SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Ucrânia promoveu o maior ataque com drones contra o território russo desde o início da guerra promovida por Vladimir Putin em fevereiro de 2022. Ao menos seis regiões foram alvejadas, e houve danos importantes a quatro aviões de transporte pesado Iliuchin Il-76, o principal cargueiro militar de Moscou.

Nesta quarta (30), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que os bombardeios só puderam ocorrer em áreas tão diversas e distantes da fronteira ucraniana com apoio de inteligência de países da Otan, a aliança militar ocidental. "Os ataques não passarão impunes", disse a porta-voz Maria Zakharova.

A ação começou no final da noite de terça (29) em Pskov, 600 km a noroeste da capital. "O Ministério da Defesa está repelindo um ataque de drones contra o aeroporto", escreveu no Telegram o governador Mikhail Vedernikov, que postou um vídeo de um grande incêndio, com sons de explosões e de sirenes.

Pskov fica a cerca de 60 km da fronteira com a Estônia, um membro da Otan, e pertence a uma região a 800 km da Ucrânia que ainda não havia sido atingida na guerra. Sedia uma importante base aérea, e a agência estatal russa Tass relatou que ao menos dois dos Il-76 foram engolfados por chamas.

Os aviões, de origem soviética, são o esteio da aviação de transporte militar da Rússia, que opera 110 deles. Antes, drones de Kiev haviam danificado e destruído bombardeiros estratégicos em bases dentro do país de Putin, e no ano passado metade de uma frota de caças na Crimeia foi destruída.

Devido aos ataques, os voos no aeroporto moscovita de Vnukovo foram suspensos na madrugada. Segundo a Defesa russa, três drones foram derrubados em Briansk, dois em Orlov, e outro, em Kaluga.

Houve ao menos um ataque contra Moscou, alvo constante de drones nas últimas semanas. Segundo a prefeitura, um aparelho foi derrubado perto do distrito de Ruzki. Por fim, Riazan também foi atingida.

Em Briansk, apesar dos relatos russos de que não houve grandes danos, vídeos em redes sociais mostraram a explosão de um drone sobre uma fábrica de microeletrônicos. Houve também explosões não identificadas em uma sétima localidade, Tula. Ainda é incerto que tipo de aparelho foi usado contra Pskov.

Os ucranianos têm alguns drones de longo alcance, que podem atingir alvos a mais de mil quilômetros, mas eles são maiores e em tese mais fáceis de serem identificados por defesas aéreas. Já modelos pequenos, de curto alcance, precisam ser lançados de dentro do território russo, sugerindo a infiltração de comandos ucranianos ou a colaboração de rebeldes contrários ao Kremlin.

Nesta semana, o foco parecia direcionado mais à Crimeia anexada, que teve dois dias seguidos com drones sendo abatidos por defesas russas. Ainda nesta madrugada na região, a Rússia disse ter afundado quatro botes de alta velocidade que transportavam soldados de tropas especiais ucranianas para tentar entrar na península. Outros dois botes foram destruídos perto da ilha da Cobra, no leste do mar Negro.

Kiev ainda não comentou esses episódios, que ocorreram uma semana depois de uma ação secreta que envolveu a entrada de forças especiais na Crimeia, com direito a hasteamento da bandeira ucraniana e a destruição de uma poderosa bateria antiaérea S-400 dos russos na região.

Em contrapartida, alarmes de ataque aéreo soaram em toda a Ucrânia durante a noite. Kiev sofreu um dos maiores ataques com mísseis e drones desde o final de 2022, e ao menos duas pessoas foram mortas.

Toda essa movimentação assimétrica ocorre enquanto a Ucrânia sofre para fazer avançar sua contraofensiva, lançada em 4 de junho. Nas duas últimas semanas, o Ministério da Defesa local anunciou a conquista da cidade de Robotine, o que poderia sugerir uma entrada mais incisiva na região de Zaporíjia.

Na prática, contudo, o avanço nem chegou ainda à primeira das três linhas fortificadas dos russos na região. Com o frio se aproximando, e a paciência do Ocidente cada vez mais duvidosa, a ação de Kiev se tornou uma corrida contra o tempo, temperada com um aumento nas ações de impacto mais simbólico.

Se os Il-76 foram destruídos, contudo, há um ganho militar evidente, dada a importância do aparelho para as Forças Armadas do Kremlin. De acordo com os relatos iniciais, não houve vítimas nos ataques.


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