BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Publicadas até uma semana antes da votação presidencial deste domingo (22), as pesquisas eleitorais da Argentina em geral indicavam que haveria um segundo turno entre o ministro da Economia Sergio Massa e o ultraliberal Javier Milei, mas não captaram a ascensão do candidato peronista.
A surpresa em relação aos resultados foi visível inclusive nos "bunkers" onde as principais forças políticas se reuniam naquela noite, expressa no momento em que as telas apontaram 36,7% dos votos válidos a Massa e 30% a Milei, que era tratado como favorito. A reação foi parecida dois meses antes, quando os levantamentos tampouco sugeriam a dianteira de Milei nas eleições primárias
Segundo analistas e diretores de empresas de levantamentos, diferentes fatores podem ter motivado o descompasso mais recente. Um deles é o eleitor indeciso ou que não votou nas prévias em agosto e que agora decidiu ir às urnas, mais inclinado a Massa. Mas especialistas também citam uma "necessidade de ajuste de ferramentas" nas sondagens.
Para Andrei Roman, CEO da empresa brasileira de pesquisas AtlasIntel, uma das únicas que captou a liderança de Massa desde setembro, o peronista claramente aparecia à frente entre os eleitores que não compareceram nas urnas em agosto, mas agora foram votar.
"Era nítido que nas primárias houve uma desmobilização do voto peronista. Elas [as primárias] sempre punem o governo, como aconteceu com [o ex-presidente] Mauricio Macri em 2019, que também se recuperou no primeiro turno", diz ele. A presença nas urnas passou de 70% para 77,7% entre as duas votações.
No contexto argentino, caracterizado pela polarização, é mais comum que os eleitores oscilem entre votar ou se abster, em vez de mudar sua preferência entre diferentes partidos. Nesse sentido, Massa pode ter conseguido mobilizar esses indecisos nas últimas semanas.
Segundo Roman, o ministro também tinha o monopólio do voto competitivo de esquerda, enquanto os outros candidatos sofriam uma "canibalização" dos votos de direita. "Juan Schiarretti [candidato peronista não kirchnerista que teve 6,8% dos votos] explica bastante o que aconteceu. Ele subiu nas últimas duas semanas às custas de Milei e [da macrista Patricia] Bullrich, em terceiro lugar", diz.
Já Paola Zuban, codiretora da empresa de pesquisas Zuban Córdoba e Associados, que estimou um empate técnico entre Massa e Milei a quase 15 dias das eleições, reconhece que as pesquisas de opinião pública precisam ser mais bem calibradas.
"Estamos enfrentando muitos obstáculos na medição, como as dificuldades operacionais e de custo das pesquisas domiciliares, os vieses das pesquisas online ou por telefone e a defasagem dos dados do Censo de 2022. Ainda estamos trabalhando com dados de 2010", afirma.
"Também é preciso compreender que as pesquisas não podem ser usadas nunca como previsões, mas sim para diagnósticos. Vale ressaltar que uma medição correta e séria não é útil sem a interpretação e análise adequadas dos dados", acrescenta ela.
A ponderação da cientista política Milagros Faggiani, consultora em comunicação política da Analítica427, segue a mesma linha: "É importante considerar que as pesquisas são uma foto, não um filme. Medem um momento específico, e por isso não é possível saber o que vai acontecer depois".
Faggiani ressalta ainda que o voto é um processo emocional e flutuante. Para ela, a narrativa de medo contra Milei impulsionada por Massa pode ter gerado efeitos na reta final, assim como o discurso de raiva da "casta política" serviu a Milei.
"As pesquisas são uma ferramenta que facilita conhecer mais o eleitorado, saber qual é o sentimento que têm, quais avaliações que fazem de determinado contexto. As pesquisas não falham, quem falha somos nós em esperar que elas nos deem algo que não podem dar", diz.
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