SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Rússia anunciou nesta quarta (20) a perda de mais uma unidade do Sukhoi Su-34, avião de ataque tático que é uma das maiores estrelas tecnológicas de sua Força Aérea.
O caça-bombardeiro caiu perto de sua base durante um treino em Voronej, no centro-sul da Rússia europeia, em um episódio ainda não explicado. Os dois pilotos conseguiram se ejetar e estão bem, segundo o Ministério da Defesa.
Com isso, chegam a 21 os Su-34 perdidos desde que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Desses, 4 caíram em acidentes não relacionados a combate, segundo a conta do site holandês especializado em monitorar perdas militares confirmadas por imagens georreferenciadas Oryx.
Isso equivale a 18% da frota pré-guerra do avião, aqui no cálculo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres), o maior índice entre os modelos de combate empregados na guerra. Numericamente, só foram perdidas mais aeronaves de ataque ao solo Sukhoi Su-25, 30 até aqui, 3 das quais em acidentes.
Em relação à frota pré-guerra do Su-25, é uma elevada taxa de 16%, mas aqui trata-se de um modelo que entrou em operação na União Soviética em 1981, com tecnologia mais obsoleta, embora considerado um "cavalo de guerra" por seus operadores, pela alta resistência a fogo inimigo durante missões de apoio ao solo em velocidades subsônicas.
Já o supersônico Su-34 chegou ao conflito com a fama de ser uma aeronave mortífera, resultado de seu emprego na Rússia e por suas características. Ele começou a ser desenvolvido como uma versão maior e mais poderosa da família de caças Su-27, conhecidos pelo codinome Flanker no Ocidente, nos estertores do império comunista.
A balbúrdia após a dissolução soviética levou a atrasos, e o avião só entrou em serviço em 2014, com alta tecnologia embarcada. Viu ação a partir do ano seguinte na intervenção de Putin para salvar a ditadura do aliado Bashar al-Assad na guerra civil síria, mas sua reputação foi construída sem que tivesse enfrentado defesas antiaéreas ou caças adversários.
Ao todo, segundo o Oryx, os russos já perderam 91 de 1.172 aviões de combate de sua frota do pré-guerra. Isso não considera reposição, que é lenta. Dados da UAC, a estatal que produz caças e bombardeiros russos, mostram que ao menos 10 Su-34 foram entregues ao longo de 2022, mas não se sabe quantos deles estão operacionais.
A Ucrânia, por sua vez, perdeu 72 de 124 aviões do pré-guerra pelos dados disponíveis, mas é preciso levar em conta que há menos informação pública de baixas do país porque elas ocorrem em seu território. O país já recebeu um número incerto de caças MiG-29 poloneses e eslovacos, e briga com o Ocidente para receber os prometidos modelos americanos F-16.
O primeiro abate de um Su-34 na Ucrânia ocorreu já no primeiro mês da guerra, quando a Força Aérea russa ainda operava em diversas áreas do país invadido. Com o fracasso na conquista de Kiev e a reorientação do desenho da guerra para o controle do leste e do sul ucranianos, Moscou mudou de estratégia.
Para evitar riscos aos seus aviões, o foco foi dado aos disparos de mísseis de longa distância a partir do território russo. Para tanto, são usados bombardeiros estratégicos Tupolev, modelos Tu-160, Tu-95 e Tu-22. Interceptadores MiG-31K, por sua vez, lançam os temidos mísseis hipersônicos Kinjal (punhal), em número bastante limitado.
Enquanto isso, a aviação tática seguiu operando, mas mais confinada às frentes de batalha junto aos territórios ocupados pela Rússia. O Su-25 e o Su-34, em menor número, voam missões todos os dias nessas regiões, em que as defesas aéreas russas são prevalentes.
O grosso das ações que até agora contiveram a contraofensiva de Kiev nessas áreas, contudo, é feito por helicópteros de ataque Ka-52 e Mi-35.
Analistas militares russos sugerem que há implicações econômicas e estratégicas na decisão de Moscou. Primeiro, custo: um Su-34M, versão mais recente do modelo, não sai por menos de cerca de R$ 250 milhões a unidade. Em comparação, o antigo Su-25, que parou de ser produzido em 2017, custa talvez R$ 50 milhões a peça.
O outro aspecto é o fato de que Putin trabalha, ao que tudo indica, com uma guerra de longo prazo. Observadores mais pessimistas dizem que ele precisa poupar seu equipamento mais sofisticado por ter em vista não só isso, mas um eventual conflito com forças da Otan (aliança militar ocidental), que hoje apoiam Kiev sem participar ativamente da guerra.
Além disso, de forma mais imediata, os ataques de longa distância e também com enxames de drones suicidas têm logrado causar bastante estrago.
Segundo avaliação do Ministério da Defesa do Reino Unido, Moscou conseguiu driblar as dificuldades iniciais para obter chips mais avançados para seus mísseis, devido às sanções ocidentais, e o próximo inverno do Hemisfério Norte deverá ver uma renovada campanha de degradação da infraestrutura energética do vizinho.
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