MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, 69, foi reeleito, neste domingo (28), para mais um mandato de cinco anos, mostram os resultados não oficiais publicados pela agência estatal Anadolu.
Com o resultado desta que é a primeira eleição presidencial da história turca a ir para segundo turno, Erdogan pode ficar no poder até 2028, somando 25 anos como líder entre mandatos como presidente e premiê.
O presidente recebeu 52% dos votos, mais de 2 milhões a mais do que o adversário, Kemal Kilicdaroglu, 74, que ficou com 47,8%, com mais de 99,8% das urnas apuradas. O comparecimento foi de 85%.
Mesmo antes de concluída a apuração, ele já havia declarado vitória.
Por volta das 20h15 (horário local), Erdogan subiu no teto de um ônibus, transformado em palco, para se dirigir a apoiadores em Istambul. Após cantar, afirmou que os eleitores deram a ele a responsabilidade de governar o país por mais cinco anos. "O único vencedor é a Turquia", disse, ovacionado pelos presentes.
Quase uma hora e meia depois, foi a vez de Kilicdaroglu discursar. O candidato, que é presidente do Partido Republicano Popular (CHP), afirmou que a eleição foi injusta, mas não contestou os resultados e disse que pretende continuar a lutar pela democracia. Ele deve enfrentar pressão para se afastar da liderança da sigla. "Tivemos um dos processos eleitorais mais injustos dos últimos anos."
Com a apuração já finalizada em alguns polos no exterior, os eleitores registrados para votar no Brasil deram vitória à oposição, assim como tinha ocorrido no primeiro turno. Neste domingo, Kilicdaroglu recebeu 74,6% dos votos, deixando o atual presidente em segundo, com 25,4%.
Essa foi a eleição mais disputada de Erdogan, que viu sua popularidade ameaçada pela grave crise econômica que o país enfrenta e pelo terremoto que matou mais de 50 mil pessoas em fevereiro passado.
O resultado da votação, porém, mostra que ele tem uma base de apoio resiliente, especialmente nos segmentos conservadores e religiosos.
De perfil menos expressivo, Kilicdaroglu liderou uma coligação de seis partidos de oposição. No primeiro turno, há duas semanas, Erdogan ficou à frente, com 49,5% a 44,9%, e sua coligação conquistou a maioria das vagas no Parlamento, com 323 das 600 cadeiras.
Vitorioso nas urnas três vezes como premiê e duas como presidente, após promover mudanças nas regras eleitorais e na Constituição, Erdogan enfrentou a disputa mais acirrada de sua história política.
Com sua reeleição, especialistas esperam a continuidade do processo, comandado por ele e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de declínio democrático, aprofundando o perfil autoritário que aproximou a Turquia de uma autocracia.
Esse cenário preocupa além das fronteiras, uma vez que o país é um importante líder no Oriente Médio, aliado dos EUA, como membro da Otan, e parceiro econômico da Rússia de Vladimir Putin, com quem compartilha uma visão conservadora da sociedade.
Sob Erdogan, a Turquia se tornou o país com mais refugiados no mundo, ao abrigar 3,5 milhões de sírios e, desde 2016, mantém acordo estratégico com a União Europeia para retenção dos imigrantes.
Os dois candidatos votaram perto das 12h (6h, em Brasília), ambos acompanhados pelas mulheres. Tanto Erdogan, em Istambul, quanto Kilicdaroglu, em Ancara, pediram que os eleitores fossem às urnas, diante de um clima aparentemente mais tranquilo em comparação com o primeiro turno, quando foi registrada afluência de 88%.
Assim que a votação foi encerrada, às 17h locais, o atual presidente agradeceu aos eleitores no Twitter e instigou os partidários a "cuidarem das urnas até o resultado final", na observação da contagem de votos. "Agora é hora de proteger a vontade de nossa nação até o último momento", escreveu.
Apoiado pelos setores conservadores e religiosos do eleitorado de 64 milhões de pessoas, Erdogan, um carismático nacionalista, reconhecido como o homem forte que posicionou a Turquia como protagonista na geopolítica, concentrou poder, ao longo dos anos, ao eliminar a figura do premiê e decidir sozinho as políticas do governo.
Além da mídia estatal, seu partido conta com ambiente favorável também na imprensa, ao posicionar aliados no comando e intimidar vozes críticas. Essa é uma das razões pela qual o processo eleitoral, apesar de ter votação considerada segura, é visto como injusto ?a cobertura jornalística da campanha eleitoral foi desequilibrada a favor de Erdogan. No poder, ele passou a perseguir adversários políticos e a oprimir minorias étnicas e a comunidade LGBTQIA+.
Esse viés foi expresso também após a vitória. Erdogan voltou a dizer que os partidos da oposição são "pró-LGBTQIA+", em aceno ao eleitorado mais conservador. "Eles não podem se infiltrar entre nós. A família é sagrada", disse.
Ao centralizar a tomada de decisões, inclusive na economia, com a diminuição da independência do banco central, Erdogan optou por medidas, como cortes da taxa de juros, que levaram à hiperinflação de 85% no ano passado ?em abril, foi de 44%?, impactando o custo de vida, e à desvalorização da moeda. A condução da crise econômica é o maior desafio do próximo presidente.
No plano externo, a relação com a Rússia e a capacidade de equilíbrio entre Putin e aliados ocidentais são cercadas de dúvidas.
Na campanha, Kilicdaroglu tentou imprimir um caráter de referendo contra e a favor da permanência de Erdogan no poder. Com tom conciliatório, prometeu atuar pelo fim da polarização, dividida por questões religiosas e étnicas, retomar valores democráticos e uma política econômica ortodoxa. Já Erdogan reforçou o discurso religioso e tentou vincular a oposição a grupos terroristas que teriam elos com a minoria curda, que declarou apoio em Kilicdaroglu.
Ao constatar a força de Erdogan entre os eleitores, após o resultado do primeiro turno, a oposição adotou um discurso nacionalista e anti-imigração, anunciando que mandaria refugiados embora do país. A intenção era atrair parte dos votos recebidos pelo terceiro colocado, Sinan Ogan, que declarou apoio a Erdogan na reta final.
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