SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma trilha de carros capotados queimava na noite desta quarta-feira (28) na avenida Pablo Picasso, na região metropolitana de Paris, enquanto manifestantes soltavam fogos de artifício nas fileiras da polícia. Eles protestavam pelo segundo dia contra um agente da capital francesa que matou um adolescente de origem argelina de 17 anos.

A morte de Nahel, na terça (27), foi filmada por uma testemunha e o registro viralizou nas redes sociais. O vídeo mostra dois policiais se aproximando da janela do motorista de um carro de luxo. Um deles aparentemente conversa com o adolescente, enquanto o outro aponta a arma. Após alguns segundos, o motorista acelera, ao que o policial armado reage atirando uma vez. Poucos metros à frente, sem direção, o Mercedes AMG sobe numa calçada e bate num poste. Nahel morreu uma hora depois.

As autoridades pediram calma, mas o uso da força letal revoltou a população, que vê brutalidade policial nos subúrbios etnicamente diversos das maiores cidades da França. Com 2.000 agentes mobilizados, a corporação fez 77 prisões na segunda noite de protestos em Paris ?na terça, pelo menos 31 pessoas foram presas e 24 policiais ficaram feridos.

Os atos se espalharam para outras cidades. A polícia entrou em confronto com manifestantes na cidade de Lille, no norte, e em Toulouse, no sudoeste. Também houve agitação em Amiens, Dijon, e no departamento administrativo de Essonne, segundo um porta-voz da polícia.

A revolta fez o presidente Emmanuel Macron pedir justiça. "Um adolescente foi morto, isso é inexplicável e indesculpável. Nada justifica a morte de um jovem", disse. "Precisamos de calma para que a justiça seja feita, precisamos de calma em todos os lugares porque não queremos uma situação que se degenere", acrescentou o presidente, manifestando "solidariedade e carinho" à família da vítima.

Grupos de direitos humanos alegam racismo sistêmico nas forças policiais na França, uma acusação que Macron já negou em outras ocasiões. Apesar disso diversos países expressaram às Nações Unidas preocupação com a violência policial na França em maio, quando o país estava convulsionado com uma onda de protestos contra uma reforma da Previdência.

No TikTok, uma mulher que se identificou como a mãe de Nahel convocou a população a ir às ruas de Nanterre, região metropolitana de Paris, no começo da tarde desta quinta-feira. "Venham todos, vamos liderar uma revolta pelo meu filho", disse ela.

A corporação informou que os agentes tentaram parar o carro depois de o motorista cometer várias infrações de trânsito, mas ele teria fugido, antes de ficar preso num congestionamento. Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, os dois policiais que aparecem na abordagem são membros experientes da polícia de trânsito e não tinham registro de má conduta. Darmanin, porém, fez uma ressalva com base nas imagens. "Um ato como o que vimos, se a investigação confirmar os vídeos, nunca se justifica."

Diversas autoridades se manifestaram após o episódio. Em entrevista coletiva nesta quarta, Patrick Jarry, prefeito de Nanterre, disse que a cidade viveu "um dos piores dias de sua história". "Vamos parar esta espiral destrutiva. Queremos justiça para Nahel, vamos conseguir por meio de mobilização pacífica." A primeira-ministra francesa, Élisabeth Bourne, na Assembleia Nacional, disse que a ação "parece claramente não cumprir as regras" das forças policiais. Os legisladores, então, fizeram um minuto de silêncio.

Personalidades de fora da política também se posicionaram. O ator Omar Sy e o jogador de futebol Kylian Mbappé expressaram apoio à família da vítima. "Minha França dói", escreveu Mbappé em seu perfil no Twitter.

Essas posições foram criticadas por um dos principais sindicatos policiais, o Alliance, e por líderes de ultradireita. "É inconcebível que o presidente da República, assim como certos dirigentes políticos, artistas e outros, desrespeite a separação de Poderes e a independência da justiça, condenando nossos colegas antes mesmo de uma sentença", afirmou o Alliance. Já a ex-candidata presidencial Marine Le Pen considerou a reação de Macron "irresponsável".


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