SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após retirar blindados do Grupo Wagner e pedir para que os mercenários se incorporem às Forças Armadas da Rússia, o Kremlin aposta agora em uma guinada midiática contra Ievguêni Prigojin, o líder da empresa paramilitar. Neste fim de semana, o rebelde viu o diretor de seu principal veículo de comunicação anunciar o fechamento das operações na Rússia e escutou um influente comunicador da televisão estatal lhe chamar de louco por dinheiro.

"Prigojin enlouqueceu devido às grandes quantias de dinheiro. A sensação de acreditar que tudo é permitido começou há muito tempo, desde as operações [do grupo Wagner] na Síria e na África", disse neste domingo (2) Dmitri Kisiliov, apresentador de um programa semanal da Russia 1, uma das maiores emissoras do país. Segundo Kisiliov, tal sensação foi reafirmada após a tomada das cidades ucranianas de Soledar e Bakhmut pelos mercenários.

O apresentador pró-Vladimir Putin acrescentou que Prigojin "acreditava que poderia se opor ao Ministério da Defesa russo, ao Estado e ao próprio presidente ao mesmo tempo". Após a tentativa frustrada de golpe, o líder mercenário disse que não queria tirar o presidente russo do poder, mas apenas o ministro da Defesa, Serguei Choigu.

Kisiliov disse ainda, sem apresentar provas, que o Grupo Wagner recebeu 858 bilhões de rublos (R$ 46 bilhões) do poder público. Na terça-feira (27), em conversa com autoridades de segurança, Putin disse que o grupo ganhou, para atividades de combate, US$ 1 bilhão (R$ 4,78 bilhões) de março de 2022 a março de 2023 e que os contratos de alimentação tocados por outras empresas de Prigojin dobravam esse valor.

Para o comunicador russo, aliás, a tentativa de golpe foi desencadeada pela recusa do Ministério da Defesa da Rússia em prorrogar os contratos assinados com a empresa de alimentos Concord, que pertence ao líder mercenário.

Ainda neste domingo, o diretor de um dos portais de notícias de Prigojin disse que o grupo que controla seus veículos de comunicação deve fechar nos próximos dias. O Patriot Media, cujo site mais famoso era o RIA FAN, tinha uma linha editorial nacionalista e pró-Kremlin, além de ser favorável ao Grupo Wagner.

"Estou anunciando nossa decisão de fechar e deixar o setor de informação do país", disse o diretor da RIA FAN, Ievgeni Zubarev, em um vídeo publicado na noite de sábado nas redes sociais do grupo de comunicação. Ele elogiou o histórico do Patriot Media, dizendo que defendeu tanto Prigojin quanto Putin de ataques da oposição anti-Kremlin, incluindo de Alexei Navalni, principal opositor do presidente russo.

Zubarev não deu motivos para o fechamento. Mas na sexta (30), o jornal russo Kommersant informou que o órgão de comunicações do país, Roskomnadzor, havia bloqueado veículos ligados a Prigojin, sem dar mais detalhes.

A mídia russa também informou que uma "fábrica de trolls" supostamente usada pelo rebelde para influenciar a opinião pública em países estrangeiros, incluindo os Estados Unidos, foi dissolvida. Em novembro do ano passado, Progojin assumiu que interferiu nas eleições americanas e disse que continuaria fazendo isso. Ele é alvo do Departamento de Estado.

As táticas midiáticas do Kremlin devem contribuir ainda mais para a perda de popularidade do rebelde. A primeira pesquisa de opinião independente feita após o motim na Rússia apontou que Prigojin tem o apoio de 29% da população -antes, era de 58%.

Agora o rebelde vive na Belarus, sob tutela do ditador bielorusso, Aleksandr Lukachenko, que mediou o fim do motim contra o Kremlin e garantiu ao Grupo Wagner uma região para que os mercenários pudessem instalar suas base militares.

A Polônia, que faz fronteira com a Belarus, está preocupada com a presença do grupo na região. Na sexta, o jornal Financial Times informou que Varsóvia teme que os mercenários usem migrantes de países onde eles atuam para desestabilizar a Europa Central e Oriental -em linha semelhante ao que aconteceu em 2021.

Até por isso, a Polônia enviará 500 policiais para sua fronteira, disse o ministro do Interior, Mariusz Kaminski, neste domingo. "Eles se juntarão a 5.000 guardas de fronteira e 2.000 soldados que protegem a segurança desta região", acrescentou.


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