SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um navio carregado de grãos deixou nesta quarta (16) Odessa, principal porto da Ucrânia, pela primeira vez desde que Vladimir Putin deixou o acordo que permitia o escoamento da produção do país que invadiu em 2022 pelo mar Negro.

O desafio ao embargo é um teste da rota marítima proposta por Kiev aos navios que estavam em seus portos no momento em que a Rússia suspendeu a participação no arranjo que garantia a segurança do trânsito na região, há um mês.

Desde então, Moscou passou a bombardear portos ucranianos, como fez na madrugada desta quarta com um ataque de drones kamikaze contra Izmail, instalação no rio Danúbio a meros 200 metros da Romênia, integrantes da Otan (aliança militar ocidental) e da União Europeia. Um depósito de grãos foi destruído.

Além disso, as forças russas passaram a patrulhar áreas ao sul do mar, longe de sua base naval em Sebastopol (Crimeia anexada). No domingo (13), um barco de Moscou disparou tiros de advertência e abordou um navio cargueiro neutro, com bandeira de Palau, que rumava ao Danúbio. Feita a inspeção, a embarcação foi liberada.

Na mão inversa, a Ucrânia passou a empregar sua armada de drones aquáticos. Atingiu um navio de guerra e um petroleiro russos na semana passada, e ameaça fazer um bloqueio assimétrico dos seis portos de Moscou no mar Negro a partir do dia 23.

Ao mesmo tempo, os ucranianos anunciaram a criação de um corredor marítimo, embora não tenha Marinha operante para proteger os navios saindo de seus portos.

O Joseph Schulte, embarcação de bandeira de Hong Kong, deixou Odessa às 8h13 desta manhã (2h13 em Brasília) e tem previsão de chegada ao porto turco de Ambarli, em Istambul, às 10h (4h em Brasília) desta quinta (17), segundo dados do site de monitoramento marítimo Marine Traffic.

A interrupção da exportação de grãos devido ao fim do acordo celebrado com mediação da ONU e da Turquia em julho de 2022 abriu uma nova frente na guerra, já que desde o afundamento do cruzador russo Moskva em abril do ano passado não havia movimentação militar tão relevante na área. Além disso, ameaça deixar o preço de produtos como o trigo até 20% mais caros neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Putin já disse que retomaria o acordo imediatamente, caso os países ocidentais cumprissem sua promessa de facilitar a exportação de sua produção agrícola ?que teve de driblar sanções que tiraram frotas de navios à sua disposição devido ao fato de que seguradoras deixaram de cobrir suas operações para não serem punidas.

A Turquia afirma que a posição russa é correta e tem de ser ouvida pelo Ocidente, mas até aqui não conseguiu avançar em um novo arranjo. Os ataques de Moscou contra portos também complicam a equação, que na prática ajuda a asfixiar a combalida economia da Ucrânia, cujo Produto Interno Bruto desabou cerca de 30% no primeiro ano da invasão russa.

A Rússia, por sua vez, teme que ataques no mar Negro afetem sua exportação de petróleo. Só pelo porto de Novorrosisk passam 2% da produção mundial do produto todo ano. A economia russa depende dessas receitas, que vêm caindo com a desaceleração chinesa, e a depreciação do rublo obrigou o Banco Central do país a subir a taxa de juros para de 8,5% para 12% na terça (15).

Enquanto isso, a guerra segue em uma de suas fases mais dinâmicas em termos de atividade militar. A contraofensiva de Kiev, iniciada em junho e alvo de desconfiança entre os aliados ocidentais, avançou um pouco na frente sul de Donetsk (leste do país). A vila de Urojaine foi tomada, segundo o Ministério da Defesa.

É uma localidade com mil habitantes, mas ainda assim a vitória foi celebrada dada a escassez de boas notícias recentes para os ucranianos. Na segunda, o chefe de gabinete do secretário-geral da Otan sugeriu que o país deveria ceder território à Rússia em troca de sua admissão na aliança, sendo criticado duramente em Kiev.

No campo assimétrico da guerra, mais drones foram enviados contra território russo pela Ucrânia nesta segunda. Segundo a Rússia, três deles foram abatidos na região de Kaluga e outro, sobre a Crimeia. Não houve vítimas ou danos relatados.


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