SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Imagens capturadas por câmeras corporais mostram três policiais rindo e fazendo piadas de um homem negro que morreu após ser detido na cidade de Jackson, no estado do Mississippi, nos Estados Unidos.
Dois dos agentes foram indiciados na quarta (24) por assassinato, e o terceiro, por homicídio culposo, em que não há a intenção de matar. O caso ocorreu na noite de 31 de dezembro do ano passado.
As gravações obtidas pela agência de notícias Associated Press mostram os policiais acionando várias vezes uma arma de choque do tipo taser contra Keith Murriel, 41, acusado de ter invadido um hotel e que aparentemente resistia a ser algemado. O homem grita de dor e implora para que os agentes parem.
Com Murriel já imobilizado e dentro da viatura, os policiais riem e fazem comentários irônicos. "Espero que ele esteja dormindo. Se estiver dormindo, será um bom passeio", afirma um dos agentes.
Também em tom jocoso, outro policial diz que irá ligar para o sargento da corporação e perguntar quando eles deveriam chamar uma ambulância. A filmagem é dividida em vários clipes, e não está claro se os agentes checaram o estado de saúde de Murriel ou se prestaram socorro antes da chegada dos médicos.
Quando os paramédicos chegam ao local, eles logo percebem que Murriel não estava respirando. Um dos policiais, então, diz que o homem estava "tomando alguma coisa" antes de ser capturado. O departamento de polícia de Jackson não informou se alguma substância ilícita foi detectada nos exames toxicológicos. Também não está claro quanto tempo após a abordagem o homem recebeu atendimento.
Os paramédicos fizeram massagens cardíacas e levaram Murriel para um hospital, no qual foi declarado morto. No vídeo, é possível ouvir um dos agentes dizendo que o homem engasgou com o próprio vômito.
Participaram da ação os policiais Avery Willis e Kenya McCarty, que são negros, e James Land, que é branco. Os dois primeiros foram indiciados por assassinato, e o terceiro, por homicídio doloso.
Em email enviado à Associated Press, o advogado de McCarty disse que seu cliente é inocente. "Ele lamenta sinceramente a morte de Murriel e apresenta as mais sinceras condolências para a família e os amigos". Land se recusou a comentar, e o advogado de Willis não foi encontrado.
Depois de serem colocados em licença administrativa, McCarty foi demitido em fevereiro, e Willis e Land, em abril. O advogado da família de Murriel disse que a tática usada na operação e as conversas dos policiais justificam o indiciamento. "O caso nos faz questionar como esses policiais agem quando não estão sendo gravados pelas suas câmeras corporais", disse Daryl Washington.
Land pagou fiança de US$ 75 mil (R$ 374,8 mil) para não ser preso, e McCarty, US$ 150 mil (R$ 749,7 mil), de acordo com a imprensa local. Já Willis não havia sido preso até a última quarta-feira.
A morte de Murriel ecoa outros casos de homens negros assassinados em ações policiais. Em janeiro, Tyre Nichols, 29, foi espancado por agentes na cidade de Memphis e não resistiu.
As imagens gravadas pelas câmeras corporais provocaram indignação e revolta, e a repercussão do caso fez o departamento de polícia de Memphis encerrar as atividades da unidade responsável pela ação.
O caso alimentou protestos contra o racismo e a violência policial e foi comparado ao assassinato de George Floyd, em 2020, que também era um homem negro. Ele foi morto em Minneapolis depois de um policial sufocá-lo, pressionando os joelhos contra seu pescoço por mais de nove minutos. Suas últimas palavras -"Eu não consigo respirar"- se tornaram um dos lemas da onda de manifestações.
Em 2021, o presidente Joe Biden tentou aprovar a "Lei George Floyd por justiça no policiamento", que permitiria que o Departamento de Justiça convocasse polícias locais para prestar esclarecimentos, criaria um registro nacional de ações disciplinares contra agentes, exigiria o uso de câmeras nos uniformes dos agentes e em viaturas e proibiria o uso de técnicas de estrangulamento, entre uma série de outros pontos.
O projeto foi aprovado na Câmara, mas barrado no Senado, Casa na qual Biden tinha maioria apertada --apenas o voto de desempate. O presidente tentou retomar a pauta outras vezes, inclusive após a morte de Nichols, neste ano, quando pediu a aprovação durante o discurso do Estado da União, realizado ao Congresso, mas ficou ainda mais difícil agora que não tem o controle da Câmara dos Deputados.
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