SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Peru decretou nesta quarta-feira (26) estado de emergência nas fronteiras de seu território. A medida permite que as Forças Armadas se juntem à polícia nos principais postos de alfândega do país, em uma busca por fortalecer a repressão à imigração ilegal -ou, nas palavras da presidente, Dina Boluarte, manter "o controle da ordem interna".

Segundo o Acnur, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, entre 150 e 200 migrantes têm se concentrado diariamente na passagem entre Arica, no Chile, e Tacna, no Peru, a cerca de 1.500 km ao sul de Lima. A maioria deles é do Haiti e da Venezuela, e diz ter como intuito apenas atravessar a nação andina em direção a seus países de origem ou seguir viagem até os Estados Unidos para se reunir a suas famílias.

A princípio, o estado de emergência já vigora a partir desta quinta-feira (27), embora Dina não tenha informado quanto tempo ele durará ou se ele envolverá restrições a direitos. O governo já tinha enviado 200 policiais para reforçar os postos migratórios -a administração chilena havia feito algo do tipo anteriormente.

O Peru concentra a segunda maior quantidade de refugiados venezuelanos do mundo, atrás apenas da Colômbia, segundo dados da ONU. Do total de 7 milhões de pessoas que fugiram da ditadura, cerca de 1,5 milhões estão no país. A nação andina é, porém, um destino bem menos popular entre os haitianos -ao contrário do Chile, que recebe um grande fluxo de refugiados da ilha caribenha desde 2016.

Além de atuar na fronteira com o Chile, o Exército peruano também se juntará à polícia nas divisas do país com o Brasil, o Equador e a Colômbia. A presidente afirmou que seu objetivo com isso é enfrentar o crime transnacional, uma vez que os responsáveis por cometer diariamente assaltos, roubos e outros atos criminosos seriam estrangeiros -ela creditou o dados à imprensa local.

Esta não é a primeira vez que Dina, alçada ao poder após uma fracassada tentativa de golpe do ex-presidente Pedro Castillo, de quem ela era vice, declara estado de emergência no país. Assim que assumiu, em dezembro, ela convocou o Exército a atuar em diversas regiões do território, em uma tentativa de controlar a verdadeira ebulição popular que se seguiu ao afastamento e à prisão do líder populista.

Desde então, seu governo foi acusado repetidas vezes de uso desproporcional de força contra os manifestantes, inclusive pelo Ministério Público. Enfrentamentos entre autoridades e manifestantes -cujas demandas incluem a saída de Dina, que consideram uma traidora-- resultaram em mais de 50 mortes, de acordo com os cálculos da Defensoria Pública nacional.

Um relatório da ONG Human Rights Watch publicado nesta quarta-feira também condenou a forma como o governo Dina lidou com os protestos. O documento argumenta que a resposta do Estado à violência dos manifestantes foi exagerada, e relata ainda violações nos processos legais contra os envolvidos, além de abusos contra detidos e falhas nas investigações criminais.


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