SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os restos mortais de um príncipe etíope do século 19 não voltarão ao seu país de origem, como a família gostaria ?a coroa britânica negou um novo pedido de repatriação, segundo a mídia local, nesta terça (23).
O príncipe Alemayehu foi capturado aos 7 anos pelo Exército britânico após soldados saquearem a cidade de seu pai, o imperador Tewodros 2º, na Batalha de Maqdala, em 1868. No mesmo ano, ele foi levado à Inglaterra, onde chegou órfão, após sua mãe morrer no caminho. Alemayehu viveu no Reino Unido durante toda a década seguinte, período em que a rainha Vitória estava no poder, e morreu de pneumonia aos 18.
A pedido da soberana, seu corpo foi enterrado na Capela de São Jorge, onde está até hoje, no Castelo de Windsor, residência real no oeste de Londres, junto com os restos mortais de outras nove pessoas.
Além de líderes etíopes já terem pedido a devolução dos restos mortais do príncipe, a família dele disse à BBC que também pediu a repatriação. "Queremos ter seus restos mortais como família e como etíopes, porque o Reino Unido não é a nação onde ele nasceu", afirmou Fasil Minas, um de seus descendentes. "Ele foi expulso da Etiópia, da África, da terra dos negros", afirmou outro descendente, Abebech Kasa.
Britânicos como o poeta Lemn Sissay se juntaram à campanha para a repatriação, que se intensificou a partir de 2007, quando o então presidente etíope, Girma Wolde-Giorgis, pediu formalmente a Elizabeth 2º que os restos mortais do príncipe voltassem à Etiópia. Na época, o porta-voz da rainha disse que, embora ela fosse a favor do repatriamento, não seria possível identificar os restos mortais do etíope.
Em resposta ao novo pedido, o Palácio de Buckingham afirmou em nota que seria "altamente improvável" exumar os restos mortais de Alemayehu sem afetar os corpos de outras pessoas enterradas nas proximidades. Porém, destacou o palácio, "o reitor e os cônegos de Windsor estão muito conscientes da necessidade de honrar a memória do príncipe". Nos últimos anos, as autoridades atenderam aos pedidos de delegações etíopes para visitar a capela, o que continuará sendo feito, acrescentou o comunicado.
O caso remete aos recentes pedidos de nações do Sul Global para devolver artefatos que estão em museus europeus. As demandas vêm especialmente de países africanos, como Nigéria, Benin, Senegal, Chade, Madagascar, Mali e Costa do Marfim, além da própria Etiópia ?um reflexo do impacto do colonialismo europeu no continente durante os séculos 19 e 20.
Sob pressão, governos europeus se movimentaram nos últimos anos para catalogar objetos e discutir o que, como e quando devolvê-los. Em agosto de 2022, o museu Horniman, de Londres, anunciou que transferiria ao governo da Nigéria 72 objetos saqueados do país no século 19, decisão que atendeu a um pedido da Comissão Nacional de Museus e Monumentos da Nigéria.
Os objetos com maior notoriedade são os diamantes que fazem parte das joias reais. As pedras adornam a coroa de Estado imperial e o cetro soberano, usados na coroação do Rei Charles 3º, e foram retiradas do que é considerado o maior diamante já encontrado, o Cullinan, descoberto na África do Sul em 1905.
A pedra foi dada ao rei Edward 7º, filho da rainha Vitória, após a Guerra Sul-Africana, mas ativistas questionam a legitimidade de tal ato numa época em que negros eram submetidos a exploração brutal.
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