JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) - A diplomacia de Israel exalta quatro anos de aproximação intensa com o Brasil sob o alinhamento quase automático patrocinado pela gestão de Jair Bolsonaro (PL), ante a volta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.
Nos primeiros meses do petista no posto, o Itamaraty deu sinais de que vai retomar a linha clássica da diplomacia brasileira, mantendo diálogo também com a Palestina para defender a chamada solução de dois Estados para tentar a construção da paz. O compromisso esteve no discurso de posse do chanceler Mauro Vieira e em nota da pasta, de tom crítico, a uma visita do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, ao complexo da mesquita Al-Aqsa ?gesto visto como provocação aos palestinos.
Do lado de Israel, o premiê Binyamin Netanyahu começou o ano condenando os ataques golpistas de 8 de Janeiro em Brasília, mas neste mês o país marcou posição em tuíte do porta-voz da chancelaria chamando a decisão do Brasil de receber dois navios de guerra iranianos no porto do Rio de Janeiro de "perigosa e lamentável". A rivalidade entre Irã e Israel é crescente.
"Estamos muito felizes com nossas relações com o Brasil, que se intensificaram tremendamente nos últimos anos. Temos todos os sinais de que isso vai se manter, mesmo com a mudança de governo", diz Emmanuel Nahshon, diretor de diplomacia pública do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Entre 2018 e 2022, as exportações brasileiras para o país do Oriente Médio saltaram de US$ 320 milhões para US$ 1,8 bilhão ?no período, as importações passaram de US$ 1,1 bilhão para US$ 2,1 bilhões. "Há um potencial gigantesco de cooperação, economicamente e em outros aspectos", observa Nahshon.
Em reservado, interlocutores da diplomacia israelense fizeram ponderações em relação à mudança de tom no Itamaraty sob Lula, principalmente em fóruns multilaterais como as Nações Unidas ?neste caso, levando em conta também a liderança regional do presidente brasileiro, em uma América Latina que vive um momento mais à esquerda.
A possibilidade de mudança na sede do escritório da ApexBrasil, de Jerusalém para Tel Aviv, ventilada nos bastidores, também poderia ter um impacto diplomático. À reportagem o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento, o ex-senador Jorge Viana (PT), disse que essa teria que ser uma decisão de governo, costurada com Itamaraty e Planalto, e que não há decisão concreta a respeito.
Nahshon destaca, porém, que votações na ONU "não são tudo". "No fim, as relações entre os países são baseadas em aspectos bilaterais. Gostaríamos de ter manifestações amigáveis em fóruns internacionais, mas até aqui o que vemos do Brasil é a continuidade das boas relações", afirma.
O governo Netanyahu tem tentado blindar a diplomacia em relação a outros dois temas candentes: as tensões com os palestinos, acirradas com declarações da ala extremista da coalizão do premiê, e os protestos contra a proposta de reforma judicial, que dominam o noticiário de Israel há meses.
Aliados próximos, como Estados Unidos e Alemanha, têm enviado sinais de alerta. Em visita a Tel Aviv no dia 9, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, falou da importância de desescalar os ânimos na região, criticando planos de ampliação das colônias israelenses na Cisjordânia, e ressaltou ao premiê, num recado pouco sutil, que as democracias dos dois países se fundaram em um Judiciário independente.
Na última quinta (16), ao receber Netanyahu em Berlim, o premiê alemão, Olaf Scholz, disse que acompanha "de perto e com preocupação" a crise motivada pela proposta de reforma. "Como parceiros e amigos próximos do país, nosso desejo é que Israel continue uma democracia liberal", afirmou, ressaltando não querer interferir na política interna do país.
"Tomamos nota de todas essas declarações, é importante ouvir nossos aliados. Mas trata-se de um processo interno, da política interna e da estrutura democrática de Israel", diz Nahshon.
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QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PONTOS DA REFORMA DE NETANYAHU
- Restringir o poder da Suprema Corte de vetar leis aprovadas pelo Parlamento, determinando que isso só possa acontecer com 12 dos 15 votos; o mecanismo, criado em 1992, já foi acionado mais de 20 vezes
- Dar ao Parlamento o poder de revogar julgamentos da Suprema Corte por meio de votações com maioria simples ?salvo se a decisão do tribunal tiver sido unânime
- Alterar a composição da comissão de 9 pessoas que indica juízes da Suprema Corte, ampliando o número de cadeiras e fazendo com que nomeados pelo governo de turno passem a ser maioria no colegiado
- Restringir o poder da Procuradoria-Geral da República, que é independente, tirando da supervisão dela cargos de assessoria jurídica dos ministérios
- Impedir que o primeiro-ministro seja declarado incapaz de exercer o poder, a menos que por condições físicas ou mentais
COMO É A TRAMITAÇÃO
- Os projetos foram apresentados isoladamente, no formato de leis básicas, não regulares; as leis básicas servem de baliza no Judiciário como equivalentes a uma Constituição, algo que Israel formalmente não tem
- Depois de aprovado em comissões, como no Legislativo brasileiro, o pacote precisa passar por três votações no Parlamento, onde a coalizão de Netanyahu tem 64 dos 120 assentos
- A primeira votação já foi realizada e recebeu 61 votos a favor; em geral, a segunda e a terceira acontecem em sequência, e o texto pode receber emendas entre elas
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O jornalista viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Israel e do Consulado Geral do país em São Paulo
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