SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a abertura de uma investigação sobre o vazamento nas redes sociais de uma série de documentos sigilosos que detalham segredos de segurança nacional na Ucrânia, no Oriente Médio e na Ásia.

Autoridades vêm manifestando preocupação com o compartilhamento de conteúdos sensíveis à medida que detalhes são revelados. Entre as informações vazadas estão o teor de supostas discussões feitas pelo governo sul-coreano sobre a pressão dos EUA para que Seul forneça armas à Ucrânia, país invadido pela Rússia há 13 meses.

Segundo o jornal The New York Times, o governo sul-coreano manifestou resistência em fornecer armas diretamente às forças ucranianas, mas concordou em vender projéteis de artilharia para ajudar os Estados Unidos a reabastecerem seus estoques, com a condição de que o usuário final fosse o Exército americano. Internamente, porém, autoridades do país asiáticos demonstraram preocupação com a possibilidade de desvios dos armamentos a Kiev, segundo os documentos vazados.

Desde o início do conflito no Leste Europeu, a Coreia do Sul assinou acordos para fornecer centenas de tanques, aeronaves e outras armas à Polônia, país membro da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA. Mas o presidente Yoon Suk Yeol tem enfatizado que uma lei sul-coreana proíbe o fornecimento de armas a países envolvidos em conflitos, o que impede o fornecimento direto a Kiev.

Analistas dizem que os documentos vazados indicam que os EUA estão espionando um de seus principais aliados na Ásia. Questionado se planejava apresentar um protesto formal ou exigir uma explicação da Casa Branca, o governo da Coreia do Sul informou que revisaria precedentes e casos semelhantes em outros países.

Mais de cem documentos sigilosos podem ter sido vazados, algo potencialmente prejudicial. Um alto funcionário da inteligência dos EUA descreveu a situação como um pesadelo para EUA e países aliados que compartilham informações de inteligência, como Austrália, Nova Zelândia e Canadá.

Investigações preliminares apontam que os documentos não incluem apenas relatórios secretos de inteligência sobre assuntos relacionados à Guerra da Ucrânia, mas também análises sobre as Forças Armadas dos EUA.

O Departamento de Justiça americano informou que iniciou a investigação no sábado (8), em conjunto com o Departamento de Defesa. À agência de notícias Reuters, três autoridades governo disseram sob a condição de anonimato que a Rússia ou ativistas pró-Moscou provavelmente estão por trás dos vazamentos, segundo as apurações iniciais,

Analistas militares disseram que os documentos parecem ter sido modificados em certas partes de seu formato original, exagerando estimativas dos EUA de ucranianos mortos na guerra e subestimando as estimativas de mortes entre os soldados russos.

Especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times afirmam que as modificações podem indicar um esforço de desinformação de Moscou. Mas as revelações nos documentos originais, que aparecem como fotos de tabelas de entregas antecipadas de armas, forças de tropas e batalhões e outros planos, representam uma importante falha da inteligência dos EUA no esforço para ajudar a Ucrânia.

Um dos documentos compartilhados nas redes aponta que as forças russas sofreram de 16 mil a 17,5 mil baixas desde a invasão russa em 24 de fevereiro do ano passado. Mas, publicamente, o governo dos EUA tem divulgado estimativas muito maiores que chegam a 200 mil russos mortos e feridos no conflito.

O Pentágono também comunicou que examina o assunto. O ex-funcionário Mick Mulroy diz que o vazamento representa uma violação significativa de segurança. "Como muitos dos arquivos eram fotos de documentos, parece que foi um vazamento deliberado feito por alguém que desejava prejudicar esforços da Ucrânia, dos EUA e da Otan", afirmou.

Também foram vazados avisos sobre a programação de ataques de Moscou e seus alvos, o que tem sido crucial para a defesa ucraniana. Um atenuante é que os documentos têm cinco semanas, o que, na prática, oferece um retrato da visão americana em 1º de março e, portanto, limitado. Para o olho treinado de um analista de inteligência ou militar de alto escalão de um país adversário, porém, os arquivos podem oferecer pistas tentadoras.

Analistas do Departamento de Defesa dos EUA lamentam que o vazamento pode ser valioso para Moscou ao indicar até que ponto a inteligência de Washington conseguiu penetrar o sistema de inteligência russo. Não ficou claro como os documentos foram parar nas redes sociais, mas os EUA detectaram o compartilhamento de parte dos materiais em canais pró-Rússia no Twitter, Telegram e Discord.

Jacquelyn Martin/Pool via REUTERS - Joe Biden, atual presidente dos EUA

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