SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A renomada advogada e defensora dos direitos humanos iraniana Nasrin Sotoudeh foi presa neste domingo (29) durante o enterro de Armita Garawand. A estudante de 17 anos morreu após ser abordada pela policial moral no metrô de Teerã, capital do Irã, em circunstâncias ainda não esclarecidas.

Sotoudeh teria sido "detida e entregue à autoridade judicial" por "não usar hijab", o véu islâmico, e por "perturbar a segurança mental da sociedade", segundo a agência de notícias local Fars. Desde a Revolução Islâmica de 1979, o uso do véu é obrigatório para as mulheres no país.

O marido de Sotoudeh, Reza Khandan, confirmou à agência de notícias AFP nesta segunda-feira (30) que sua mulher foi levada junto com outras pessoas do cemitério onde ocorria o velório, no sul de Teerã, e "agredida violentamente". Vencedora do Prêmio Sakharov do Parlamento Europeu para defensores dos direitos humanos em 2012, a advogada já foi presa várias vezes nos últimos anos por causa de seu ativismo.

Em 2011, por exemplo, Sotoudeh chegou a ser condenada a 11 anos de prisão e a 20 anos de proibição do exercício da advocacia como punição por suas "ações contra o regime iraniano". Na época, o Irã estava imerso em uma das piores crises políticas de sua história após centenas de milhares de pessoas saírem às ruas de todo o país para protestar contra a reeleição do então líder, Mahmoud Ahmadinejad.

Atualmente, o país atravessa outro período turbulento que acaba de ganhar novos contornos com a morte de Garawand, na madrugada de sábado (28), após um mês de internação. A adolescente foi hospitalizada e entrou em coma depois de ser abordada pela chamada polícia moral do país no dia 1º de outubro.

A IRNA, agência de notícias do regime, reforçou a versão oficial de que o coma foi causado porque a adolescente teria batido a cabeça após desmaiar por uma queda repentina de pressão arterial.

Grupos de direitos humanos, porém, afirmam que ela foi agredida por agentes do órgão responsável por aplicar o código de conduta iraniano e, como consequência, teve morte cerebral. Ela supostamente não usava o hijab. Imagens de câmeras de segurança mostram Garawand sendo retirada desacordada de um vagão de metrô de Teerã.

As imagens disponibilizadas pelo governo, porém, são limitadas e não revelam o que aconteceu dentro do vagão. Segundo o jornal The New York Times, Armita pode ser vista em um vídeo entrando no trem do metrô com amigos sem usar o lenço na cabeça. Depois disso, as imagens mostram seus amigos a retirando aparentemente desacordada em direção à plataforma.

Um veículo mencionado pelo jornal americano traz ainda outra versão. De acordo com Farzad Seifikaran, um jornalista da Zamaneh Media, site independente de notícias em língua persa sediado em Amsterdã, Armita e dois de seus amigos discutiam com policiais sobre o uso do hijab quando um deles empurrou a adolescente, fazendo com que ela batesse a cabeça ao cair.

O caso da jovem ocorre em meio à intensificação de repressões pela polícia moral iraniana após ondas de protestos desencadeadas pela morte de Masha Amini, também supostamente agredida pela polícia por uso considerado incorreto do véu islâmico. Na época, as manifestações tomaram o país e resultaram na detenção de ao menos 22 mil pessoas.

Em contraposição ao código, desde a morte de Masha mais mulheres têm aparecido sem o véu em locais públicos, o que levou as autoridades a instalar mais câmeras nas ruas para identificar quem desobedece o código de vestimenta.

A repressão contra essas mulheres tem aumentado. Em setembro deste ano, após um ano da morte de Masha, o Parlamento iraniano aprovou um texto que endurece a punição contra quem não usar a vestimenta, acusando mulheres que se negarem a cumpri-lo de estarem "promovendo nudez".


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