SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um mês depois do atentado que deu início à guerra Israel-Hamas, a situação das cerca de 240 pessoas sequestradas nos ataques vive um impasse.
De um lado, Tel Aviv e a facção parecem ter concordado com os termos de um eventual acordo para a soltura dos reféns -70 mulheres e crianças capturadas em solo israelense em troca da libertação de 75 mulheres e 200 menores palestinos detidos em presídios israelenses, segundo áudio divulgado por um porta-voz das Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, na segunda-feira (13).
De outro, o mesmo acordo arrisca o tempo todo voltar à estaca zero. Na terça (14), a ameaça veio do Jihad Islâmico, segundo maior grupo armado palestino da Faixa de Gaza que, assim como outras facções menores, detêm alguns dos reféns. Em comunicado, seu líder, Ziad al-Nakhala, afirmou que o grupo está disposto a abandonar as negociações por não estar satisfeito com a sua metodologia. Pretende, no entanto, manter os sequestrados em seu poder "para uma ocasião mais adequada", nas palavras pouco claras de Nakhala.
Os principais atores envolvidos nas tratativas já haviam imposto outros obstáculos a elas nos dias anteriores, a ponto de o Hamas acusar o governo israelense de estar "procrastinando". No sábado, por exemplo, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, voltou a declarar que qualquer cessar-fogo em Gaza dependeria da soltura de todos os reféns. Depois, no domingo, o Hamas suspendeu as conversas em razão dos intensos bombardeios na área do maior hospital da faixa, o al-Shifa, na Cidade de Gaza.
Terroristas palestinos sequestraram cerca de 240 pessoas nos ataques de 7 de outubro, de acordo com as estimativas das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês). Os reféns têm entre nove meses e 85 anos e teriam sido escondidos na rede de túneis subterrâneos construída pelo Hamas sob Gaza.
O grupo inclui estrangeiros e portadores de dupla nacionalidade, entre eles nove cidadãos dos Estados Unidos e uma pessoa com visto permanente americano. Outras duas cidadãs dos EUA, mãe e filha, foram as primeiras a serem soltas pelo grupo terrorista, em 20 de outubro. Três dias depois, duas idosas israelenses foram libertadas, elevando o total de reféns liberados para quatro. Ambas as negociações contaram com mediação do Qatar.
Em encontro com a imprensa nesta terça, Jake Sullivan, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, admitiu que Washington tem informações limitadas acerca da localização dos reféns e das condições em que vivem. "Não posso dizer com certeza quantos estão vivos", disse.
Já o presidente Joe Biden foi mais otimista o ao falar a repórteres, dizendo acreditar que o acordo para soltura dos reféns sairá do papel em breve. Questionado sobre que mensagem gostaria de mandar para as famílias dos sequestrados, respondeu: "Fiquem firmes. Estamos chegando".
Pouco depois das declarações, a Casa Branca anunciou que Brett McGurk, principal assessor do governo para o Oriente Médio, viajará nos próximos dias à região para dialogar com autoridades de Israel, da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e de demais outras nações interessadas na questão.
No itinerário está prevista uma visita a Doha, capital do Qatar onde estão alguns dos principais líderes políticos do Hamas. O grupo é, além de uma facção armada, um partido político, e chegou a obter cargos nas eleições em 2006 antes de tomar o poder em Gaza à força, depois que a ANP não reconheceu os resultados das urnas.
Enquanto isso, em Israel, a pressão em torno da causa dos reféns só cresce. Depois de um fim de semana de protestos maciços em todo o país, familiares de pessoas sequestradas iniciaram uma marcha de cinco dias de Tel Aviv para a sede administrativa do país, em Jerusalém, urgindo que o governo amplie seus esforços para garantir a libertação de seus parentes. O ponto final do protesto é a residência de Netanyahu, localizada a aproximadamente 65 km do local de partida dos manifestantes.
Munida com cartazes com fotos de seus entes sequestrados, a multidão entoava "tragam-nos para casa agora" nesta terça, já a caminho de Jerusalém. "Exijo que Binyamin Netanyahu e seu gabinete nos deem respostas e ações", disse Shelly Shem Tov ao ser abordada pela agência de notícias Reuters. Seu filho Omer, 21, foi um dos que foram levados para a Faixa de Gaza cinco semanas atrás. "Estamos no escuro. Queremos respostas", fez coro Amit Zach, cuja tia, Adina Moshe, 72, também está nas mãos do Hamas.
A situação dos reféns acabou sendo ofuscada pela crise humanitária em Gaza, iniciada com o bloqueio de água e combustível para a região por Israel e agravada pelos bombardeios constantes do Exército israelense à área. Balanço mais atualizado de mortes do Ministério de Saúde local, controlado pelo Hamas, contabiliza 11.320 palestinos mortos desde o início dos enfrentamentos. Do lado israelense, houve 1.200 óbitos.
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