WASHINGTON, ESTADOS UNIDOS (FOLHAPRESS) - Ao contrário do que previu, Donald Trump não foi preso na terça-feira (21). Ainda assim, o ex-presidente dos Estados Unidos vê avançarem suas pendências na Justiça ao mesmo tempo em que usa as acusações em sua campanha para voltar à Casa Branca no ano que vem.

O caso mais recente envolve o pagamento pela compra do silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016, mas nos últimos dias andaram também as apurações sobre os documentos sigilosos da Presidência encontrados em sua casa na Flórida e a tentativa de reverter o resultado da eleição na Geórgia na campanha de 2020.

Em agosto do ano passado, uma operação de busca e apreensão do FBI, a polícia federal americana, na casa do ex-presidente na Flórida encontrou caixas com mais de 11 mil documentos e fotografias, incluindo 18 documentos classificados como ultrassecretos, 54 secretos e 31 confidenciais, com informações de inteligência sobre país adversários dos EUA como Irã e China.

Depois de Trump, operações encontraram documentos removidos de forma irregular na casa de uma série de outros políticos que passaram pela Casa Branca, como o ex-vice Mike Pence e o próprio presidente Joe Biden, do período em que foi vice de Barack Obama, mas nenhum desses em escala similar ao que foi apreendido em Mar-a-Lago.

Trump passou a ser investigado e o caso avançou na última semana. Segundo o canal americano ABC, procuradores de Washington apresentaram à Justiça evidências com anotações, recibos e transcrições de áudio de que Trump cometeu crimes e deliberadamente passou informações falsas a seus advogados sobre o episódio. Trump chamou a reportagem da ABC de desinformação a partir de um vazamento ilegal.

Outra investigação criminal que avança contra Trump é a que apura a tentativa de fraude na Geórgia em 2020, estado onde Biden venceu por margem estreita.

Trump ligou para o secretário de estado local, responsável pelo controle do pleito, e o pressionou expressamente: "Tudo o que quero é isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença]. Porque nós ganhamos a Geórgia". Houve três contagens de votos que confirmaram a vitória de Biden no estado. No ano passado, um juiz federal afirmou que as alegações eram não só falsas, como Trump sabia que eram falsas, e mesmo assim decidiu mantê-las.

Na última segunda (20), advogados de Trump pediram à Justiça na Geórgia para anular o relatório final de um "grande júri especial", grupo que analisa se as evidências são suficientes para indiciar alguém. Os advogados argumentaram que os processos do grupo são "confusos, falsos e ás vezes descaradamente inconstitucionais" e pediram que o promotor do distrito de Fulton, onde fica a capital Atlanta, seja removido do caso.

Além desses, o processo que pode indiciá-lo ainda nesta semana, pelo qual temia ser preso, é o que envolve a atriz pornô Stormy Daniels. O escândalo veio à tona em 2018 após uma investigação federal. Na campanha presidencial de 2016, um advogado de Trump pagou US$ 130 mil pelo silêncio da mulher, que alega ter tido relações com o ex-presidente.

Já na Presidência, Trump reembolsou o advogado e registrou o pagamento nas contas de sua empresa como despesa jurídica, o que gerou a investigação sobre registros falsos empresariais e violação das leis de financiamento de campanha.

A promotoria de Manhattan, em Nova York, retomou as investigações do caso e ouviu testemunhas nos últimos dias, e a equipe de Trump aguarda o indiciamento, que ainda não foi decidido.

Se isso ocorrer, ele será o primeiro ex-presidente do país indiciado por um crime e terá que comparecer à promotoria de NY para ouvir as acusações e ser fichado, com suas impressões digitais coletadas. Um advogado de Trump afirmou que o ex-presidente não vai resistir a ir a Nova York.

Trump é pré-candidato à eleição à Casa Branca no ano que vem e até aqui favorito a obter a indicação do Partido Republicano, com 46% das intenções de voto entre os republicanos, contra 32% do seu principal adversário, o governador da Flórida, Ron DeSantis, segundo pesquisa Quinnipiac da última semana.

O ex-presidente tem usado as acusações a seu favor. Fontes ligadas ao ex-presidente disseram à imprensa americana que, se ele tiver que ir ao tribunal, quer transformar o caso em um espetáculo, com direito a algemas.

Também foi uma oportunidade para atacar DeSantis, visto como inimigo por alas trumpistas. Em sua primeira declaração, o governador condenou o processo para afirmou que "problemas de verdade para lidar na Flórida" e, em entrevista na terça à Fox fez uma série de críticas ao ex-presidente. "Acho que ele ficou confiante demais, acho que fez muito dano", afirmou. Ele também tentou se distanciar de Trump ao dizer que não tem interesse "em ficar brigando com as pessoas nas redes sociais" e que governa de uma maneira que "não é um drama diário".

Em rede social, Trump respondeu: "Ron DeSanctimonious [trocadilho com o sobrenome do governador e a palavra hipócrita] provavelmente vai descobrir sobre acusações falsas e reportagens mentirosas em algum momento no futuro, quando ele ficar mais velho, mais sábio e mais esperto, quando ele for injustamente e ilegalmente atacado por uma mulher, talvez uma aluna que era 'menor de idade' (ou talvez um homem!)", publicou ele com uma imagem de um artigo de um blog que diz que o governador foi a uma festa com menores de idade quando era professor na Geórgia.

Até aqui, porém, ainda não fez efeito a convocação de protestos em massa que Trump fez no sábado, que levou autoridades de Nova York e Washington a elevarem o alerta para um possível novo 6 de Janeiro. Tanto na segunda quanto na terça, apenas alguns apoiadores se manifestaram a favor do ex-presidente.

O possível indiciamento gerou críticas também do lado democrata. O senador Joe Manchin, o parlamentar mais conservador do partido, condenou o processo. "Há muitas razões pelas quais Donald Trump não deveria ser presidente dos Estados Unidos novamente. Mas você não deve permitir que o sistema judicial seja visto basicamente como um peão político", disse.


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