SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ditador Aleksandr Lukachenko anunciou que as primeiras "bombas e mísseis" com ogivas nucleares russas estão no país. Ele já havia dito antes que isso iria acontecer, após o pacto assinado em março, e o presidente Vladimir Putin afirmou no fim de semana que a previsão de entrada em operação é em 7 ou 8 de julho.
"As bombas são três vezes mais poderosas do que as [jogadas pelos americanos em 1945 nas cidades japonesas] de Hiroshima e Nagasaki", disse ele em entrevista concedida ao canal estatal russo Rússia-1.
A confirmar a informação, serão ogivas com potência de 45 a 60 quilotons. Seu uso é tático, visando a destruir alvos militares ou impedir avanço de adversários, em oposição àquelas estratégicas, que buscam ganhar guerras obliterando cidades inteiras.
Especialistas de entidades como o Boletim dos Cientistas Atômicos (EUA) têm expressado dúvidas sobre o acerto e a velocidade de sua implementação, sugerindo que Putin pode estar apenas querendo intimidar os beligerantes membros orientais da Otan, a aliança militar liderada por Washington, como a Polônia.
No contexto da Guerra da Ucrânia, é mais uma etapa das ameaças nucleares do Kremlin contra o Ocidente, a quem acusa de lutar um conflito por procuração contra a Rússia. A Otan protestou contra a medida, que considerou uma escalada desnecessária.
Desde que sobreviveu a grandes protestos em 2020, Lukachenko perdeu sua condição de jogar duplo com o Kremlin e a Europa Ocidental, caindo no colo político do Kremlin. Entrou em escaramuças com poloneses e lituanos, e nesta quarta disse que seu país "sempre foi um alvo" da Otan.
Está em processo de unificação de suas forças com as de Putin, embora não participe diretamente da Guerra da Ucrânia e permita apenas o uso de seu solo pelos russos. As bombas nucleares, primeiras a serem posicionadas fora da Rússia desde a devolução das armas por Belarus, Ucrânia e Cazaquistão na década de 1990, serão operadas em mísseis Iskander e caças táticos Su-25 adaptados.
A Rússia tem cerca de 1.800 dessas bombas, que não eram controladas pelo último acordo de limitação de armas nucleares, de resto suspenso por Putin em fevereiro. Os EUA têm posicionadas cerca de cem ogivas em seis bases da Otan na Europa, nunca as tendo retirado após o fim da Guerra Fria, em 1991.
DITADOR TCHETCHENO PEDE AJUDA A KIEV E DEPOIS RECUA
O ditador da república russa da Tchetchênia, Ramzan Kadirov, apelou aos serviços de inteligência da Ucrânia para localizar seu número 2, que segundo relatos teria morrido ou sido ferido em combates no sul do país invadido por Vladimir Putin há quase 16 meses.
O insólito pedido foi feito em sua conta no Telegram. "Peço que a inteligência ucraniana forneça informações sobre qual local e posições foram atingidas, para que eu ainda possa encontrar meu querido irmão", dizia o texto. Kadirov prometeu "uma generosa recompensa" pela informação.
Depois, de forma ainda mais estranha, Kadirov voltou às redes para dizer que seu adjunto estava "vivo e bem", e que só tinha feito o pedido para "afundar a mídia ucraniana" e fazê-la "acreditar em suas mentiras".
O episódio começou na manhã desta quarta (14), quando canais ucranianos relataram a morte de Adam Delimkhanov, comandante das forças tchetchenas em operação visando a deter a contraofensiva de Kiev em Zaporíjia, no sul. Ele é o mais próximo aliado de Kadirov, visto como seu braço-direito.
Depois, a TV Zvezda (estrela, em russo), das Forças Armadas russas, disse que ele havia de fato sido ferido. Por fim, à tarde (manhã no Brasil), o presidente da Duma (equivalente à Câmara dos Deputados), Viacheslav Volodin, foi a plenário: "Falei com ele agora há pouco, está vivo e bem". Delimkhanov é membro da Casa.
O Kremlin, ao mesmo tempo, adotou postura mais conservadora. Seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse que estava preocupado com as notícias e esperando mais informações. Por fim, Kadirov disse que está tudo bem, o que nem tampouco é confiável.
O episódio é ilustrativo da balbúrdia informativa da guerra e coloca na ribalta o papel dos tchetchenos, que parece destinado a crescer na guerra após o agravamento da crise entre os mercenários do Grupo Wagner e o Ministério da Defesa.
Nesta quarta, o líder do grupo, Ievguêni Prigojin, reafirmou que não irá assinar o contrato que o ministério determinou ser obrigatório para submeter todas as forças irregulares a seu comando. O Wagner, com talvez 50 mil soldados, antes de ser o principal fornecedor de carne para o "moedor" da batalha que venceu em Bakhmut, em Donetsk, no leste da Ucrânia, é a principal formação do tipo no país.
Prigojin jogava afinado com Kadirov contra a cúpula militar, mas o tchetcheno agora aceitou colocar os voluntários sob seu comando no guarda-chuva da Defesa. Não está claro o quanto isso afeta suas tropas já associadas à Guarda Nacional, ente separado das Forças Armadas que responde diretamente a Putin.
A expectativa é que Kadirov, que já havia tomado de forma tragicamente épica a cidade de Mariupol, em 2022, ganhe papel de maior destaque na guerra. Ele é um ferrenho aliado de Putin, responsável pela estabilidade em seu conturbado flanco sul e com extensos contatos no mundo árabe e muçulmano.
Em campo, os combates seguem em três frentes em Donetsk e Zaporíjia. Kiev voltou a reportar ganhos modestos em torno de Bakhmut, e Moscou diz ter repelido os ataques. A dinâmica contrainformativa continuará assim até que fique claro se a Ucrânia conseguirá romper alguma linha defensiva principal, algo que os relatos iniciais sugerem ser tarefa complexa.
Ataques com mísseis de cruzeiro russos continuaram no país invadido, deixando três mortos no porto de Odessa, no sul, e outros dez em outras cidades. Em todos os casos, os alvos eram áreas ligadas à logística da infraestrutura, mas as vítimas não tinham necessariamente nada a ver com isso.
Em Zaporíjia, a Agência Internacional de Energia Atômica postergou a visita que faria à usina nuclear homônima, que está sob risco desde que a represa cujo reservatório lhe fornece água para resfriar os reatores foi explodida, na semana passada ?episódio pelo qual Moscou e Kiev se culpam.
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