SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Suécia iniciou nesta segunda (17) o exercício militar Aurora 23, o maior do gênero realizado no país nórdico em 25 anos. Ele ocorrerá em terra, mar e ar até o dia 11 de maio, mobilizando 26 mil soldados de 14 países.
Com a manobra, que havia sido anunciada em outubro após o cancelamento de sua edição anterior devido à eclosão da pandemia de Covid-19 em 2020, a Suécia ao mesmo tempo sinaliza prontidão à Rússia e disposição à Otan, a aliança militar ocidental em que pretende ingressar.
Rompendo 200 anos de neutralidade, Estocolmo decidiu pedir a admissão após a invasão da Ucrânia pelas forças de Vladimir Putin, ocorrida em fevereiro do ano passado. A requisição foi feita em conjunto com a vizinha Finlânida, que divide 1.300 km de fronteira com a Rússia.
Todos os 30 membros da Otan votaram pelo ingresso finlandês, formalizado há duas semanas, mas a Turquia e a Hungria ainda resistem ao pedido sueco por motivos políticos. O país nórdico tradicionalmente abriga dissidentes políticos turcos e é crítico da gestão autocrática do húngaro Viktor Orbán.
Na semana passada, o número 2 da Defesa do país, Peter Sandwall, disse à Folha de S.Paulo acreditar que a admissão esteja resolvida até a cúpula da Otan em Vilnius, na Lituânia, em julho. Enquanto isso, o país flexiona seus músculos militares.
O Aurora é concentrado na costa sul e sudeste da Suécia, no mar Báltico, com foco na defesa contra invasões --particularmente da estratégica ilha de Gotland, vista como alvo primário da Rússia no caso de um conflito.
As Forças Armadas suecas são altamente profissionais, mas até o ano passado o foco de seus exercícios era o de interoperabilidade com a Otan em missões de segurança internacional. Agora, expande gastos e treina principalmente contra agressões diretas, cortesia da política de Putin.
Seu efetivo total é de 14 mil militares, boa parte dos quais se unirão às tropas de outros países, como a própria Finlândia, nas simulações. Se ingressar na Otan, a Suécia contará com a proteção mútua garantida em tratado: se for atacada, todos os outros membros correm em sua defesa.
Enquanto o Báltico se torna cada vez mais um ponto focal na disputa entre o Kremlin e o Ocidente, a Rússia passou o fim de semana reforçando seu flanco leste, onde opera em conjunto com a aliada China no contexto da Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington
De sexta (14) a domingo (16), mobilizou toda a sua Frota do Pacífico de surpresa. Nesta segunda, o ministro Serguei Choigu (Defesa) apresentou o resultado a Putin: 25 mil homens mobilizados, 167 navios de guerra e quase 100 aeronaves participaram da inspeção.
A movimentação incomodou o Japão, que enviou um protesto ao Kremlin. O governo russo afirmou que o país tem outras preocupações de segurança além da Ucrânia, e que as manobras foram realizadas dentro do que é previsto sob a lei internacional.
Para completar o cenário tenso, um alerta de aeronavegabilidade emitido pela Rússia sugere que o país vai testar um míssil com capacidade nuclear lançado por submarino no Ártico até o próximo dia 23.
Na semana passada, por sua vez, os EUA realizaram o Global Thunder 23, o jogo de guerra nuclear anual para testar a mobilização de suas forças estratégicas. Foi testado o emprego de 12 mísseis de cruzeiro AGM-86B em voo por um bombardeiro B-52 --um poder de fogo equivalente a 120 bombas de Hiroshima.
Ainda no flanco oriental da Guerra Fria 2.0, EUA, Japão e Coreia do Sul fizeram também nesta segunda um exercício conjunto de defesa contra mísseis perto da costa da península coreana. Foi uma resposta direta à ditadura da Coreia do Norte, aliada algo mercurial tanto da Rússia quanto da China.
Na sexta, Pyongyang testou um novo míssil balístico intercontinental com capacidade nuclear, o primeiro do gênero com combustível sólido --o que o torna mais ágil para ser lançado, já que não é necessário o abastecimento em solo.
Foi o mais recente passo na escalada militar da ditadura, que tem feito testes em sequências de mísseis. O país tem cerca de 30 ogivas nucleares, e os ensaios têm gerado pânico em Hokkaido, ilha ao norte do Japão por onde têm passado alguns dos disparos. Tóquio tem acelerado seu gasto militar e, também rompendo com tradição, abraçou uma política mais militarista.
O exercício desta segunda empregou três destróieres operando o sistema americano Aegis, que visa abater mísseis balísticos em pleno voo. Os EUA vêm incrementando seus exercícios com os aliados regionais, mirando não só a Coreia do Norte, mas seus apoiadores em Pequim e Moscou --que, por sua vez, incrementam a cooperação militar.
No domingo, Putin recebeu o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, algo pouco comum. Eles elogiaram o aprofundamento das relações entre os países, alimentando ainda mais a especulação ocidental de que Xi Jinping poderá fornecer armas para o aliado contra a Ucrânia.
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