SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Marinheiros e turistas que navegam em regiões próximas às costas de Espanha e Portugal somaram a suas listas de preocupações um novo fator desde 2020: as orcas da região. Ataques que envolvem esses animais se tornaram mais frequentes e violentos.

Na última semana de maio, orcas danificaram de maneira grave a estrutura de um veleiro na costa sul da Espanha. A embarcação estava a caminho do estreito de Gibraltar quando um grupo desses animais quebrou o leme e perfurou o casco depois de colidir com o veleiro.

As quatro pessoas da tribulação entraram em contato com a Guarda Costeira, que os resgatou. Um barco e um helicóptero foram usados para realizar o reboque, em um episódio que voltou a chamar a atenção para o assunto já estudado por biólogos e autoridades.

O tema é monitorado de perto pelo GTOA, ou Grupo de Trabalho Orca Atlântica, que acompanha a vida das orcas ibéricas -também conhecidas como orcas do estreito de Gibraltar.

O tamanho dos membros da subpopulação varia de 5 metros a 6,5 metros para adultos, pequeno em relação a outras espécies como as orcas Antárticas, que chegam a 9 metros.

O grupo de trabalho afirma em seu site que, desde 2020, tem sido observado um novo comportamento, que denomina como disruptivo, em que orcas jovens passaram a interagir especialmente com veleiros. Em alguns casos, os animais tocaram, empurraram e mesmo giraram as embarcações. Em outros, como o relatado no final de maio pela embarcação de bandeira britânica, houve danos à estrutura.

Segundo o GTOA, o primeiro encontro de barcos com esse animais foi registrado em 2020 -de julho a novembro daquele ano foram 52 casos do tipo no estreito de Gibraltar e arredores. Depois, em 2021, foram relatados mais 197 casos envolvendo orcas. Em 2022, o número foi de 207.

Já neste ano, até o final do mês de maio, foram ao menos 53 interações, sendo que em ao menos 12 delas foram registrados danos aos barcos, segundo números acessados pelo jornal espanhol El País.

A maioria das embarcações com as quais os animais interagem é de veleiros, tanto monocascos (72% dos casos) como catamarã (14%). Mas também há registros com lanchas (6%) e pesqueiros (3%), por exemplo.

Ainda que a maioria das interações tenha sido inofensiva, e que as orcas ataquem, em média, um a cada cem barcos que passam por essa região, o biólogo Alfredo López Fernández, da Universidade de Aveiro, em Portugal, e membro do GTOA, afirmou ao site Live Science que pelo menos três barcos já foram afundados pelos animais.

À publicação o biólogo, autor de um estudo sobre o assunto, explicou que a principal hipótese para esse comportamento é que um evento traumático tenha desencadeado uma mudança em uma das orcas e que, assim, as demais passaram a imitá-la nos ataques.

Os pesquisadores suspeitam que a personagem-chave da história seja a orca apelidada de White Gadis que teria, disse Fernández, sofrido um "momento crítico de agonia" que pode ter sido a colisão com um barco ou com uma armadilha de pesca ilegal, o que acionou algo em seu comportamento. "Essa orca, traumatizada, seria quem iniciou essa atitude de contato físico com os barcos", explicou o pesquisador.

A situação levou o Ministério para a Transição Ecológica do governo da Espanha a dar início a uma campanha de marcação desses animais. A ideia é identificá-los e, assim, permitir que se saiba sua localização para que seja elaborado um mapa semanal dos deslocamentos.

A informação seria compartilhada com os órgãos responsáveis pelo assunto, como a Guarda Costeira, e ficaria disponível para navegantes, com o objetivo de minimizar o risco de interação com as orcas, para que eles possam diminuir a navegação nos trechos com animais.

No Instagram, April Boyes, britânica que esteve envolvida em um recente episódio com as orcas num trajeto dos Açores a Gibraltar, relatou que os animais chegaram a danificar o barco em que estava. Pouco depois, porém, ela fez uma nova publicação pedindo que as pessoas não "demonizem as orcas".

"Como defensora da vida marinha e da proteção dos nossos oceanos, não posso tolerar essa demonização. Sim, é algo bastante assustador, mas pesquisas como as minhas também podem ser feitas nesses encontros. Espero que eles não sejam simplesmente impedidos."


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