SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A polícia da Grécia prendeu nesta quinta-feira (15) nove cidadãos do Egito suspeitos de tráfico de pessoas em desdobramento do caso que envolve o naufrágio de uma embarcação com centenas de migrantes perto da costa do país nesta quarta-feira (14). Até aqui, ao menos 78 corpos foram encontrados.

Entre os detidos está o capitão do barco que, superlotado, virou no mar antes de naufragar. As prisões ocorreram em Kalamata, a cidade portuária da península do Peloponeso para onde foram levados os sobreviventes do naufrágio, uma das priores tragédias da história da região envolvendo migrantes.

A Guarda Costeira inicialmente havia afirmado que 79 corpos haviam sido encontrados. Nesta quinta, revisou o número para 78. Há ao menos 104 sobreviventes. Quando o barco naufragou, porém, havia pelo menos 750 pessoas, o que revela o tamanho que a tragédia pode atingir.

A embarcação pesqueira zarpou do Egito sem passageiros rumo a Tubruk, cidade do leste da Líbia, no norte africano, onde os migrantes teriam embarcado rumo à Itália. O Supremo Tribunal grego ordenou a abertura de uma investigação para apurar as razões do ocorrido.

Autoridades temem que a maioria dos desaparecidos esteja morta, como é comum neste tipo de acidente. Prevê, ainda, que muitas das vítimas sejam mulheres e crianças, já que todos os sobreviventes, disse uma fonte da Guarda Costeira à agência AFP, são homens.

Um dos sobreviventes relatou a médicos no hospital de Kalamata que viu centenas de crianças e mulheres no porão do navio --trata-se de uma prática comum de traficantes de pessoas colocar as pessoas trancadas no porão para manter o controle do grupo de migrantes.

Um dia após o naufrágio, dois navios de patrulha, três helicópteros e outras nove embarcações menores basculhavam a área, uma das mais profundar do mar Mediterrâneo.

Na Grécia, ao menos 5.000 pessoas protestaram em Atenas e na Tessalônica em solidariedade aos refugiados e em denúncia ao endurecimento da política migratória da União Europeia.

Os sobreviventes são, em sua maioria, da Síria (47), do Edito (43) e do Paquistão (12). Muitos relataram que, no momento do naufrágio, nenhuma das pessoas a bordo usava colete salva-vidas.

Em nota, o Itamaraty disse nesta quinta-feira que o governo brasileiro recebeu com preocupação a notícia do naufrágio e manifestou condolências às famílias das vítimas. O ministério chamou ainda a atenção para a alta das migrações forçadas no mundo, desenhada em números em relatório da ONU divulgado nesta quarta.

O material do Acnur, agência de refugiados, mostra que o número de pessoas deslocadas à força no mundo por guerras, violência, perseguição ou mudanças climáticas atingiu 108,4 milhões ao final de 2022, a maior cifra da série histórica, iniciada na década de 1970.

"O Brasil volta a conclamar a comunidade internacional a concertar ações para atenuar o crescente drama dos refugiados", diz a nota do Ministério das Relações Exteriores. Na próxima semana, entre os dias 20 e 22, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá a Roma e ao Vaticano.

Em comunicado também nesta quinta-feira, a representante do Acnur na Grécia, Maria Clara Martín, disse que as mortes poderiam ter sido evitadas se tivessem sido criados mecanismos para impedir que pessoas se sentissem impelidas a emigrar devido a conflitos e perseguições. "Casa vida perdida é uma tragédia."

Projeto da ONU que monitora o assunto estima que, desde 2014, houve 27 mil mortes e desaparecimentos de migrantes no mar Mediterrâneo.

O papa Francisco, que se recupera de uma cirurgia na região abdominal e deve receber alta nesta sexta-feira (16), disse em nota estar consternado. "O papa envia suas orações sinceras pelos muitos migrantes que morreram e todos os que ficaram traumatizados com essa tragédia", diz um comunicado publicado pelo Vaticano.

Essa é a maior tragédia do tipo ocorrida nos arredores da Grécia ao menos desde 2016, segundo levantamento da agência AFP. Em 3 de junho daquele ano, 320 pessoas morreram ou foram declaradas desaparecidas após um naufrágio em condições similares.


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