BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - Centenas de pessoas protestaram nesta segunda-feira (4) ao redor da sede do Poder Legislativo de Buenos Aires, em repúdio a um discurso da deputada federal Victoria Villarruel, candidata a vice-Presidência pela chapa do ultraliberal Javier Milei, no qual homenageou as vítimas do que chamou de "terrorismo" de organizações armadas de esquerda durante a última ditadura militar argentina.

"As vítimas do terrorismo desapareceram da memória, foram varridas para baixo do tapete da história. Forma negados seus direitos à verdade, à Justiça e à reparação", afirmou Villarruel, em referência a grupos que disse terem imposto um "Estado autoritário, comunista, baseado na tirania". Pouco antes do evento, a candidata escreveu em sua conta no X, ex-Twitter, que "os direitos humanos são para todos".

O evento no Salão Dourado da Casa homenageou as vítimas da guerrilha nos anos turbulentos que antecederam o golpe militar de 24 de março de 1976. O regime que se seguiu torturou, matou e sumiu com cerca de 30 mil pessoas em sete anos, de acordo com organizações de direitos humanos.

A organização que busca desaparecidos Mães da Praça de Maio, sindicatos e partidos políticos de esquerda repudiaram o evento e a fala de Villarruel por considerá-los "negacionistas" do terrorismo de Estado durante a ditadura.

A cerimônia ocorreu sob forte esquema de segurança, com barricadas que fecharam o acesso ao local, e houve princípio de confusão entre as forças policiais e os manifestantes contrários ao evento. O acesso ao local foi desorganizado e lento, e alguns funcionários da Casa contrários à realização do ato conseguiram entrar e gritar contra a deputada, segundo o jornal Clarín.

Também estavam presentes familiares de pessoas mortas em ações de guerrilhas de esquerda poucos anos antes do início do regime militar e políticos como a legisladora da cidade Lucía Montenegro, do A Liberdade Avança, partido de Villarruel e Milei.

Em fala que iniciou o evento, Montenegro afirmou que é necessária uma "memória integral e completa", dizendo que "uma verdade pela metade é uma mentira". Ela também usou a oportunidade para dizer que o grupo presente não defende a ditadura, "nem as trágicas consequências dessa violação do pacto democrático", repudia o regime militar de forma "clara e contundente".

Segundo os críticos, a homenagem de buscou reviver a chamada "teoria dos dois demônios", que equipara os atos da guerrilha ao terrorismo praticado pelo Estado.

"Esse tipo de reivindicação sobre a ditadura é uma violação dos direitos humanos e, infelizmente, tem representação institucional", disse a legisladora Victoria Montenegro, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, filha de desaparecidos durante a ditadura e criada por família ligada a militares.

Victoria Villarruel, 48, é advogada e deputada federal pelo partido de Milei. Ela defendeu a existência de "uma guerra" durante a ditadura e considerou que a expressão "terrorismo de Estado" é "infeliz" e "confusa".

A deputada, que também preside o Centro de Estudos Legais sobre o Terrorismo e suas Vítimas, ONG criada em 2006 dedicada à "assistência às vítimas do terrorismo" na Argentina, tratou do tema no juramento ao cargo.

O fato levou forças políticas mais à esquerda a discutir um eventual projeto de lei contra o negacionismo dos crimes cometidos pelo regime militar argentino, algo que tem crescido entre a extrema direita e particularmente entre a população mais jovem, nascida já o período democrático.


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