SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos homens condenados pela morte da jornalista russa Anna Politkovskaia, feroz crítica de Vladimir Putin, foi perdoado pelo presidente após passar seis meses lutando pela Rússia na Ucrânia.

O ex-policial de origem tchetchena Serguei Khadzjikurbanov havia sido condenado a 20 anos de cadeia em 2014 pelo assassinato da repórter, que havia sido baleada no elevador de seu apartamento em Moscou oito anos antes.

O crime segue até hoje como um dos mais vistosos, mas nem de longe o último, contra oposicionistas abertos de Putin, no poder há 24 anos. Ele ocorreu no mesmo dia em que o presidente completava 55 anos, 7 de outubro de 2006.

Politkovskaia, 48, trabalhava na equipe de jornalismo investigativo da Novaia Gazeta, jornal independente que teve de fechar as portas de sua operação na Rússia devido às leis de censura militar impostas após a invasão da Ucrânia, em 2022. Seu diretor, Dmitri Muratov, foi um dos ganhadores do Nobel da Paz do ano passado.

Ela era especialmente crítica dos métodos do Kremlin em outra guerra de outra época, o segundo conflito de Moscou com a república russa de maioria muçulmana da Tchetchênia, no Cáucaso, encerrado em 2000 com uma vitória brutal do Kremlin e a instalação de uma família que segue no poder até hoje no país.

"Como um soldado de forças no passado, [Khadjikurbanov] foi convidado a assinar um contrato para participar da operação militar especial. Quando o contrato expirou, ele foi perdoado por decreto presidencial", afirmou nesta terça (14) à agência France Presse seu advogado, Alexei Mikhaltchik, usando o eufemismo oficial russo para a guerra.

O tempo do contrato foi de seis meses, mas o advogado não especificou quando ele foi cumprido, e a serviço de quem. O notório grupo de mercenários Wagner era pródigo no uso de condenados russos em suas fileiras: 10 mil dos 16 mil homens que diz ter perdido na batalha de Bakhmut, vencida em maio, tenham saído de cadeias.

O Wagner acabou caindo em desgraça após o motim liderado pelo seu chefe, Ievguêni Prigojin, contra a cúpula militar russa em junho. Dois meses depois, o homem conhecido como "chef de Putin", pelos contratos alimentícios com o Kremlin, morreu quando uma explosão sem autoria atribuída derrubou seu avião perto de Moscou.

Khadjikurbanov foi 1 dos 5 tchetchenos condenados no caso de Politkovskaia, acusado de ser o organizador logístico do atentado. Ele havia pegado 20 anos de prisão. Rustam Makhmudov, apontado como o assassino, serve prisão perpétua, enquanto outros envolvidos foram sentenciados de 12 anos à vida na cadeia.

Nunca foi determinado, contudo, quem mandou matar a jornalista. Seus colegas apontam tanto para o Kremlin quanto para as autoridades em Grozni aliadas de Putin, desgostosas das reportagens sobre abusos contra direitos humanos que fizeram a fama do governo local. O Kremlin nega envolvimento.

Outros rivais de Putin encontraram mortes violentas ou, como no caso do ativista Alexei Navalni, prisão ao longo dos anos. Um dos episódios mais notórios foi o do político Boris Nemtsov, baleado ao andar numa ponte ao lado do Kremlin em 2015. Dois anos depois, um outro grupo de cinco tchetchenos acabou condenado pelo crime, igualmente sem mandante condenado.

A repressão política e a coerção da atividade jornalística independente na Rússia cresceram brutalmente após a introdução da censura devido à invasão da Ucrânia. Críticas à guerra de Putin podem ser punidas com até 15 anos de cadeia, e diversos repórteres foram detidos desde então.


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