BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Diferentemente do Brasil, onde a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) já estava consolidada mais de um ano antes das eleições, a Argentina se aproxima do pleito de outubro com seis nomes viáveis e um cenário de grande incerteza.

A desistência do presidente Alberto Fernández de concorrer à reeleição, anunciada nesta sexta-feira (21), mexeu novamente nas cartas, já embaralhadas há um mês, quando o ex-presidente Maurício Macri também anunciou que não disputaria a Casa Rosada.

Do lado da coalizão peronista, pela Frente de Todos, são considerados três nomes principais: a vice-presidente Cristina Kirchner, que ainda faz mistério sobre sua eventual candidatura, o atual ministro da Economia, Sergio Massa, e o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli.

Do lado da oposição, a aliança Juntos por el Cambio, há outros dois cotados mais competitivos. Um é Horacio Larreta, governador da capital federal Buenos Aires; a outra é Patricia Bullrich, até semana passada presidente do partido de Macri (PRO, Proposta Republicana).

Enquanto os dois lados não se decidem, ganha tração uma terceira força política, o deputado federal ultraliberal Javier Milei, líder da coalizão A Liberdade Avança. Ele aparece à frente em parte das pesquisas de intenção de voto quando os candidatos são citados por nome.

No levantamento mais recente, feito pela consultoria Management & Fit entre os dias 27 de fevereiro e 13 de abril, por exemplo, Milei (24%) fica à frente de Larreta (19%) e Cristina (18%), empatados tecnicamente num cenário que inclui a ex-presidente e também o atual presidente.

Quando se pergunta em quais alianças as pessoas votariam, porém, despontam os dois principais movimentos: o opositor Juntos por el Cambio e o peronista Frente de Todos ficam em torno dos 22%, contra 14% dos "libertários" de Milei. Foram feitas 1.500 entrevistas, com margem de erro de 2,2%.

Os grupos políticos têm cerca de dois meses para apresentar suas listas de pré-candidatos para as eleições primárias, chamadas de Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias). A votação prévia acontece em 13 de agosto em todo o país.

Os candidatos mais votados vão para as eleições gerais, em 22 de outubro, quando também serão eleitos os governadores de 21 das 23 províncias e da cidade de Buenos Aires, metade dos deputados e um terço dos senadores. Um possível segundo turno ocorre em 19 de novembro.

O pano de fundo dessas eleições é um descontentamento geral com a política impulsionado pela profunda crise econômica e o crescimento da pobreza vividos pela Argentina. Para o Brasil, está em jogo a reaproximação dos governos atuais dos dois países.

Abaixo, veja quem é quem na corrida eleitoral argentina.

Cristina Kirchner, 70 (Frente de Todos)

Atual vice-presidente e ex-presidente do país por dois mandatos, de 2007 a 2015. Sucedeu seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, que sofreu um infarto três anos após deixar o poder.

Começou a carreira política como deputada da província de Santa Cruz nos anos 1980 e depois atuou como senadora de 1995 a 2007. Foi condenada por corrupção em dezembro, por manobras feitas em contratos de obras públicas, mas ainda pode recorrer. Ela nega as acusações e afirma ser vítima de perseguição política do Judiciário.

Daniel Scioli, 66 (Frente de Todos)

Embaixador da Argentina no Brasil desde 2020, é conhecido por ter conseguido uma trégua entre os governos opostos de Jair Bolsonaro e Alberto Fernández. Vai tentar a Presidência pela terceira vez.

Em 2015, chegou ao segundo turno, mas perdeu para Mauricio Macri por 51% a 48%. Já foi duas vezes deputado federal, vice-presidente de Néstor Kirchner (2003-2007) e governador de Buenos Aires (2007-2015). Antes de entrar na política, foi oito vezes campeão mundial de motonáutica (jetski), no qual sofreu um acidente que amputou seu braço direito, e também diretor da empresa Electrolux.

Sergio Massa, 50 (Frente de Todos)

Foi nomeado ministro da Economia pelo presidente Alberto Fernández em julho de 2022. Antes, foi presidente da Câmara dos Deputados por três anos e prefeito da cidade de Tigre por outros seis. Também foi chefe de gabinete da ex-presidente Cristina Kirchner por um ano.

Formado em direito e de perfil conciliador, é visto como um ministro que tem como função "segurar as pontas" do governo até as eleições. Viu sua popularidade cair junto à de Cristina e Fernández com o descontrole da economia.

Horacio Larreta, 57 (Juntos por el Cambio)

Está terminando seu segundo mandato como governador de Buenos Aires. Formado em economia, foi chefe de gabinete de Maurício Macri quando ele ocupou o mesmo cargo no passado, de 2008 a 2015.

Os dois fundaram juntos o partido Proposta Republicana, do qual fazem parte hoje. Nas últimas semanas, gerou uma crise interna com o colega e seus concorrentes à Presidência por agendar as eleições locais de Buenos Aires junto com as nacionais sem consultar o partido.

Patricia Bullrich, 66 (Juntos por el Cambio)

É uma das lideranças da coalizão Juntos por el Cambio e, até semana passada, era presidente do Proposta Republicana, do qual pediu uma licença para participar da campanha. Foi ministra da Segurança de Macri (2015-2019) e deputada federal por Buenos Aires (2007-2015). Antes, atuou como ministra do Trabalho e Segurança Social na gestão de Fernando de la Rúa (1999-2001). Em algumas pesquisas de intenção de voto aparece atrás de Horario Larreta e, em outras, na frente.

Javier Milei, 52 (A Liberdade Avança)

Economista e professor, foi eleito deputado federal em 2021. É líder do Partido Libertário e da coalizão A Liberdade Avança. Ficou conhecido a partir de 2018 por críticas contundentes às gestões de Cristina, Macri e Fernández e por seu modo agressivo de falar.

Naquele ano, chamou uma jornalista de "burra" e teve que pedir desculpas na Justiça. Define-se como "anarcocapitalista" e tem como principal proposta a dolarização da economia argentina.


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