SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alvo de críticas no Conselho de Segurança da ONU, o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, partiu para o contra-ataque nesta terça-feira (25) acusando os países do Ocidente de escalar a Guerra da Ucrânia e incentivar o início da Terceira Guerra Mundial.
"Ninguém precisa da Terceira Guerra Mundial, mas parece que alguns estão prontos para irem até o fim", disse Lavrov a jornalistas na sede da ONU, em Nova York.
A declaração foi uma resposta aos ataques contra o Kremlin na véspera, durante encontro do Conselho de Segurança com a presença de Lavrov --a Rússia assumiu neste mês a presidência rotativa do comitê, o mais poderoso do organismo multilateral. Na reunião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, e representantes dos EUA, do Reino Unido e da Suíça usaram os discursos para condenar as ofensivas de Moscou contra o país vizinho.
Lavrov rebateu as críticas dizendo que o Kremlin já declarou todos os seus objetivos na Ucrânia. Ao invadir o vizinho, em fevereiro do ano passado, o presidente Vladimir Putin apresentou como justificativa a necessidade de desmilitarizar e "desnazificar" o país que integrou a União Soviética --analistas refutam a tese de um Estado nazista em Kiev.
Mas o envolvimento da Otan, a aliança militar ocidental, tem interesses obscuros, segundo o chanceler russo. "Queremos ouvir de nossos colegas ocidentais, quais objetivos eles estão perseguindo lá [na Ucrânia]", disse Lavrov, segundo a agência estatal russa Tass.
Ele voltou a associar a Ucrânia ao nazismo ao mencionar que o governo de Kiev proibiu a educação em russo e removeu milhões de livros de bibliotecas públicas em seu esforço contínuo de "desrussificação".
Lavrov afirmou que a situação na Ucrânia é de impasse, a começar pelo acordo de exportações de grãos ucranianos no Mar Negro. O pacto foi renovado por 60 dias no mês passado, mas a Rússia sinalizou que não deve estendê-lo, a menos que o Ocidente remova os obstáculos às exportações de grãos e de fertilizantes russos.
Ao mesmo tempo, ele disse que a transição para moedas que não o dólar na economia global é um movimento "imparável". Ele citou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que o chefe do executivo brasileiro prepara um material sobre como reduzir a dependência do sistema financeiro atual.
Em viagem à China neste mês, Lula defendeu, na cerimônia de posse de Dilma Rousseff no Banco do Brics (Novo Banco de Desenvolvimento, NDB na sigla em inglês), a ampliação do comércio com moedas próprias dos países integrantes da instituição --ou mesmo uma moeda do grupo Brics.
"Quem é que decidiu que era o dólar? Nós precisamos ter uma moeda que transforme os países numa situação um pouco mais tranquila, porque hoje um país precisa correr atrás de dólar para exportar", disse Lula, em declaração criticada por países do Ocidente e considerada um aceno à Rússia e à China na Guerra Fria 2.0.
Questionado sobre uma possível troca de prisioneiros envolvendo o jornalista americano Wall Street Journal Evan Gerchkovitch, Lavrov se limitou a dizer que existe um canal não público com o governo americano para discutir o tema e que a divulgação de informações poderia dificultar as negociações. "Mas não aceitamos a ideia de que os jornalistas não podem cometer crimes."
As declarações de Lavrov foram ecoadas pelo secretário do Conselho de Segurança da Rússia. Nikolai Patrushev. Segundo ele, o Ocidente se esforça para isolar Moscou. "O Ocidente tem esperança de derrotar a Rússia e despojando o país do status de grande potência capaz de repelir adequadamente os EUA e sua aspiração de dominar o mundo. É importante entender que tradicionalmente atrapalhamos esses planos desumanos", disse durante reunião do Conselho de Segurança da ONU.
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