PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - Dois dos temas que mais mobilizaram atenção nos preparativos para a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China acabaram recebendo menção superficial na declaração conjunta divulgada nesta sexta-feira (14), cinco horas depois de encerrado o encontro o petista e o dirigente Xi Jinping.
Da eventual adesão brasileira à chamada "Nova Rota da Seda", ambicioso programa chinês de investimentos em infraestrutura ao redor do mundo, restou um trecho que mantém pendente uma das pontas soltas da viagem de Lula ao país asiático.
"Brasil e China manifestaram interesse em examinar sinergias entre as políticas de desenvolvimento e os programas de investimento do Brasil, inclusive nos esforços da integração sul-americana, e as políticas de desenvolvimento e as iniciativas internacionais da China, inclusive a Iniciativa do Cinturão e Rota", diz a declaração.
A entrada na BRI (sigla em inglês para a Cinturão e Rota) foi objeto de campanha na mídia estatal da China, que buscou vincular maior investimento no Brasil, como queria Lula, à adesão. O ingresso formal preocupava autoridades dos EUA, temerosas da expansão da influência chinesa sobre a América Latina, onde a BRI já alcançou 21 países.
Já a proposta de um "clube da paz" para o fim da Guerra da Ucrânia --fórum de países que, na visão do governo brasileiro, não estão alinhados a nenhum dos lados do conflito-- tampouco registrou avanços.
"O Brasil recebeu positivamente a proposta chinesa que oferece reflexões conducentes à busca de uma saída pacífica para a crise. A China recebeu positivamente os esforços do Brasil em prol da paz. As partes apelaram a que mais países desempenhem papel construtivo para a promoção da solução política da crise na Ucrânia. As partes decidiram manter os contatos sobre o assunto."
O esforço brasileiro pela criação de um "clube da paz" --ideia que Lula também levou aos EUA durante visita a Joe Biden-- já havia mobilizado críticas em países ocidentais nas semanas que precederam a viagem. A perspectiva de nova ofensiva ucraniana ou russa pode ter pesado para que o rebaixamento do tema ao segundo plano na declaração. Além disso, Pequim apresentou em fevereiro seu próprio projeto para o fim do conflito no Leste Europeu --recebido com ceticismo no Ocidente.
MEIO AMBIENTE
Por outro lado, o combate às mudanças climáticas foi objeto de uma declaração conjunta própria, em que "Lula e Xi reconheceram que [a crise do clima] representa um dos maiores desafios de nosso tempo e que o enfrentamento contribui para construir um futuro compartilhado de prosperidade equitativa e comum para a humanidade".
Entre diversos pontos destacados, o texto afirma que os dois países irão "cooperar no desenvolvimento e compartilhamento de tecnologias, incluindo o novo satélite CBERS 6, que permitirá um melhor monitoramento da cobertura florestal". O texto diz ainda que Pequim e Brasília vão "estabelecer um subcomitê de Meio Ambiente e Mudança Climática sob o Comitê de Coordenação e Cooperação de Alto Nível China-Brasil (Cosban)".
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em entrevista coletiva em Pequim, sublinhou o avanço no Cosban, lembrando que depois de ser criado, em 2004, o tema acabou deixado de lado. "Houve um esforço de entendimento político e estratégico, tanto do presidente Lula quanto do presidente Xi Jinping, de que é necessário colocar a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável no mais alto nível das prioridades".
Entre essas prioridades, segundo Marina, está "cooperação ampla em relação a floresta", combate ao desmatamento, além de "transição energética, porque o Brasil tem um potencial muito grande para a geração de energia limpa". "O Brasil tem um potencial muito grande para ser, ao mesmo tempo, uma potência agrícola e uma potência florestal", disse a ministra.
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