LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - A ultradireita de Portugal promete receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que fará uma viagem oficial a Lisboa em abril, com a "maior manifestação de repúdio à visita de um chefe de Estado estrangeiro" que o país já viu.
A afirmação é do líder do partido Chega, terceira maior força do Parlamento português, que convocou uma entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (28) para anunciar a ação.
Embora tenha afirmado contar com o apoio de vários "dirigentes, membros de associações, empresários, advogados, clérigos e fiéis de vários distritos do país", André Ventura não apresentou concretamente o nome de nenhuma entidade ou personalidade brasileira que esteja endossando os protestos.
"Estamos a falar com membros dessas associações, mas não vamos pedir o apoio formal delas", disse o deputado, que afirmou buscar o suporte dos membros dessas entidades em caráter individual. Ventura ressaltou, porém, que conta com a adesão de igrejas evangélicas, onde o partido tem forte representação.
O líder do Chega afirma ainda que o partido irá "promover, divulgar, organizar, transportar e fazer tudo o que estiver ao alcance" para garantir que o protesto conta Lula seja de grandes proporções. Citando as acusações de corrupção e o período de prisão do presidente brasileiro, Ventura afirmou que a presença de Lula não contribui para a democracia portuguesa.
Marcada para acontecer de 22 a 25 de abril, a viagem começou a reverberar na política interna lusitana após o anúncio de que o petista discursaria no Parlamento durante a cerimônia de aniversário da Revolução dos Cravos, que marca o fim da ditadura no país europeu.
A informação foi adiantada pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, em visita a Brasília na semana passada. Líderes parlamentares disseram que não foram consultados sobre o convite e acusaram o governo do premiê António Costa de interferência entre os Poderes.
Enquanto partidos de esquerda afirmaram apoiar a participação de Lula nas celebrações, uma das mais importantes do calendário político luso, as legendas de direita mostraram contrariedade. Líder da Iniciativa Liberal, o deputado Rui Rocha afirmou que seu partido pode abandonar a tribuna caso o discurso do petista de fato aconteça.
Ventura, por outro lado, diz que seu partido não vai deixar o plenário. "Nós não fugiremos nesse dia. Nós não sairemos para deixar Lula entrar." O ultradireitista sinalizou, no entanto, que os 12 deputados do Chega poderiam agir para constranger o petista caso o discurso aconteça durante a sessão solene das comemorações do 25 de abril. "Não seremos agradáveis nem corteses", disse.
Se a intervenção de Lula for em outra data, as manifestações no Parlamento serão menos enfáticas, mas as ações de repúdio serão mantidas, diz Ventura.
Lula teve vitória expressiva em Portugal nos dois turnos das últimas eleições. O petista levou a melhor sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em todos os três locais de votação no país: Lisboa, Porto e Faro.
Uma das mais antigas associações de apoio à comunidade brasileira em Portugal, a Casa do Brasil em Lisboa repudiou os protestos convocados pela ultradireita. "A Casa do Brasil reconhece que partidos de extrema direita elegem como inimigos principalmente as pessoas imigrantes", afirmou a instituição em comunicado. "Esse ato deplorável não representa a comunidade brasileira, que defende em Portugal a luta pela democracia. As associações e entidades representativas dos imigrantes não estarão nessa ação."
Oficialmente, a visita de Lula é um convite feito por seu homólogo português, Marcelo Rebelo Sousa, que divulgou a realização da viagem em janeiro, quando estava em Brasília para a posse do brasileiro. Em setembro, o líder luso discursou no Senado nas comemorações do bicentenário da Independência.
Além das comemorações da Revolução dos Cravos, a concorrida agenda do petista prevê a participação na Cimeira Luso-Brasileira, cúpula que não acontece desde 2016, e na cerimônia de entrega do prêmio Camões a Chico Buarque. Premiado em 2019, o artista sofreu uma espécie de boicote de Bolsonaro, que se recusou a assinar o diploma da láurea, concedida em conjunto pelos governos do Brasil e de Portugal.
Será também a segunda visita de Lula ao país em um período de seis meses. Ele esteve em Portugal em novembro, pouco após as eleições, em uma escala na volta da COP27, no Egito. Em sua passagem de 24 horas por Lisboa, o brasileiro foi recebido tanto pelo premiê quanto pelo Presidente da República. Na ocasião, grupos bolsonaristas chegaram a convocar manifestações, mas as ações tiveram pouca adesão.
Brasília e Lisboa falam em retomar as relações, após um período de distanciamento durante o governo de Jair Bolsonaro, que não fez nenhuma visita oficial ao país europeu enquanto esteve na Presidência.
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