SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dias depois de anunciar a tomada de Bakhmut, o fundador do grupo paramilitar russo Wagner, Ievguêni Prigojin, começa a passar algumas porções da cidade ucraniana para o exército da Rússia. "Até 1º de junho, a maior parte será transferida para as bases da retaguarda. Estamos entregando as posições, a munição e tudo que há nelas aos militares", afirmou Prigojin em um vídeo divulgado nesta quinta-feira (25).
O anúncio parece ter sido confirmado pela vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar. Segundo ela, o exército russo está substituindo a milícia no entorno de Bakhmut, mas, dentro da cidade, os combatentes de Prigojin permanecem.
A Rússia recebe a cidade do leste da Ucrânia em ruínas. Nos últimos meses, Bakhmut foi palco das mais sangrentas batalhas em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial, que renderam a Moscou a sua primeira grande conquista em meses do conflito que começou em fevereiro do ano passado.
Na semana passada, Kiev negou que a cidade tivesse sido tomada pelo Grupo Wagner, uma empresa militar russa que recrutou milhares de detentos em prisões para atuarem como mercenários na Ucrânia. Os russos acreditam que a tomada do território -que chamam de Artiomovsk, nome que tinha na época da União Soviética- pode servir como um trampolim para avançar em Donbass, região no leste ucraniano.
Kiev, porém, ainda está lutando na cidade, segundo seus militares. O país afirma que as tropas de Moscou perderam 20 quilômetros quadrados ao norte e ao sul da cidade para as forças ucranianas. Serhii Tcherevatii, porta-voz do comando militar do leste da Ucrânia, disse que o número de ataques russos na área caiu nos últimos três dias e que houve dois confrontos militares nas últimas 24 horas. "Podemos definitivamente notar uma redução nos ataques", afirmou o militar. "É claro que impusemos perdas pesadas".
O conflito acontece antes de uma esperada contraofensiva ucraniana, que se preparou com armas e treinamentos de seus aliados ocidentais nos últimos meses. Países amigos seguem enviando munições periodicamente --nesta quarta-feira (24), foi a vez da Coreia do Sul, segundo o jornal americano Wall Street Journal.
Após resistência inicial em armar a Ucrânia, Seul enviou centenas de milhares de projéteis de artilharia sul-coreana por meio de Washington, diz o jornal. De acordo com a reportagem, a Coreia do Sul chegou a um acordo confidencial com os Estados Unidos para transportar a artilharia pedida pelo país norte-americano, que a entregaria à Ucrânia. Casa de uma importante indústria bélica, a Coreia do Sul havia descartado até agora o envio de ajuda letal à Ucrânia, citando laços comerciais com a Rússia e a influência de Moscou sobre a Coreia do Norte.
O porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Sul, Jeon Ha-kyu, disse nesta quinta que estava em negociações com o Pentágono sobre as exportações de munição, mas que havia "partes imprecisas" no texto do jornal, sem dar mais detalhes. "Houve várias discussões e pedidos, e nosso governo tomará as medidas apropriadas enquanto analisa de forma abrangente a guerra e a situação humanitária na Ucrânia", afirmou Jeon.
Durante a cúpula do G7 no último fim de semana, o presidente dos EUA, Joe Biden, manifestou apoio ao plano de criar um esforço internacional para treinar pilotos ucranianos em caças avançados, incluindo jatos F-16 -aeronave de combate que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pede a seus aliados.
Uma das preocupações dos EUA, porém, é a de que os caças possam ser usados para atingir alvos em territórios da Rússia, o que teria grande potencial de escalar o conflito. Na última segunda-feira (22), grupos anti-Putin ficaram mais de 24 horas em uma cidade russa próxima à fronteira com a Ucrânia, na região de Belgorodo, antes de serem expulsas do país -autoridades da Rússia afirmam que os agressores eram ucranianos, enquanto Kiev diz que os atos são de responsabilidade de grupos armados russos se opõem ao Kremlin.
Nesta quinta, o Serviço Federal de Segurança (FSB) -correspondente ao KGB da União Soviética- disse ter detido dois sabotadores ucranianos. Segundo autoridades russas, eles planejavam explodir linhas de energia para constranger o país na véspera do feriado do Dia da Vitória, no início de maio, quando se comemora a derrota da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial.
"O plano dos serviços especiais ucranianos era provocar o fechamento dos reatores, interromper a operação das usinas nucleares e causar sérios danos à economia e à reputação da Federação Russa", disse o FSB em um comunicado. Os acusados podem ser condenados a até 20 anos de prisão.
A agência disse que eles foram recrutados em 2022 pelo serviço de inteligência da Ucrânia e receberam treinamento especial antes de entrarem na Rússia via Polônia e Belarus. "Os réus confessaram ter cooperado com o serviço de inteligência estrangeiro da Ucrânia para preparar e cometer sabotagem no território da Rússia", disse o FSB.
De sua parte, Zelenski afirmou nesta quinta que a Rússia continua "aterrorizando" o seu país, nesta noite com 36 drones de fabricação iraniana. "Nenhum atingiu o alvo", afirmou o presidente, ao elogiar a sua defesa antiaérea. "O inimigo pretendia atingir infraestrutura crucial e áreas militares no sul do país."
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