BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - No cargo há menos de um ano, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, atravessa um escândalo que envolve sua chefe de gabinete, seu ex-chefe de campanha, uma babá, um polígrafo, áudios vazados e acusações de financiamento ilegal de campanha. Enquanto isso, reformas prometidas pelo primeiro líder de esquerda do país foram paralisadas.

A crise em Bogotá já dura alguns dias, mas estourou neste domingo (4), quando a revista local Semana divulgou áudios supostamente enviados por Armando Benedetti, que chefiou a campanha de Petro à Casa de Nariño no ano passado e depois virou embaixador na Venezuela, para Laura Sarabia, braço direito do presidente.

Benedetti se mostra irritado com o tratamento que recebe dela e de Petro e a ameaça, dizendo que, se revelar um suposto financiamento ilegal da campanha de 15 bilhões de pesos (cerca de R$ 17 milhões em valores atuais), todos na cúpula do governo vão para a cadeia. Ele afirma que os áudios foram manipulados.

"Laura, todos nós afundamos. Estamos todos acabados. Vamos presos. Com tanta merda que eu sei, todos vamos nos foder. Se vocês me foderem, vou foder vocês", dizem os áudios repletos de palavrões atribuídos a ele, sem data divulgada. "Fiz cem reuniões, dei 15 bilhões de pesos [à campanha]. Se não fosse por mim, não ganhavam."

Benedetti afirma que grande parte desse dinheiro foi "para o Pacífico", uma das áreas do país onde o presidente obteve seus melhores resultados eleitorais, e compara a situação ao escândalo do "processo 8.000", em referência ao financiamento do cartel de Cali à campanha de Ernesto Samper Pizano (1994-1998).

Isso levou Petro a ir às redes sociais negar que sua campanha tenha recebido dinheiro de narcotraficantes, entre outras acusações feitas ao longo da semana passada.

"Ninguém do gabinete do governo, nem diretores, nem comandantes da força pública, nem diretores de aparelhos de Inteligência ordenaram interceptações telefônicas, ou batidas ilegais, nem se aceitou chantagens em relação a cargos públicos, ou contratos, nem se recebeu na campanha dinheiro de pessoas ligadas ao narco", escreveu ele.

"Eu não aceito chantagens, nem vejo a política como um espaço de favores pessoais", acrescentou o esquerdista, solidarizando-se com Sarabia por sofrer "uma pressão enorme".

Até poucos dias atrás, Benedetti e Sarabia pertenciam ao círculo próximo do presidente. Sarabia, que tem 29 anos, inclusive se aproximou de Petro através de Benedetti. Mas os dois foram demitidos de seus postos na última sexta-feira (2), após se envolverem numa intrincada história que ainda gera muitas perguntas.

Tudo começou em janeiro, quando uma pasta com US$ 7 mil foi roubada da casa da chefe de gabinete. Logo depois, sua babá foi levada a um prédio da Presidência, interrogada com um polígrafo e também teve conversas telefônicas interceptadas, conforme a funcionária contou à revista Semana na última semana, o que gerou acusações de abuso de poder por parte do governo.

Antes de trabalhar para Sarabia, a babá também já havia trabalhado para Benedetti. Ela teria feito a denúncia na mídia logo após viajar para Caracas junto com ele em um avião particular, por isso iniciou-se uma troca de acusações de complô, agora investigada pelo Ministério Público colombiano.

A crise, porém, tomou outra proporção após a divulgação dos áudios. O Conselho Nacional Eleitoral abriu uma investigação preliminar sobre o financiamento da campanha de Petro nesta segunda-feira (5), convocando os dois principais envolvidos a dar explicações.

Benedetti afirmou no Twitter que os áudios foram manipulados e pediu desculpas ao presidente e a Sarabia "pela agressão e pelo ataque mal-intencionado". Petro, por sua vez, respondeu: "Acho que entendo o que se passa na mente de Armando Benedetti. Aceito suas desculpas, mas ele deve explicar suas palavras à Promotoria e ao país".

Diante da confusão, a Câmara Baixa (uma das casas do Parlamento colombiano) anunciou a suspensão dos debates sobre as profundas reformas que o governo tenta fazer no Congresso, em meio a muitos obstáculos, já que Petro, como muitos outros líderes latino-americanos, não dispõe de maioria no Legislativo.

"Estamos congelando as discussões das reformas até que possamos reconstruir a coalizão de governo [...] Discussões tão importantes [...] não podem ser mediadas por fatores externos", declarou o presidente da Câmara, David Racero, do partido governista.

No poder desde agosto, Petro iniciou o seu governo com o apoio da esquerda e de alguns partidos tradicionais no Congresso, mas a ampla coalizão governista foi se desmanchando com o passar dos meses. A base se distancia cada vez mais de suas reformas, que incluem reduzir a participação privada na saúde e reformar os sistemas de trabalho, Previdência e Justiça.


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