SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Encurralado na Faixa de Gaza há quase três semanas, Hasan Rabee, 30, disse ter ouvido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quinta-feira (26), a promessa de que será repatriado para o Brasil.
Rabee está na cidade de Khan Yunis, no sul do território palestino, e enfrenta o horror das bombas com medo e angústia desde o último dia 7, quando a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas explodiu. Ele conversou com o presidente por videochamada, após fazer apelos pelo seu resgate e de seus familiares.
Segundo Rabee, o presidente Lula disse que está fazendo o máximo possível para retirar os brasileiros de Gaza. Os esforços incluem tratativas com lideranças de Egito, Qatar e Irã, além de Israel, para abertura de um corredor humanitário na passagem de Rafah, ao sul, e a retirada dos cidadãos inscritos no Itamaraty.
O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, divulgou na terça que 32 pessoas estavam inscritas para repatriação em Gaza. O grupo era formado por 22 brasileiros, 7 palestinos em processo de imigração e 3 palestinos que querem acompanhar seus parentes próximos. Do total, 16 estavam na cidade de Khan Yunis (9 crianças, 5 mulheres e 2 homens), e outros 16, no posto fronteiriço de Rafah (8 crianças, 4 mulheres e 4 homens).
Palestino com cidadania brasileira, Rabee disse que Lula também prometeu levar para o Brasil sua mãe e as duas irmãs. O presidente teria garantido ainda que o processo de documentação para todos os familiares de brasileiros será facilitado. Apesar dos esforços, não há, por ora, qualquer perspectiva para que o grupo consiga deixar o território palestino.
Rabee gravou um vídeo no último domingo (22) pedindo ajuda ao governo brasileiro para que seus familiares também sejam resgatados. "Absurdo eu chegar lá [no Brasil] e minha mãe ficar aqui [em Gaza] há vários dias sem água, sem luz, sem nada. Ela vai ficar sofrendo", disse ele. "Parece que a metade do corpo sai, e a outra metade fica."
O brasileiro também afirmou na gravação que havia bombas caindo "por todos os lados". "No norte, no sul, não faz diferença nenhuma. Até escolas da ONU são bombardeadas", disse Rabee. No último dia 13, o governo israelense deu um ultimato para que todos os moradores no norte do território, onde está metade da população total, fossem para o sul, numa indicação de que Tel Aviv prepara uma invasão terrestre.
Rabee conta que só tem alimentação e gás para mais três dias. "[O governo] manda recursos, mas não conseguimos achar as coisas, então não adianta", afirma.
Não é a primeira vez que o palestino vive momentos de terror na região. Nascido em Gaza, Rabee teve de fugir do território em 2014, quando as forças israelenses lançaram a operação Margem Protetora para destruir foguetes e túneis usados pelos terroristas. Em 50 dias de confronto, 2.270 palestinos e 82 israelenses morreram.
Rabee então veio para o Brasil, onde recebeu o status de refugiado e arrumou emprego na cidade de São Paulo como vendedor de acessórios para celulares. No fim do mês passado, voltou a Gaza pela primeira vez desde então, mas acabou encurralado após o início do conflito.
Além de Lula, o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, participou da conversa, que durou dez minutos. Rabee disse ter recebido orientações para não fazer gravações ou capturar imagens.
Em nota, o governo Lula disse que conversou com brasileiros em Gaza sobre a operação de repatriação montada pelo país. "O presidente Lula [...] ressaltou que serão feitos todos os esforços possíveis para que voltem e permaneçam no Brasil em segurança. Assegurou que manterá o avião presidencial a postos no Cairo, para ser acionado assim que a fronteira for aberta, e que ampla operação de acolhimento está montada no Brasil", disse a Secom, em nota.
Os ataques terroristas mataram cerca de 1.400 pessoas, e a retaliação israelense passou das 7.000 vítimas nesta quinta, segundo os palestinos. As Forças de Defesa de Israel ( IDF) dizem ter matado e ficado com os corpos de ao menos mil terroristas. O Hamas não se pronunciou sobre a ação desta quinta.
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