SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Duma, a Câmara dos Deputados da Rússia, aprovou nesta quarta (18) a saída do país do tratado que proíbe a realização de qualquer teste com armas nucleares. A medida havia sido encomendada no dia 5 passado pelo presidente Vladimir Putin.
O líder quer manter acesa a chama das ameaças atômicas que faz ao Ocidente desde pouco antes de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Putin alterna momentos em que diz sobriamente que nunca usaria a bomba contra os rivais, só para lembrar depois ao Ocidente que detém o maior arsenal nuclear do mundo.
O Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares ficou pronto em 1996, mas 8 dos 44 Estados que participaram de sua negociação não o ratificaram, incluindo os EUA. Com isso, ele nunca entrou em vigor. Acordo de 1963, esse valendo, vetava explosões que não fossem subterrâneas.
Moscou ratificou o acordo de 1996, mas Washington, não. Cortesia da Guerra Fria, ambas as potências concentram quase 90% das 12,5 mil ogivas nucleares existentes. Além de ameaças difusas ao longo da guerra, nas últimas semanas cresceram rumores de que a Rússia poderia fazer um novo teste como sinalização para o Ocidente não elevar o patamar de armas a serem fornecidas para a Ucrânia.
Em uma conferência, Putin disse que cientistas defendiam testes de suas novas armas, como o supermíssil intercontinental Sarmat. Ele se fez de desentendido, mas jogou no ar que para isso a lei teria de mudar, e que o problema seria dos parlamentares.
Nada no sistema político putinista ocorre assim, casualmente, e ficou claro que seria questão de tempo para o banimento cair. A medida passou em dois votos por unânimes 415 a 0. Agora, só falta a aprovação certa do Senado para Putin ganhar um instrumento adicional na sua disputa dissuasória com o Ocidente.
O Kremlin diz que, apesar da mudança legal, não tem planos de fazer um novo teste nuclear ?o mais recente, ainda da União Soviética, ocorreu em 1990, enquanto os EUA explodiram uma bomba em 1992.
Em seu encontro com o líder chinês Xi Jinping nesta quarta, o presidente russo queixou-se do envio de mísseis balísticos ATACMS americanos para Kiev. Eles foram empregados pela primeira vez na terça (18) contra duas bases de helicópteros nas regiões ocupadas pela Rússia na Ucrânia.
Os relatos iniciais são de um ataque devastador, que teria destruído muitos aparelhos ?de 9 a 20, as contas de blogueiros militares variam. Durante um ano de negociação, Washington evitou fornecer a arma com medo de que ela fosse provocar excessivamente o Kremlin, que a acusa de tocar uma guerra por procuração na Ucrânia.
Não se sabe quantos ATACMS foram enviados, mas segundo informações extraoficiais do Pentágono, foram poucos. A linha vermelha, mais uma, foi de todo modo cruzada.
A próxima é o envio de caças F-16, de fabricação americana, que a Dinamarca diz ser possível transferir em abril do ano que vem, talvez em conjunto com a Holanda. Novamente, o temor de escalada decorre da advertência europeia para que não sejam atacados alvos dentro da Rússia, o que a Ucrânia até aqui só fez com drones próprios e artilharia de fronteira.
Também nesta quarta, o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, fez uma rara admissão de que está preocupado com esse incremento do poderio hoje muito limitado de Kiev.
Falando em uma reunião com seus pares da aliada Belarus, Choigu elencou o que chamou de escalada das forças da Otan (aliança militar liderada pelos EUA). "Desde fevereiro de 2022 [data da invasão russa da Ucrânia], o número de tropas da Otan no Leste Europeu e nos Estados Bálticos aumentou 2,5 vezes, ultrapassando os 30 mil homens. Mais da metade é americana", disse.
Ele descreveu exercícios novos dos rivais e a entrada da Finlândia no bloco, passando então à questão da ajuda militar para a Ucrânia, que nas suas contas já chegou aos US$ 200 bilhões (R$ 1 trilhão).
"A questão da transferência dos caças táticos F-16 para Kiev chegou ao nível prático, e os aviões devem ser fornecidos no ano que vem", disse, afirmando que por tudo isso será necessário reformular a defesa, particularmente a aérea, de todo o flanco ocidental da Rússia e da Belarus.
EUA POUSAM BOMBARDEIO NUCLEAR NA COREIA DO SUL
Do outro lado da trincheira atômica, os Estados Unidos mantiveram sua campanha para pressionar o regime da Coreia do Norte, que é apoiado por Putin e Xi, na disputa com o Sul pela supremacia na península dividida há 70 anos entre os comunistas de Pyongyang e os capitalistas de Seul.
Depois de enviar pela primeira vez desde a Guerra Fria um submarino armado com mísseis nucleares para um porto sul-coreano, em julho, os EUA pousaram de forma inédita na história um bombardeiro estratégico B-52 no país.
O avião gigante já participou de diversos exercícios com forças sul-coreanas, mas não tinha aterrissado em uma base local, com fez na terça (17) em Cheongju, após um sobrevoo de Seul, a 110 km de distância.
Não era um B-52 qualquer, como notou o especialista Hans Kristensen, da Federação dos Cientistas Americanos, no X (ex-Twitter). O modelo tinha as duas pequenas barbatanas metálicas na lateral que designa um avião certificado para a ataques nucleares, segundo as provisões do moribundo tratado de controle de armas atômicas Novo Start, do qual Putin suspendeu a participação russa no começo do ano.
Isso não significa que ele tinha tais armamentos a bordo, mas é uma sinalização clara para a ditadura de Kim Jong-un. O presidente Joe Biden elevou a cooperação nuclear com Seul, criando um comitê de compartilhamento de dados em caso de guerra com o Norte, mas até aqui não pretende instalar armas na península, como os EUA faziam na Guerra Fria.
Um movimento desses seria visto como direcionado à rival China, que faz fronteira e apoia o Norte, e à Rússia, que aproximou-se de Kim com direito a visita a Putin numa base espacial.
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