SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - EUA e Filipinas deram inicio nesta terça-feira (11) aos maiores exercícios militares conjuntos da história dos dois países no Mar do Sul da China, apenas um dia após Pequim encerrar uma sequência de três dias de exercícios que simularam um bloqueio aéreo à ilha de Taiwan.

Apelidada de Balikatan -"ombro a ombro" em filipino- a manobra conjunta seguirá até o próximo dia 28 e ocorre anualmente. Esta, que é a 38ª edição, porém, contará com número recorde de membros das forças armadas americanas e filipinas: 17.600 soldados.

Os exercícios chamaram a atenção pela dimensão e também pelo "timing" e formato. As manobras vão incluir um teste de fogo real com o naufrágio de um navio obsoleto da marinha filipina e ocorrem em meio à escalada da tensão na região, em especial com o avanço chinês.

Falando sobre o assunto, o porta-voz da chancelaria do regime de Xi Jinping, Wang Wenbin, disse que a cooperação militar entre Washington e o arquipélago do Sudeste Asiático não pode interferir nas disputas no Mar do Sul da China. "Muito menos prejudicar a soberania territorial, direitos e interesses de segurança da China."

O Balikatan cristaliza ainda o movimento de aproximação entre Manila e Washington incentivado pelo presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr. -ou Bongbong, como é conhecido-, filho do ex-ditador filipino de mesmo nome. Ele assumiu o poder em 2022 e tem tentado ampliar a política externa de seu país, afastando-se, de certo modo, de Pequim.

Também neste ano, o governo de Bongbong ampliou o número de bases militares filipinas nas quais os EUA podem operar, concedendo a Washington mais quatro locais além dos cinco já existentes. Ao falar sobre a manobra conjunta nesta terça-feira, o presidente buscou afastar temores.

O filipino afirmou que a medida tem como único objetivo reforçar a capacidade de defender seu território. "Não permitiremos que nossas bases militares sejam usadas para ações ofensivas", afirmou ele pouco antes do início dos exercícios Balikatan.

Ocorre que três das novas bases cedidas aos americanos ficam perto da ilha de Taiwan, ponto sensível na região, uma vez que a China de Xi Jinping a considera uma província rebelde que, mais cedo ou mais tarde, tem de ser reagrupada a seu território nacional.

Com base nesse discurso foram realizadas as recentes manobras de Pequim em torno da ilha, que na prática é independente e que, em breve, terá eleições. Os exercícios foram encerrados nesta segunda (10), mas ainda nesta terça Taiwan afirmou que ainda há nove navios de guerra chineses e 26 aeronaves ao redor de seu território.

Questionado sobre o assunto durante uma entrevista coletiva diária da chancelaria chinesa, o porta-voz Wang Wenbin forneceu a resposta costumeira: "Deixamos clara a posição da China. Permita-me enfatizar: a China está pronta para tomar medidas resolutas para salvaguardar sua soberania. Taiwan é uma parte inalienável do território chinês."

Sobre os exercícios de EUA e Filipinas o tenente-coronel Daniel Huvane, um dos diretores do lado americano, afirmou que a operação oferece "oportunidades únicas para demonstrar a força e a prontidão da aliança de segurança" para "responder a crises, apoiar o povo das Filipinas e cumprir nossas missões compartilhadas".

Já o general filipino Andres C. Centino, durante cerimônia de abertura dos exercícios, afirmou que a operação deste ano é "oportuna". "Porque vamos acelerar o aprimoramento das nossas capacidades de segurança marítima em nossos domínios, assim como nossa capacidade de empregar equipamentos novos e sistemas recém-adquiridos."

O maior contingente de militares vem dos EUA -12.000. Do lado filipino, participam 5.000 soldados, segundo o porta-voz militar do arquipélago, Medel Aguilar. Participam ainda cerca de 111 membros da força de defesa da Austrália e observadores de ao menos 12 países.

Na mídia estatal chinesa, o destaque se voltou aos protestos -pouco encorpados, mas presentes, de filipinos contra a presença militar americana. No Global Times, espécie de porta-voz do Partido Comunista Chinês, o destaque foi: "Maiores exercícios militares de todos os tempos EUA-Filipinas enfrentam protestos e críticas ferozes".

Filipinos protestaram perto da sede das Forças Armadas, na cidade de Quezon, com cartazes com frases como "EUA traficantes de armas", "EUA imperialistas" , "não aos jogos armados dos EUA nas Filipinas".


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