MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - "Já salvei a nação de cinco meses de sanchismo", parabenizou-se Alberto Núñez Feijóo, nesta terça-feira (30), na sede do Partido Popular (PP), em Madri, onde lideranças regionais se reuniram em mais um momento de comemoração pela vitória sobre a esquerda no último domingo (28).

"Demos o primeiro passo. Agora falta o definitivo", completou Feijóo, grande aposta da direita para se tornar o próximo premiê da Espanha, depois de o atual, Pedro Sánchez (PSOE), ter adiantado em quatro meses as eleições gerais.

A campanha já está a todo vapor. Na reunião, Feijóo pouco falou sobre os acordos com o Vox, da ultradireita, necessários para que o PP possa governar com maioria nas cinco regiões em que venceu o PSOE no domingo: Aragão, Valência, Cantábria, Baleares e Extremadura.

Em vez de melindrar possíveis eleitores no centro do espectro político, preferiu estender os olhos para o 23 de julho, data prevista para a nova eleição. Confiante e eufórico, seguiu batendo nas coligações que Sánchez armou para ter maioria durante seu governo. Disse, por exemplo, que o PP apoiaria a Constituição para "retirar o Eh Bildu de qualquer possibilidade de governo".

O EL Bildu tentou emplacar, nas últimas eleições, candidatos que foram condenados por terrorismo quando agiam pelo grupo separatista ETA. A proximidade do governo com eles e também com separatistas catalães da ultraesquerda é apontada como fundamental para a migração de eleitores do socialismo de Sánchez para a direita de Feijóo.

"Tudo o que sou devo à Galícia" e "estou casado com a Galícia", disse certa vez o presidente do PP ao jornal espanhol El Mundo. Trata-se da região noroeste da Espanha, aquela que forma um dente bem acima de Portugal. e famosa pela sua capital Santiago de Compostela, ponto final da rota de peregrinação de magos e andarilhos.

De fato, Feijóo não escapa do estereótipo clássico do galego, afirmando amar peixe, mariscos e o time de futebol Deportivo La Coruña. Aos 61 anos, foi casado duas vezes. A primeira, entre 2000 e 2012, com uma jornalista. Nos últimos dez anos, tem relacionamento com uma empresária, com quem tem um filho de 6 anos.

Foi na Galícia que o presidente do PP nasceu, foi criado e se criou politicamente. Advogado, iniciou a carreira já no partido conservador, em 1991, aos 30 anos. Pelas duas décadas seguintes, batalhou no baixo, e depois no médio escalão da política regional.

Houve um hiato de quase dez anos, quando mudou-se para Madri e participou do governo do então premiê José María Aznar (1996-2004). Feijóo trabalhou no Ministério da Saúde e foi diretor dos Correios. De volta à província em 2003, assumiu a presidência regional do PP, cargo que manteve por 16 anos. Em 2009, foi eleito presidente da Junta da Galícia (equivalente ao cargo de governador). Foi reeleito em 2012, 2016 e 2020.

Esses mandatos coincidiram com os grandes anos de bonança do PP. Mariano Rajoy, então líder do partido, foi o premiê da Espanha entre 2011 e 2018 --quando caiu, após devassa de escândalos de corrupção. Foi nesse momento que o socialista Pedro Sánchez alcançou a liderança --poder esse que agora pode voltar ao PP.

Pode-se dizer que Feijóo se tornou uma liderança efetivamente espanhola apenas no ano passado, quando foi, finalmente, alçado à presidência nacional do Partido Popular, sendo escolhido, sem qualquer resistência, por 98,35% dos filiados.

Na anedota política, há uma série de gafes cometidas por Feijóo que valem ser lembradas. Conta-se que, em 2009, ao visitar uma fazenda em La Coruña, espantou-se ao ver que todos aos animais apresentados tinham nome de mulher. Questionou o proprietário e levou a seguinte resposta: "Porque são vacas. Como deveríamos chamá-las? Juliano?".

Em outra situação, após um encontro com o setor pesqueiro da província, postou nas redes sociais um apelo para pesca menos restritiva da merluza, pois, um marinheiro havia lhe contado que, se não houvesse a liberação, esses peixes chegariam às praias e abocanhariam os banhistas.

Menos engraçado foi quando, há dez anos, El País, o maior jornal da Espanha, publicou uma foto antiga de férias de Feijóo ao lado do narcotraficante Marcial Dorado. Pressionado para se demitir do governo da Galícia, não o fez.

Sorte para ele que, no horizonte de dois meses, pode se tornar o próximo governante da sexta maior economia da Europa, atrás apenas de Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Rússia.


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