SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A União Africana suspendeu o Níger de todas as suas atividades em retaliação ao golpe de Estado que levou uma junta ao poder do país há quase um mês. O bloco também orientou seus membros a evitar qualquer ação que pudesse legitimar os militares e manifestou reservas sobre uma possível intervenção militar para retornar à normalidade.

Por meio de nota divulgada nesta terça-feira (22), o Conselho de Paz e Segurança do grupo, que se reuniu em 14 de agosto, afirmou que a suspensão vai durar até o "efetivo restabelecimento da ordem constitucional no país", enfatizou sua preferência pela via diplomática e pediu uma "avaliação das implicações econômicas, sociais e de segurança" do uso da força alardeado pela Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental).

A União Africana disse ainda que rejeita veementemente qualquer interferência por parte de atores de fora do continente, incluindo empresas militares privadas ?uma provável referência ao grupo mercenário russo Wagner, que atua no vizinho Mali. Nesta segunda, o chefe do grupo militar, Ievguêni Prigojin, postou um vídeo no qual parecia estar na África, promovendo as atividades do Wagner na região.

Desde o dia do golpe, a Cedeao tenta negociar com a junta enquanto deixa em aberto a possibilidade de usar a força. Na última sexta-feira (18), por exemplo, o bloco regional disse que estava pronto para iniciar uma intervenção armada. Nesta terça-feira, porém, num raro sinal de progresso, o ex-líder militar da Nigéria Abdulsalami Abubakar, mediador da Cedeao, disse que a visita ao Níger no fim de semana foi "muito frutífera" e que ainda tem esperança de uma solução pacífica. "Ninguém quer ir para a guerra", disse ele a repórteres em Abuja.

A escolha da via diplomática é corroborada pelo Parlamento da Cedeao, uma das instituições do bloco que é contra o envio de tropas. "A nossa posição é tomada pelas graves implicações de uma intervenção militar no Níger. [Não há] alternativa a uma solução diplomática", disse Ali Ndume, membro nigeriano do Parlamento, a jornalistas em Abuja nesta terça.

O bloco, porém, disse na semana passada que concordou com um "Dia D", cuja data não foi revelada, para iniciar uma possível intervenção militar se os esforços diplomáticos falharem.

No sábado (19), o novo líder do Níger, o general Abdourahamane Tiani, desaprovou a ideia de uma intervenção e anunciou um período de transição de no máximo três anos antes de organizar eleições e devolver o poder aos civis ?um plano que a Cedeao rejeitou.

O golpe do Níger é o sétimo na África Ocidental e Central desde 2020. Dos 15 países-membros da Cedeao, quatro estão suspensos devido a rupturas institucionais ?Guiné, Burkina Fasso, Mali e, mais recentemente, Níger. O cenário fez o bloco subir o tom e afirmar que não toleraria novas derrubadas de governos na região.

A tomada de poder no final de julho causou preocupação entre aliados ocidentais e estados africanos democráticos, que temem pelo aumento da presença de grupos islâmicos na região do Sahel, onde está o Níger. O empenho internacional na normalização democrática reflete a importância geopolítica do país africano, que tem importantes reservas de urânio e petróleo e pode aumentar a influência da Rússia no continente.

Nesta segunda-feira (21), a Argélia disse por meio de sua rádio estatal que recusou um pedido francês para sobrevoar seu espaço aéreo para uma operação militar no Níger, enquanto Paris nega ter feito tal solicitação. A França, que tem cerca de 1.500 soldados no país africano, não disse que iria intervir militarmente para derrubar a junta militar.

Por fim, a União Africana reiterou os apelos aos líderes nigerinos para que libertem imediatamente o presidente eleito, Mohamed Bazoum, em prisão domiciliar desde o dia do golpe.


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