MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS0 - Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, iniciam nesta quarta-feira (5) uma visita conjunta, mas com objetivos diversos, à China de Xi Jinping. A viagem de Macron tem como um de seus propósitos fortalecer laços econômicos e culturais com Pequim. Na sua comitiva, há executivos de companhias como Airbus e Alstom e um grupo de cineastas e artistas.

Von der Leyen, por sua vez, viaja com uma estratégia mais dura em relação à China. Se antes o bloco europeu considerava Pequim um "parceiro" nos interesses globais, hoje a alemã defende a diminuição da dependência do comércio com o país comunista para não correr riscos, como aconteceu com a falta de gás russo para a Alemanha após a invasão da Ucrânia.

Mas ela sabe que os interesses econômicos dos Estados da União Europeia estão intimamente ligados à China, e não pode esgarçar demais as relações. Além disso, ouvem-se relatos de que ela está em campanha para tentar assumir, daqui a seis meses, a chefia da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.

Em comum, Macron e Von der Leyen devem insistir com o dirigente chinês para que ele não envie armas para ajudar a Rússia na guerra contra a Ucrânia e manifestar o desejo de que Xi desempenhe papel importante para garantir qualquer eventual acordo com Moscou.

Conforme afirmou o New York Times, os líderes europeus "veem a China como uma possível restrição à Rússia e uma voz que Vladimir Putin deve ouvir". Já segundo o South China Morning Post, "a dinâmica da dupla na reunião com Xi poderia fazer Von der Leyen bancar o 'policial mau' para o 'policial bom' de Macron".

Seja como for, Macron e Von der Leyen seguem uma fila iniciada pelo premiê alemão, Olaf Scholz, em novembro do ano passado, após a consolidação de poder absoluto de Xi no Partido Comunista Chinês. Um mês depois, foi a vez do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel e, na semana passada, o premiê espanhol, Pedro Sánchez, também foi a Pequim. Na semana que vem será a vez de Lula.

O fato é que a Europa se coloca muito mais próxima da China do que os Estados Unidos gostariam. "O medo da Europa de um retorno de Trump ou de uma vitória do mini-Trump é uma razão (e uma desculpa) para tentar manter as melhores condições possíveis com a China", observou Noah Barkin, especialista em China-Europa, ao site americano Politico.

Um relatório divulgado nesta semana pelo instituto Wilson Center, também americano, reuniu as observações de diversos de seus especialistas a respeito da viagem dos líderes europeus à China. Para William Drozdiak, a visita terá "consequências importantes para o relacionamento estratégico" e terá que balancear, de alguma forma, a atitude mais dura contra a China em relação aos direitos humanos, a relutância em criticas a Rússia devido à Guerra da Ucrânia e a preservação de laços econômicos da Europa com seu maior parceiro comercial.

Já Nicola Casarini afirma que as abordagens dos dois líderes na China terão diferenças "não apenas no tom, mas também na substância". Para ele, a agenda da alemã está mais próxima de Washington do que a do presidente francês -Macron estaria tentando impulsionar um acordo de relações comerciais e de investimentos entre UE e China, que, se aprovado, terá profundas implicações para os EUA.

Enquanto isso, Elizabeth Koch diz ver um esforço para unificar a abordagem dos diversos países da UE em relação a Pequim. "No caso de uma abordagem comum para a China, a Comissão Europeia terá de equilibrar os interesses nacionais de grande alcance, desde a linha dura da Lituânia em relação à China até as políticas, por vezes conciliatórias, da Alemanha", analisa a especialista.

Após anos em que os líderes europeus percebiam uma falta de sinceridade por parte da China, o papel geopolítico da Europa no futuro próximo pode estar em jogo nesta viagem.


Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!