SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chegou à Arábia Saudita nesta terça-feira (6) para tentar estabilizar o relacionamento de Washington com o país do Oriente Médio. Por trás do encontro entre as duas nações há anos de divergências profundas, que vão de preços do petróleo a violação de direitos humanos.
A relação entre os dois países teve um mau começo sob o governo do atual presidente americano, Joe Biden. Em 2019, o democrata disse durante a sua campanha que, se eleito, trataria a Arábia Saudita como "o pária que eles são". Logo após assumir o cargo, em 2021, divulgou uma avaliação da inteligência dos EUA que concluía que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, também conhecido pela sigla MbS, aprovou a operação para capturar e matar o jornalista Jamal Khashoggi em 2018.
Alçado ao cargo de primeiro-ministro em setembro do ano passado, Mohammed se encontrou com Blinken nesta terça. O assunto foi o "aprofundamento da cooperação econômica", especialmente nos campos de energia limpa e tecnologia, de acordo com o Departamento de Estado. O secretário deve se encontrar com outros altos funcionários até quinta-feira (8), tempo que permanecerá na capital Riad.
Antes de receber o principal diplomata dos EUA, a cidade já havia sido visitada recentemente por outro membro do alto escalão de Washington ?no início de maio, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, viajou para o país. Já em julho de 2022, o próprio Biden fez a sua visita. A viagem, porém, foi pouco produtiva para aliviar as tensões.
Cada vez mais, Riad tenta reafirmar sua influência regional ao mesmo tempo em que fica menos interessada em um alinhamento com os EUA. O exemplo mais recente foi em maio, quando MbS abraçou o ditador sírio, Bashar al-Assad, em uma cúpula da Liga Árabe que readmitiu a Síria no grupo após mais de uma década de suspensão, um movimento que Washington disse não apoiar.
Nos últimos dias, o país prometeu cortar ainda mais a produção de petróleo ?medida que pode deteriorar a relação com os EUA. Washington já havia ficado contrariada quando a Arábia Saudita, que é o maior exportador de petróleo do mundo, recusou-se a reduzir os preços da commodity após o início da Guerra da Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Além de tratar de petróleo, Blinken deve tentar afastar a influência chinesa e russa na região e alimentar esperanças de uma eventual normalização dos laços entre Arábia Saudita e Israel. Na segunda-feira (5), o secretário disse que Washington tinha "um real interesse de segurança nacional" em defender a normalização das relações diplomáticas entre os dois países, mas advertiu que isso não aconteceria rapidamente.
A viagem acontece sob pressão de grupos de direitos humanos. A Arábia Saudita tem investido centenas de bilhões de dólares na abertura de sua economia para reduzir a dependência do petróleo bruto, reformas que são acompanhadas de uma série de prisões de críticos de MbS.
Dos EUA, familiares de detidos pediram em uma carta nesta terça que Blinken pressionasse as autoridades pela libertação imediata de seus parentes. A lista inclui o clérigo Salman al-Odah, o defensor de direitos humanos Mohammed al-Qahtani e o trabalhador humanitário Abdulrahman al-Sadhan.
Autoridades dos EUA afirmaram na semana passada que havia uma conversa em andamento sobre a "promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais", mas não disseram se Blinken buscaria alguma garantia dos sauditas no assunto. Nesta terça, o secretário afirmou que o relacionamento bilateral "é fortalecido pelo progresso nos direitos humanos", segundo o porta-voz do Departamento de Estado.
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