SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No memorial de 78 anos do lançamento da bomba atômica em Hiroshima (Japão), Kazumi Matsui, prefeito da cidade, convocou lideranças ao redor do mundo a combaterem a "loucura da dissuasão nuclear".
"Líderes de todo o mundo devem encarar a realidade de que as ameaças nucleares, agora expressas por alguns formuladores de políticas, revelam a loucura da teoria da dissuasão nuclear", disse o prefeito no Memorial da Paz de Hiroshima.
Às 8h15 no horário local (23h15 de sábado no Brasil), o sino da paz foi tocado para relembrar o momento em que milhares de pessoas morreram com o lançamento da bomba "Little Boy". A cerimônia foi acompanhada por mais de 50 mil pessoas.
A fala de Matsui acontece em um momento em que a bomba nuclear retoma os holofotes com o lançamento do filme "Oppenheimer" -que retrata o nascimento da arma de destruição em massa- e os avanços da Guerra na Ucrânia, em que o presidente russo Vladimir Putin ameaça seus vizinhos no Leste Europeu com armas nucleares.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, acompanhou o cerimonial e disse que o caminho para um mundo sem armas nucleares está "mais íngreme", mas lembrou que isso faz do tema um objetivo global ainda mais importante.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apoiou a fala de Kishida e pregou em defesa do desarmamento nuclear. "Os líderes mundiais deveriam fazer mais neste momento, porque os tambores da guerra nuclear estão batendo mais uma vez", disse em comunicado lido por um representante da ONU.
Hiroshima sediou o encontro da cúpula do G7, o grupo com sete das principais economias do mundo, em maio. Na ocasião, as lideranças se comprometeram em alcançar o desarmamento, mas disseram que enquanto existissem armas nucleares, elas deveriam servir para deter a violência e evitar a guerra.
Os efeitos da bomba
Em 6 de agosto de 1945, às 8h15, um bombardeiro B-29 americano batizado "Enola Gay" lançou sobre a cidade a bomba atômica "Little Boy".
A bomba obliterou Hiroshima e quase metade dos seus 350 mil habitantes morreram. Dois dias depois, uma segunda explosão, sobre Nagasaki, ajudaria a selar o fim da Segunda Guerra Mundial.
As duas bombas atômicas precipitaram a capitulação do Japão no dia 15 de agosto de 1945 e, de fato, o ocaso do conflito.
A destruição dessas duas cidades é vista por alguns como crimes de guerra, uma vez que os alvos foram civis e sua capacidade de devastação, sem precedentes. Por outro lado, há quem defenda que os bombardeiros, por levarem ao fim da guerra, impediu a perda de mais vidas.
Considerado um dos maiores acontecimentos da humanidade, a destruição da "Little Boy" ainda ecoa no mundo, seja pela ameaça de uma nova guerra global, seja pela vergonha com que o mundo das artes toca no tema.
Nesta semana, durante o lançamento do filme "Barbie" no mercado japonês, a Warner Bros. se desculpou por ter postado em mídia social uma arte brincando com o meme "Barbernheimer" e a frase "este será um verão inesquecível".
As imagens festivas da explosão causaram reação no Japão, como destacaram Bloomberg e Newsweek. "Vocês percebem que é uma arma que tirou a vida de 200 mil civis?", escreveu um, sobre 1945: "Aquele foi um verão inesquecível".
Até a subsidiária da Warner no Japão criticou publicamente a iniciativa: "Nós consideramos lamentável que a conta oficial da sede americana de 'Barbie' tenha reagido às postagens nas redes sociais dos fãs de 'Barbenheimer'. Nós estamos pedindo à sede americana que tome as medidas cabíveis".
Com a reação, a Warner americana disse lamentar o "engajamento insensível nas mídias sociais" e se desculpou pelo ocorrido.
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