SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O início da mais tradicional oração entre os cristãos, o "Pai Nosso", pode ser problemático devido à sua ligação com o controle patriarcal, segundo o arcebispo de York, Stephen Cottrell.
"Eu sei que a palavra 'pai' é problemática para aqueles cuja experiência de pais terrenos é destrutiva e abusiva, e para todos que têm enfrentado um controle opressivo e patriarcal na vida", afirmou Cottrell em discurso de abertura do Sínodo Geral da Igreja Anglicana, nesta sexta-feira (7).
Em sua fala na reunião, uma espécie de assembleia periódica para deliberar sobre temas estruturais dessa que é uma das maiores igrejas protestantes do mundo, o arcebispo falava sobre união e fraternidade.
"No mundo de hoje, o sentimento de pertencimento a uma única família humana está desaparecendo, e o sonho de trabalhar juntos pela justiça e pela paz parece uma utopia ultrapassada", disse, citando um discurso do papa Francisco. "Com isso em mente, quero voltar à oração que Jesus ensinou a seus amigos, a Oração do Senhor, como a chamamos."
Ao falar do "Pai Nosso", então, Cottrell fez a observação e continuou o seu longo discurso --o que foi suficiente para gerar desconforto em alguns setores da igreja.
"O arcebispo de York está dizendo que Jesus estava errado?", afirmou, segundo o jornal britânico The Guardian, o cônego Dr. Chris Sugden, presidente do grupo conservador anglicano Mainstream. "Parece ser emblemática a escolha de alguns líderes da igreja de seguir a cultura em vez das escrituras."
"Se as pessoas tiveram um relacionamento difícil com seus pais humanos, então a alternativa é poder redescobrir a verdadeira natureza da paternidade por meio de Cristo", continuou.
Outras pessoas, como a reverenda Christina Rees, que presidiu por anos a organização Watch (Women and the Church, ou Mulheres e a Igreja), apoiaram a fala. "A grande questão é: nós realmente achamos que Deus acredita que os seres humanos do sexo masculino carregam sua imagem de forma mais completa e precisa do que as mulheres? A resposta é absolutamente não", afirmou ela.
O desentendimento se junta a outros recentes na Igreja Anglicana. Em fevereiro deste ano, a denominação disse que lançaria uma comissão para discutir o uso de termos neutros em gênero para se referir a Deus, após a reverenda Joanna Stobart perguntar sobre o progresso no desenvolvimento de uma "linguagem mais inclusiva" no ambiente anglicano.
"Tem havido um maior interesse em explorar uma nova linguagem desde a introdução de nossas formas atuais de serviço em linguagem contemporânea, há mais de 20 anos", afirmou um porta-voz da igreja na ocasião. "Não há absolutamente nenhum plano para abolir ou revisar substancialmente as liturgias atualmente autorizadas, e nenhuma dessas mudanças poderia ser feita sem uma legislação extensa".
Na mesma época, foi decidido, após um debate de oito horas, que os padres poderiam abençoar casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Os arcebispos locais Justin Welby e Stephen Cottrell soltaram, na ocasião, um comunicado em conjunto para celebrar o que viram como "novo começo".
"A igreja continua a ter profundas divergências sobre essas questões que atingem o cerne de nossa identidade humana. Como arcebispos, estamos comprometidos a respeitar a consciência daqueles para quem isso vai longe demais e garantir que eles tenham todas as garantias necessárias para manter a unidade da igreja enquanto esta conversa continua", afirmaram.
Já o Conselho Evangélico da Igreja Anglicana se disse "profundamente triste" com a revisão que, a seu ver, rejeitou a "compreensão histórica e bíblica sobre sexo e casamento".
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