TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - O presidente da Indonésia, Joko Widodo, deu início à 43ª cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) defendendo que os líderes da região se mantenham unidos e "capitães do nosso próprio navio".

Foi para reafirmar a independência do bloco, em meio às pressões da China, que dias antes lançou nova versão do mapa com suas reivindicações marítimas na região, conflitantes com aquelas de diversos países da Asean, inclusive a própria Indonésia.

Pressões também dos Estados Unidos, que suspenderam semanas antes a esperada participação do presidente Joe Biden, em gesto que teria como alvo o próprio presidente indonésio ?que negociava se incorporar ao Brics, o que acabou sendo adiado.

Jokowi, como é conhecido, discursou para outros oito chefes de Estado e de governo, de Brunei, Camboja, Filipinas, Laos, Malásia, Singapura e Vietnã, além de Timor Leste, que está em processo de incorporação ao bloco.

Mianmar está suspenso desde o golpe de 2021, e a Tailândia, que vem buscando a reaproximação de Mianmar com a Asean, enviou seu chanceler.

"No meio de uma tempestade, nós, como líderes, devemos garantir que este navio possa continuar a navegar e temos de ser capitães do nosso próprio navio para alcançar paz, estabilidade e prosperidade juntos", afirmou Jokowi no pronunciamento de abertura nesta terça (5) em Jacarta, capital do país.

Acrescentou que os desafios "são cada vez mais difíceis e resultam numa luta das grandes potências por influência", evitando nomear China e EUA. Pequim vai participar de um encontro paralelo à cúpula, com o primeiro-ministro Li Qiang. Washington decidiu mandar a vice-presidente Kamala Harris.

A discussão sobre as reivindicações em torno do mar do Sul da China já estava prevista, como sequência das negociações de um código de conduta para os países com interesse na área.

O lançamento do mapa e as reações tornaram a questão mais conflituosa. O governo filipino, apoiado militarmente pelos EUA e em antagonismo crescente com o chinês, adiantou que irá propor um comunicado conjunto contra Pequim.

Malásia e Vietnã também questionaram o mapa, que foi lançado na semana passada com reivindicações já feitas pela China em versões anteriores e uma nova linha ou raia, incorporando a ilha de Taiwan ?e ganhando o apelido de "o mapa das dez raias", não mais as nove tradicionais.

Procurando evitar confronto na reunião, Jokowi afirmou, estendendo a metáfora, que "os oceanos do mundo são demasiado vastos para navegarmos sozinhos, no caminho estarão outros navios, parceiros da Asean. Vamos juntos realizar uma cooperação igualitária para navegar juntos em direção ao crescimento".

A Indonésia, com a maior população da Asean, deve se tornar a quarta maior economia do mundo até 2050, segundo projeções de consultorias financeiras ocidentais como PwC.

A presidência da Asean pelo país vinha buscando se concentrar não em conflitos geopolíticos, mas em desenvolvimento econômico. O tema oficial da cúpula trata o bloco como "epicentro de crescimento".

O encontro deve agora se voltar além do esperado, até seu encerramento nesta quinta (7), para o código de conduta no mar do Sul da China, que vem sendo negociado há anos, sem alcançar ordenação prática.

No fim de semana, já em Jacarta, o chanceler chinês Wang Yi afirmou durante evento que "forças externas" à região, sem nomear os EUA, estariam buscando "semear discórdia" na Asean para impedir avanço sobre as diferenças marítimas.

Outra questão conflituosa que voltou a chamar a atenção é Mianmar, em parte pela ausência do novo primeiro-ministro tailandês, Srettha Thavisin ?que tomou posse nesta terça, após acordo com os militares de seu país. A Tailândia defendia uma representação dos líderes militares de Mianmar no encontro em Jacarta.

A Asean adotou um consenso de cinco pontos em torno de Mianmar, em 2021, que será revisitado agora. Entre eles, a escolha de um enviado do bloco como mediador e a defesa de um diálogo entre todas as partes.

A ministra do Exterior da Indonésia, Retno Marsudi, durante encontro prévio com colegas da Asean na segunda, reconheceu que a falta de resultados do plano de dois anos atrás deixou "marca negativa" no bloco, que precisa "provar que ainda importa e pode contribuir para a paz na região".


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