SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Partido Conservador britânico sofreu duras derrotas nas eleições parlamentares em três distritos nesta quinta-feira (20). A legenda do premiê Rishi Sunak perdeu dois assentos em regiões onde a vitória costumava ser certa, refletindo a alta do custo de vida no Reino Unido, com inflação crescente e greves frequentes.

Se por um lado o resultado é um sinal de crise para o governo, por outro os conservadores conseguiram evitar o que era tido como um desastre eleitoral, já que o partido manteve a cadeira no Parlamento que até o mês passado pertencia ao ex-premiê Boris Johnson.

Eleitores dos três distritos foram às urnas escolher os representantes dos assentos que ficaram vagos devido a crises nos últimos meses. O pleito foi considerado um teste de meio de mandato para Sunak, e os conservadores se preparavam para perder as três vagas antes ocupadas pela legenda.

O Partido Conservador perdeu para o Liberal Democrata, de centro-esquerda, na região de Somerton e Frome, no sudoeste da Inglaterra. A vaga era ocupada por David Warburton, que renunciou na segunda-feira (17) devido à dependência do uso de cocaína.

A legenda conservadora foi derrotada ainda na circunscrição eleitoral de Selby e Ainsty, no norte, desta vez para os trabalhistas. Mas os conservadores conseguiram manter o assento de Uxbridge e South Ruislip, no oeste de Londres, que pertencia a Boris.

O ex-premiê renunciou no último dia 9 depois de ter recebido uma carta do Comitê de Privilégios da Câmara dos Comuns, órgão que investiga se o político mentiu aos parlamentares ainda no final de 2021.

Segundo o ex-primeiro-ministro britânico, o comitê deixou claro na carta que o processo seria usado para "expulsá-lo do Parlamento". "Estou sendo forçado a sair por um pequeno punhado de pessoas, sem nenhuma evidência para apoiar suas afirmações e sem aprovação nem mesmo dos membros do Partido Conservador, muito menos do eleitorado em geral", disse Boris na ocasião.

Ele é investigado por supostamente ter mentido quando disse que cumpriu todas as regras de seu próprio governo para controlar o avanço da Covid. Imagens e documentos divulgados, porém, mostram que membros de seu gabinete se reuniram e organizaram festas durante o período de restrições, inclusive com a presença de Boris ?o escândalo ficou conhecido como partygate.

A cadeira que havia sido ocupada por ele foi mantida pelo Partido Conservador por pouco: o representante da legenda ali, Steve Tuckwell, venceu com uma diferença de 495 votos ?13.965 contra 13.470.

Esta é uma "notícia fantástica" que "mostra que os conservadores podem vencer em Londres e nos arredores", disse Boris, 59, após a votação. O resultado, porém, também foi celebrado pela oposição.

O líder trabalhista Keir Starmer disse que a votação foi histórica e mostrou que os "eleitores veem o partido como uma legenda que mudou". Já Sunak, nas redes sociais, destacou a vitória de Tuckwell. "Continuarei me concentrando em fazer a coisa certa para o país ?seguir nosso plano e reconquistar a confiança."

O atual premiê, ex-ministro das Finanças, tenta restaurar a credibilidade do Partido Conservador após uma série de escândalos que forçaram Boris a renunciar ao cargo de primeiro-ministro no ano passado ?sua sucessora, Liz Truss, ficou no posto por apenas seis semanas e saiu mergulhada em turbulência política.

Nas pesquisas de opinião nacional, os conservadores estão cerca de 20 pontos atrás dos trabalhistas. Se houvesse eleições hoje, 46% dos eleitores afirmam que votariam no candidato do Partido Trabalhista, enquanto 26% dizem que apoiariam o representante conservador, segundo o site Politico.

Pesquisa divulgada neste mês pelo instituto YouGov mostra que 59% dos britânicos afirmam acreditar que Sunak faz um trabalho ruim como premiê e que apenas 29% o avaliam de forma positiva.

A crise que pressiona o premiê representa a pior onda de paralisações trabalhistas desde os anos 1980 no Reino Unido. Principalmente de junho a agosto de 2022 e no início deste ano, trabalhadores de diversas categorias do serviço público cruzaram os braços reivindicando reajustes salariais acima da inflação.

O serviço de saúde britânico foi o mais afetado pelas greves, especialmente em razão de uma crise de pessoal e de consequências da pandemia. Em fevereiro, dezenas de milhares de enfermeiros e paramédicos realizaram a maior greve nos 75 anos de história do NHS, o SUS britânico. Membros das Forças Armadas chegaram a ser capacitados para conduzir ambulâncias, numa tentativa de mitigar as consequências da interrupção dos serviços.


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