimir Putin. O principal assessor político de Svetlana Tikhanovskaia, líder oposicionista belarussa no exílio, havia confirmado a informação.
As imagens foram registradas na manhã desta terça (28), dois dias depois do suposto ataque com drones. Nenhum dos danos relatados, às seções frontal e central da aeronave e a seu disco de antena giratório, é visível.
Blogueiros militares russos acreditavam que o ataque era real, e um analista militar havia dito à reportagem o mesmo. Procurado novamente, ele afirma que não há registro de que outro dos A-50 russos tenha sido levado para Belarus, levantando a hipótese de que a ação tenha fracassado.
Outro indício de que o ataque no mínimo foi malsucedido é que haveria destroços ou sinais de explosão na pista. Por outro lado, a Rússia simplesmente não comentou o caso, deixando apenas um vice-ministro belarusso dizer que "tudo indica que é mentira".
O avião é central para as operações aéreas na Ucrânia, dando uma cobertura com raio de 650 km para identificação de alvos no ar e de 350 km para aqueles em terra, coordenando outros aparelhos de combate. A Rússia só tem dez desses modelos operacionais.
Uma explicação possível para a eventual fake news é o fato de ela foi divulgada na véspera da viagem de Lukachenko à China, maior aliado de Putin. Ele chegou nesta terça à noite (manhã no Brasil) a Pequim, e irá encontrar-se com o líder Xi Jinping. Belarus abriu seu território para forças militares russas operarem contra a Ucrânia, mas não participa diretamente da guerra.
A visita é um modo direto de a China dizer aos EUA, seu principal rival geopolítico, que não irá ceder à pressão recente. Autoridades americanas têm insistido em que Pequim está prestes a participar ativamente do conflito fornecendo armas para Moscou, da mesma forma como o Ocidente municia Kiev.
Os chineses negam isso e afirmam apenas querer mediar a paz, tendo apresentado um plano genérico para tanto na semana passada, quando a guerra completou um ano.
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