SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em mais um incidente envolvendo aviões da Rússia e dos Estados Unidos em meio às tensões da Guerra da Ucrânia, um caça russo Sukhoi Su-35S interceptou dois bombardeiros estratégicos B-52H americanos a cerca de 60 km do espaço aéreo do país de Vladimir Putin.

Esse tipo de interceptação de lado a lado é comum, em especial com o congestionamento do espaço aéreo sobre as fronteiras europeias desde que Moscou invadiu o país vizinho, em fevereiro de 2022, mas o momento é sensível.

Na semana passada, contudo, as coisas saíram de controle quando dois caças Su-27 russos derrubaram um drone MQ-9 Reaper após o que parece ter sido um choque após uma abordagem agressiva sobre o mar Negro, perto da Ucrânia.

Nesta segunda (20), enquanto o líder chinês Xi Jinping visitava Putin em Moscou, não foi tão sério. Os dois B-52 vinham "em direção à fronteira de Estado da Federação Russa sobre o mar Báltico", disse o Ministério da Defesa russo. O caça Su-35 foi acionado e tomou posição defensiva, levando os adversários a deixar a área, segundo o relato.

Mas o caso tem particularidades relevantes, em especial em meio à crise atual. Os B-52 chegaram, segundo sites de monitoramento de voos, a cerca de 60 km da fronteira russa. Usualmente, na sensível região do Báltico, os bombardeiros americanos não são tão agressivos, o que leva a crer que estavam testando a rapidez de reação russa naquilo poderia ser a simulação de um ataque.

E aí entra o detalhe não desprezível de que os B-52 são aviões empregados pelos americanos para ataques maciços com mísseis de cruzeiro com capacidade de emprego de armas nucleares. Cada um, quando o modelo usado é capacitado para tal, pode levar até 20 desses armamentos.

Os aparelhos fazem parte da primeira rotação do ano na Europa da chamada Força-Tarefa de Bombardeiros, somando quatro B-52 na base aérea de Morón, no sul da Espanha, aliada americana na Otan. Desde o dia 24 de fevereiro, eles estão operando diversas missões por semana, simulando aquisição de alvos em solo e ataques diretos.

Na semana passada, eles já haviam se aproximado pela mesma região na Estônia, sem provocar o alerta de caças russos. Nesta segunda, uma imagem coletada pelo pesquisador Hans Kristensen, da Federação dos Cientistas Americanos, mostrou uma aproximação feita também pelo território estoniano, onde os Sukhoi não podem entrar sem provocar uma crise.

"Eu me pergunto se a Casa Branca tem de aprovar voos tão perto [da Rússia] ou se eles são considerados rotina agora", escreveu o especialista no Twitter.

O acompanhamento dos voos dos B-52 já os mostrou voando perto do Ártico e sobre a Bulgária nessas semanas, exemplos de que os EUA estão simulando diversos cenários de ataque nesta visita à Europa. São missões que, com reabastecimento aéreo, duram até mais de 12 horas.

Nenhum dos aviões transporta armas nucleares, nem há esse tipo de arma na Espanha --no continente, cerca de cem ogivas táticas americanas, para uso contra alvos militares, ficam em bases na Alemanha, Turquia, Itália, Bélgica e Holanda.

O risco inerente desses exercícios é um erro, como aparentemente ocorreu no mar Negro na semana passada, que acabe por disparar uma escalada militar. Ainda mais se algo acontecer com 1 dos 41 B-52 dos EUA --uma coisa é perder um drone, outra é ver derrubado um gigantesco bombardeiro tripulado.


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