SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um tribunal da Suécia condenou à prisão nesta quinta-feira (6) um cidadão turco de origem curda acusado de tentativa de extorsão a mando do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo armado rotulado como terrorista por países ocidentais.
A sentença foi determinada a poucos dias da cúpula anual da Otan, a aliança militar ocidental, marcada para a semana que vem. Na reunião, representantes dos países-membros devem discutir a entrada da Suécia na organização, algo que encerraria mais de 200 anos de neutralidade militar do país europeu.
Membro da Otan, Ancara bloqueia há meses a entrada de Estocolmo na aliança devido ao que descreve como "tolerância a extremistas curdos" em seu território, argumento refutado pelo governo sueco.
O homem turco foi condenado a quatro anos e meio de prisão e será deportado assim que cumprir a pena. Segundo a acusação, ele tentou forçar um comerciante curdo em Estocolmo a enviar dinheiro ao PKK, ameaçando-o com uma arma de fogo. "A tentativa de extorsão ocorreu no âmbito de um extenso esquema de arrecadação de fundos realizado pelo PKK na Europa", afirmou o juiz Måns Wigen.
A decisão é consequência de um endurecimento da legislação antiterrorista sueca, que entrou em vigor em julho do ano passado. Trata-se da primeira vez que a lei é aplicada a um apoiador do PKK. Ilhan Aydin, advogado do réu, disse à agência de notícias AFP que seu cliente deve recorrer.
Apesar de pressões internacionais no contexto da Guerra da Ucrânia, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, havia minimizado no mês passado as perspectivas de entrada da Suécia na Otan. "A Suécia tem suas expectativas, mas isso não significa que vamos atendê-las", disse na ocasião, numa declaração dúbia. "Para atendermos às expectativas, a Suécia primeiro tem de fazer a sua parte."
Após a decisão do tribunal, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que o presidente turco deve se reunir com seu homólogo sueco na segunda (10), um dia antes do início da cúpula da aliança.
"Estamos trabalhando para uma decisão positiva na cúpula", disse Stoltenberg em Bruxelas, após se encontrar com os ministros das Relações Exteriores dos dois países. "Mas ainda temos trabalho a fazer."
O governo de Erdogan pede dezenas de extradições de cidadãos turcos na Suécia considerados "terroristas" por Ancara devido a supostas ligações com o PKK. Já autoridades suecas dizem que as exigências são impossíveis de serem atendidas, uma vez que os tribunais do país são independentes.
As diferenças políticas entre a Turquia e a Suécia ficaram mais evidentes no mês passado, com a organização de protestos em Estocolmo a favor dos direitos dos curdos. Na ocasião das manifestações, a imagem da bandeira do PKK foi projetada no edifício do Parlamento sueco.
Ao comentar o episódio, Erdogan disse que a manifestação deveria ter sido reprimida. "Qual é o trabalho da polícia lá? [...] Eles devem exercer seus direitos. A polícia deve impedir isso [protestos]", afirmou.
Curdos e turcos mantêm relação conturbada há séculos. Descendentes da Pérsia antiga, os curdos são a maior nação apátrida do mundo, com população entre 30 milhões e 40 milhões de pessoas. Desde 4.300 a.C., eles habitam uma grande área montanhosa de 500 mil quilômetros quadrados que se estende por partes dos territórios de Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia -a região é conhecida como Curdistão.
Os curdos exigem um território unificado. Na Turquia, por exemplo, há grupos armados que lutam contra o controle de Ancara há décadas. Mas sempre que um levante ou iniciativa -como um referendo em 2007, no Iraque- tenta torná-los independentes, lideranças curdas são esmagadas pelos governos locais.
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, tornou-se popular entre os curdos após as tratativas de um acordo para pôr fim à luta por autonomia. Em 2015, no entanto, as negociações fracassaram com a retomada do conflito entre Estado e militantes do PKK, que persiste até hoje.
A Finlândia se incorporou à aliança em abril --segundo Erdogan, o país garantiu sua bênção após tomar medidas para reprimir grupos vistos por Ancara como terroristas, em geral opositores do presidente.
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