SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dia após o Níger experimentar apagões causados por medidas de retaliação ao golpe de Estado dado há uma semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a libertação do presidente destituído, Mohamed Bazoum, que está detido.

"Eu peço a libertação imediata do presidente Bazoum e de sua família, assim como a preservação da duramente conquistada democracia no Níger", afirmou Biden nesta quinta-feira (3), dia em que o país africano comemora 63 anos de independência. "Neste momento crítico, os EUA estão com o povo do Níger para honrar nossa parceria de décadas enraizada em valores democráticos compartilhados e no apoio a um governo liderado por civis."

O presidente americano afirmou ainda que a população expressou a sua vontade em eleições livres e justas, e que isso deve ser respeitado.

Bazoum, 63, foi derrubado há uma semana em um golpe condenado por ONU, EUA e países europeus. Na quarta-feira passada (26), membros da Guarda Presidencial prenderam o líder no palácio do governo e tomaram a capital, Niamey, antes de anunciar a ruptura democrática na TV e fechar as fronteiras do país. Desde então, o político está detido.

A junta militar afirmou que a tomada de poder era uma forma de "colocar um ponto final no regime que deteriorou a segurança nacional devido à má gestão", referência aos ataques jihadistas que têm assolado o território.

Nos dias que se seguiram, a União Europeia e a França cortaram apoio financeiro ao país e os EUA ameaçaram fazer o mesmo ?o Níger recebe cerca de US$ 2 bilhões (R$ 9,5 bilhões) por ano em assistência oficial ao seu desenvolvimento, de acordo com o Banco Mundial. A Cedeao (Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental), por sua vez, anunciou um bloqueio econômico e cortou o fornecimento de energia ao país.

O grupo tem lutado para conter o retrocesso democrático na África Ocidental. Os chefes de Defesa dos países do bloco devem encerrar uma reunião de dois dias nesta quinta discutindo uma possível intervenção para restaurar a democracia no país ?Burkina Fasso e Mali, que sofreram seus próprios golpes nos últimos dois anos, advertiram que qualquer movimento do tipo seria entendido como uma "declaração de guerra".

A repreensão de diferentes nações parece não ter sido suficiente para inibir os militares, que prenderam um dirigente e dois ministros do governo na última segunda-feira (31). Na noite desta quarta (2), o general Abdourahamane Tiani, ex-chefe da Guarda Presidencial que se declarou chefe de Estado, prometeu não ceder à pressão em um discurso na televisão estatal.

Tiani chamou as sanções da Cedeao de "desumanas" e disse rejeitar qualquer interferência estrangeira. "Se eles perseguirem sua lógica destrutiva até o fim, que Alá cuide do Níger e garanta que essa seja a grande batalha final que lutaremos juntos pela verdadeira independência de nossa nação", afirmou. Embora tenha mencionado eleições em um prazo "relativamente curto e razoável", o militar não apresentou um cronograma.

Ele conta com apoio de parte da população, que marchou em apoio à junta na capital Niamey nesta quinta para protestar contra as sanções ?no dia do golpe, os apoiadores do ex-presidente foram dispersos com tiros de advertência da guarda.

Um dos manifestantes segurava uma placa na capital em que se lia: "Viva Níger, Rússia, Mali e Burkina. Abaixo a França, Cedeao e União Europeia". O protesto estampado no cartaz, que causa preocupação nas potências ocidentais, não foi uma exceção nos últimos dias. A tomada militar tem um forte componente antifrancês, em um momento em que a população se diz insatisfeita com a interferência do país europeu que colonizou o Níger até a metade do século 20.

A França tem entre 1.000 e 1.500 soldados no país, que combatem uma insurgência de grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico que se espalhou pela região. Burkina Fasso e Mali já expulsaram as tropas francesas.

Nesta quinta, a França disse que concluiu a repatriação de centenas de cidadãos franceses e europeus do país. No total, 1.079 pessoas foram transferidas, incluindo 577 cidadãos franceses, segundo o Ministério das Relações Exteriores. A retirada dos soldados, porém, "não está na ordem do dia", segundo o estado-maior dos Exército francês.

Após a embaixada francesa ser alvo de protestos no país, a França pediu às forças de segurança do Níger que tomem as medidas necessárias para garantir a integridade do prédio. "A França lembra que a segurança da sede diplomática é uma obrigação, de acordo com o direito internacional", disse a pasta em um comunicado.

O temor se alastrou também no Reino Unido, que vai reduzir temporariamente o número de funcionários da embaixada britânica no país, segundo afirmou o Ministério das Relações Exteriores da nação europeia.


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